Presidente municipal do PSDB de São Paulo vê 'papel fundamental' para Serra na oposição, rechaça a ideia de 'refundação' do partido ancorada em novas lideranças
O candidato derrotado da oposição à Presidência, José
Serra, deve continuar a influir decisivamente nos rumos do PSDB, e a
renovação propagada por lideranças que emergiram mais fortes das urnas
dependerá menos da reacomodação destes quadros na hierarquia partidária
do que se imagina. A tese é do presidente municipal do PSDB de São
Paulo, José Henrique Reis Lobo, que vê "um papel fundamental" para Serra
na oposição, rechaça a ideia de "refundação" do partido ancorada em
novas lideranças e relativiza a ideia de que Aécio Neves é o candidato
natural para 2014.
"Francamente, eu não entendi bem, até agora, o que quer dizer
'refundação' do PSDB, porque ninguém ainda explicou devidamente",
afirmou Lobo. Com bom trânsito entre serristas e alckmistas, Lobo é
daquelas figuras dos bastidores que raramente dão entrevistas. Em
entrevista por e-mail ao estadão.com.br, ele deixa claro que os planos
de Aécio, de figurar como candidato de consenso da oposição à
Presidência em 2014, encontrarão forte resistência em São Paulo. "Se a
expressão for apenas um eufemismo usado pelos que querem a renovação das
lideranças do partido, pessoalmente tenho outra opinião", escreveu.
"Não acho que interesse ao PSDB e nem mesmo ao Brasil que se
aposentem figuras com a experiência e a competência, por exemplo, dos
ex-governadores José Serra e Tasso Jereissati e do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso", continuou. A referência aos três caciques
que detiveram a hegemonia do tucanato nos últimos anos é uma resposta a
setores que, logo após a confirmação da derrota de Serra, argumentaram
que o triunvirato passaria para a reserva, dando lugar a Aécio e aos
governadores eleitos de São Paulo, Geraldo Alckmin, e Paraná, Beto
Richa.
Ainda assim, Lobo procurou ressaltar a importância da convivência
entre as velhas lideranças e os novos quadros do partido, e citou, além
de Aécio, Alckmin e Richa, os nomes dos governadores eleitos Antonio
Anastásia e Marconi Perilo e do senador eleito Aloysio Nunes Ferreira.
"A refundação do partido se dará não pela substituição das atuais
lideranças, mas pela definição do tipo de oposição que pretendemos fazer
ao governo que vai se instalar", disse.
Embora não desminta os rumores de que Serra poderá se candidatar à
prefeitura da capital em 2012 - "credenciais lhe faltam" -, Lobo vê para
o tucano um destino diferente. "Serra é um nome de expressão nacional.
Poucos homens públicos no Brasil têm a bagagem intelectual e moral que
ele ostenta", escreveu, num sinal de que o ex-governador alçará, em
breve, voos mais altos. "Esse contexto vai impor um papel fundamental a
José Serra, que extrapolará o de candidato a prefeito de São Paulo."
Erros. Coordenador administrativo da campanha de
Serra, Lobo também fez um balanço do pleito. Para ele, a derrota do
tucano se deveu muito mais à utilização da máquina federal em prol de
Dilma Rousseff do que aos erros do PSDB. "A vitória da situação tem que
ser relativizada, porque mostra que, apesar de tudo, quase a metade da
população prefere o Brasil sob outra condução", acrescentou.
A seguir, a íntegra da entrevista:
Durante a campanha o PSDB acreditava, até o fim, que
ganhariam as eleições, ou houve um momento em que ficou claro que elas
estavam perdidas?
Quem disputa uma eleição nunca acha, de todo, que vai perdê-la. No
nosso caso, cerca de dez dias antes do segundo turno, nossa avaliação
era de que a situação estava muito complicada. Afinal, as pessoas
encarregadas de fazer a leitura das pesquisas diziam que a vitória seria
possível desde que ganhássemos a eleição em São Paulo com uma diferença
de três milhões e meio a quatro milhões de votos, empatássemos em Minas
Gerais e perdêssemos no Rio de Janeiro por, no máximo, quinhentos mil
votos. A constatação que fazíamos, no entanto, era de que não tínhamos
fôlego para isso. Mesmo assim, em nenhum momento desanimamos, porque,
baseados em experiências anteriores, sabíamos que, numa campanha, quando
menos se espera surge um fato novo, capaz de mudar radicalmente a sorte
das eleições.
