Presidente do partido diz que 'não se pode reclamar das cúpulas se falta base partidária' e propõe filiados 'vivos e ativos'
Após amargar a terceira derrota consecutiva na disputa
presidencial, o PSDB avalia agora que o partido precisa de uma base de
filiados "real", "de verdade". "O PSDB precisa ter filiados vivos,
ativos, participantes", diz o presidente da legenda, Sérgio Guerra. Com a
tarefa de equilibrar o partido perante os anseios do PSDB mineiro, de
Aécio Neves, e do paulista, de José Serra e Geraldo Alckmin, Guerra
afirma que, sem um quadro "seguro" de filiados, o partido nem sequer
pode pensar em prévias partidárias para as eleições presidenciais de
2014.
"Falar de prévias sem filiados é conversa fiada", completa.
Cauteloso para não alimentar mais polêmica interna, o senador evita
falar sobre a sucessão. "É uma completa dor de barriga, uma cólica
desnecessária começar a discutir como será 2014", desconversa. Guerra
despista ao falar sobre seu futuro na presidência da sigla em 2011 - a
tendência é que continue na direção do partido.
O sr. anunciou reestruturação no PSDB. Como será?
A primeira coisa é encontrar canais de comunicação com os setores que
votaram em nós. E nesse aspecto a capacidade do PSDB é mínima. Isso
pressupõe atualização do programa, no qual se confirme sua história e
que tenha capacidade de lançar novas propostas para que a diferenciação
entre o que somos e o que é o PT fique evidente e para que se tenha a
confirmação de uma identidade firme, sem vacilação. Uma reestruturação
organizacional pressupõe a confirmação do partido em todos os municípios
e, de maneira especial, onde se mostrou fraco.
Na eleição, o PSDB pagou por ser um partido sem militância?
Não há possibilidade de falar em democracia no partido sem que o
partido tenha filiados de verdade. Tudo é sofisma. Se não tem quadro de
filiados vivo, seguro, ativo, não pode pensar em prévias nem em
democracia. Nem pode reclamar das cúpulas, porque falta base para elas. O
PSDB ainda é um partido com lideranças fortes, mas sem organização
partidária. Isso pressupõe quadro de filiados real, vivo. Falar de
prévias sem filiados é conversa fiada.
Por que esse trabalho não foi feito para a eleição de 2010?
Na eleição de 2006 para 2010, o partido avançou. Não houve nessa
campanha, em nenhum momento, explicitação de crise interna. Ela se deu
com divisões controladas. Houve muito mais solidariedade na campanha de
Serra do que na de Geraldo, no sentido de participação, especialmente
nas áreas de dificuldade, como no Nordeste.
Qual o papel que Serra terá?
Terá um papel ativo. Essa semana estive com ele, e ele manifestou
opinião sobre várias coisas que estão acontecendo na vida política
brasileira, como a conduta de um padrão oposicionista, qual deve ser o
foco, quais previsões para a economia.
A oposição será mais ativa?
Se a gente hoje tem dificuldade numérica no Congresso, é maior a
exigência de sermos mais efetivos. Não podemos ficar como às vezes
acontece. A gente estabelece um contencioso, e os caras dizem: "Mas
vocês também têm parte nisso". Não devemos deixar que essa frase
prospere.
É um mea culpa pela oposição feita nos últimos anos?
A oposição foi diminuída pela redução do Congresso. Lula fez uso
desproporcional da propaganda e da manifestação do presidente. Não houve
oposição? É uma grande mentira, uma superficialidade. Lula disse que a
gente fez oposição radical, violenta, sanguinária, lembra?
Enquanto governador, Serra evitou discurso de oposição.
Enquanto governador, Serra evitou discurso de oposição.
Governadores não devem e não vão liderar oposição. Eles têm
prioridade na ação governamental, que passa pela relação com a
burocracia federal.
O sr. fica na presidência?
Vou cumprir meu papel até quando estiver na presidência. Depois,
outra pessoa terá capacidade de fazer. Ainda vou ter uma conversa com
amigos sobre esse assunto.
O próximo presidente do partido terá de unir e arbitrar anseios do PSDB mineiro e paulista?
Fizemos agora uma reunião da Executiva. Ninguém falou sobre
candidatos à Presidência. Não vamos desenvolver essa agenda agora. O
problema não é unir. Convivi com eles na direção de forma harmoniosa. O
problema é fazer os eleitorados adotarem o mesmo caminho.
Aécio tem interesse nessa agenda. Agora é a vez dele?
A questão de Aécio, ou de qualquer companheiro, é legítima. O próprio
Aécio deseja ajudar na reestruturação do partido. Serra está me dizendo
que vai se inserir no esforço até para organizar as campanhas
municipais. Não tem nesse momento isso. É uma completa dor de barriga,
uma cólica desnecessária começar a discutir como será 2014, se nós,
anteontem, saímos de 2010.
FHC falou que o partido demorou a lançar candidato neste ano.Tudo bem, nesse caso está falando para trás, não para frente.
Como vê o movimento para lançar Aécio presidente do Senado?Não é isso
que Aécio me diz. Ele me disse que vai desempenhar papel de senador na
sua plenitude. Pelo menos agora.
Serra continua presidenciável?
Não posso dar opinião sobre isso. Vou falar o contrário do que estou dizendo. Não é hora de falar de cotados ou de cotações.
O PSDB perde com a ida do prefeito Kassab para o PMDB?
Ele respirou a mesma atmosfera que nós nos últimos anos. Acredito que continue nela.
No PMDB, Kassab flertaria com o governo federal.
Sobre esse assunto, não vou comentar. Tenho conversado com o DEM, não com ele.
Fonte: Julia Duailibi - O Estado de S.Paulo
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