Passadas as eleições, que avaliação o partido faz da campanha e dos erros que levaram à derrota?
As análises, até agora, têm sido individuais. Eu, particularmente,
acho que não houve erros que pudessem ser considerados fatais. Claro que
houve equívocos, como em toda a empreitada humana, mas, a meu ver,
nenhum deles pode ser considerado como determinante da derrota. Perdemos
porque as circunstâncias não nos ajudaram. Apesar das virtudes do
candidato da oposição, não foi fácil competir, como sabíamos desde o
início, com a outra candidatura, que tinha o apoio ostensivo do
Presidente da República, no auge da sua popularidade. Mesmo assim, se
considerarmos esse e outros fatores, como a falácia a que tem sido
submetido o povo brasileiro ao longo dos últimos oito anos, a vitória da
situação tem que ser relativizada, porque mostra que, apesar de tudo,
quase a metade da população prefere o Brasil sob outra condução.
Após a derrota de Serra, o ex-governador de Minas, Aécio
Neves, sugeriu que o PSDB precisará passar por uma "refundação". Qual
será o papel reservado ao partido nos próximos quatro anos?
Francamente, eu não entendi bem, até agora, o que quer dizer
"refundação" do PSDB porque ninguém ainda explicou devidamente. Se a
expressão for apenas um eufemismo usado pelos que querem a renovação das
lideranças do partido, pessoalmente tenho outra opinião, porque não
acho que interesse ao PSDB e nem mesmo ao Brasil que se aposentem
figuras com a experiência e a competência, por exemplo, dos
ex-governadores José Serra e Tasso Jereissati e do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso. Esses são, a meu ver, líderes
insubstituíveis, que, no entanto, podem e devem conviver com lideranças
que emergem das urnas, como os governadores Geraldo Alckmin, Antonio
Anastásia, Beto Richa, Marconi Perilo e os senadores eleitos Aécio Neves
e Aloysio Nunes Ferreira. Para mim, é o conjunto dessas e de outras
lideranças que darão a cara do PSDB nos próximos quatro anos e a
"refundação" do partido se dará não pela substituição das atuais
lideranças, mas pela definição do tipo de oposição que pretendemos fazer
ao governo que vai se instalar.
Qual é o futuro de Serra dentro do partido e quais são seus
horizontes políticos? Ele seria um bom candidato a prefeito de São Paulo
em 2012?
Credenciais para ser candidato não lhe faltam, evidentemente.
Entretanto, com a ressalva de que é absolutamente prematuro tratar das
eleições de 2012, tenho a impressão, nesse momento, de que é outro o
papel que lhe está reservado na vida pública nos próximos anos. Serra é
um nome de expressão nacional. Poucos homens públicos no Brasil têm a
bagagem intelectual e moral que ele ostenta, ao lado da experiência
acumulada na sua trajetória de político e de administrador. A oposição,
que a candidatura de Serra representou, vai ter que estar vigilante.
Para cumprirmos o papel que a sociedade nos atribuiu, penso que vamos
ter também que estar atuantes, confrontando sempre os projetos e as
políticas do futuro governo com os que temos para o País e com os quais
nos apresentamos para a nação brasileira. Se for isso mesmo, esse
contexto vai impor um papel fundamental a José Serra, que extrapolará o
de candidato a Prefeito de São Paulo.
Com a vitória de Alckmin, como está relação entre as alas
serristas e alckmistas dentro do PSDB após as eleições? Como elas se
comportarão com vistas à construção da candidatura a prefeito da capital
em 2012?
Nada faz supor, a meu ver, que haja no horizonte qualquer sinal de
estranhamento entre os que, dentro do partido, são mais chegados a Serra
e os que são mais próximos de Alckmin. Eu diria que os interesses são
convergentes e que a eleição passada serviu para aproximar ainda mais os
dois, pela conduta absolutamente irrepreensível de cada um com relação a
candidatura do outro. O pressuposto é que uma candidatura se constrói
em nome do interesse da sociedade, que o partido político acha que pode
representar. E dentro do partido há nomes, que no seu devido tempo serão
analisados, com base em diversos critérios, para que se saiba qual está
melhor habilitado para se apresentar como candidato.
Caso Gilberto Kassab deixe mesmo o DEM para ingressar no PMDB
ou outro partido político, o que muda na relação do PSDB com o
prefeito?
É muito difícil falar sobre hipóteses e, no caso, são duas as que
estão colocadas. A primeira é a do prefeito sair do DEM e ingressar em
outro partido político. A segunda é a do que acontecerá com relação aos
tucanos se isso se confirmar. Para falar a verdade, se o fato ocorrer,
as variáveis seriam tantas e teriam ainda que ser combinadas com tantas
outras que nem o matemático Oswald de Souza seria capaz, nessa altura,
de responder a essa questão. No momento, o que importa é deixar claro
que o DEM e suas principais lideranças nacionais, entre as quais o
prefeito Gilberto Kassab, foram parceiros do PSDB na última campanha e
revelaram uma lealdade exemplar às candidaturas de Geraldo Alckmin e de
José Serra. Figuras como Jorge Borhausen, Rodrigo Maia, Guilherme Afif
Domingos e Índio da Costa, entre tantos outros, foram expoentes das
campanhas do PSDB. Eu acompanhei tudo isso muito de perto e acho
importante que se faça esse reconhecimento.
O nome do Sr. tem sido cotado para o cargo de Secretário de
Cultura no governo de Geraldo Alckmin. Houve algum convite nesse
sentido?
Não vejo o governador eleito desde as eleições. Acho que a sociedade
vai estar de olho no governo dele desde o primeiro dia. E o PSDB mais
ainda, porque sabe que ele terá que fazer uma gestão no mínimo excelente
para que o partido chegue forte nas eleições de 2012 e de 2014,
minimizando um certo sentimento de exaustão que pode estar presente
naqueles pleitos. Meus votos são de que ele seja feliz na montagem da
equipe que vai ajudá-lo a governar.
A eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República deixa
claro que o eleitor brasileiro está pronto para votar em mulheres para
os cargos mais importantes. Como o Sr. vê a ascensão feminina na
política e como o PSDB pretende contribuir para dar mais espaço às
mulheres na administração pública?
A ascensão das mulheres na política brasileira tem se dado
progressivamente, como, de resto,em todo o mundo ocidental, e é um fato
extremamente auspicioso, fruto de uma história de luta para que não haja
discriminação, sob qualquer aspecto, em função de gênero. No Brasil, os
governos do PSDB têm dado uma contribuição extremamente importante para
isso, bastando considerar, por exemplo, que, em São Paulo, na gestão do
Governador José Serra, quatro das mais importantes Secretarias de
Estado foram a elas conferidas, cabendo, a propósito, destacar o
trabalho de Maria Helena Guimarães, na Educação, Linamara Batistella, na
Pasta dos Portadores de Deficiências, Dilma Pena, na área de Saneamento
e Energia, e Rita Passos, na Assistência Social, sem contar o
formidável desempenho de Rosemarie Corrêa à frente do Coselho da
Condição Feminina, vinculado à Secretaria de Relações Institucionais,
que tive a honra de exercer. Antes delas, Rose Neubauer e Guiomar Namo
de Mello já eram expoentes, entre outras, do Governo Mário Covas. Na
campanha de Serra, a Senadora Marisa Serrano teve papel de relevo,
participando da coordenação política e sendo a responsável pela agenda
de compromissos do candidato. Nos Estados sob o comando do partido, com
certeza elas continuarão sendo chamadas para o exercício de funções
relevantes, haja vista a permanência no Governo de São Paulo da Dra.
Linamara Batistella, primeiro nome anunciado por Geraldo Alckmin para
compor o seu Secretariado.
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