A situação por que passa a cidade do Rio de Janeiro,
alvo de ataques terroristas do tráfico de drogas, já aconteceu outras
vezes e aconteceu também em São Paulo há poucos anos.
Mas, desta vez, no Rio há algo de diferente no ambiente: nunca se viu
tanta mobilização de recursos, tanta motivação por parte do aparelho de
Estado, tanta confiança num desfecho positivo, tanta torcida no
restante do País e tanto apoio da população e da imprensa ao trabalho da
polícia.
Agora é a guerra instalada mesmo. Até então o que havia eram ações
episódicas, com o Estado sendo derrotado permanentemente e, com isso, a
crescente ameaça à segurança e à soberania nacionais.
O que mudou? Há o esgotamento geral com essa questão, mas há um dado
novo: a maneira como as pessoas enxergam o poder público. Ou melhor, a
forma como o poder público se mostrou à população nos últimos dois anos
no que concerne ao trato da segurança pública na cidade brasileira onde o
problema é mais agudo e mais difícil de ser enfrentado.
Pela primeira vez em 40 anos de um processo de ocupação gradativa de
territórios pelo tráfico de drogas e de compadrio as autoridades e do
sistema político, o governo do Estado resolveu agir com firmeza,
começando pelo que estava ao seu alcance: a retomada paulatina desses
territórios com o plano das Unidades de Polícia Pacificadora e o combate
às milícias.
Para isso foi essencial a escolha de um profissional sério e que se
fez respeitado junto à sociedade, o secretário de Segurança Pública,
José Mariano Beltrame, e, claro, uma relação de cooperação e confiança
entre os governos estadual e federal.
Isso resolve? Não, mas contribui sobremaneira o fato de não se ter um
comando comprometido com o crime (o ex-chefe da Polícia Civil Álvaro
Lins está preso); de governos estadual e federal não perderem tempo com
aquelas brigas que a todos enoja; a união (na prática) das Polícias
Civil e Militar. Junto a isso, a existência de política de segurança, de
ações de inteligência e de estratégia para reação.
Contribui também a concentração de traficantes em regiões ainda não
ocupadas pelas UPPs, justamente porque foram expulsos daquelas áreas que
já somam duas dezenas nas zonas sul, norte e oeste do Rio.
As unidades não foram concebidas para eliminar o tráfico de drogas. A
ideia foi estabelecer como prioridade libertar as pessoas residentes
dos territórios controlados do domínio do tráfico. Hoje são 150 mil os
moradores beneficiados, mas o plano até 2014 é instalar 40 UPPs para
alcançar 500 mil pessoas.
"Meu objetivo é tirar a arma pesada da mão do bandido que escraviza
comunidades. Enquanto houver doentes haverá drogas. O que não é
admissível é um sujeito com arma na mão determinar aonde uma pessoa vai
ou deixa de ir", disse ele em entrevista há seis meses.
Nessa conversa, Beltrame explicou que o Rio é o lugar mais complexo
em termos de criminalidade. "Aqui a polícia trabalha contra o crime na
rua, contra três facções criminosas e ainda trabalha contra as milícias.
Nos outros Estados não há essa diversidade".
O plano dele é ir tirando as condições de o tráfico trabalhar por
causa da perda dos territórios. Na época, falava em "uma segunda etapa"
que seria o cerco aos marginais abrigados em outros locais não ocupados
pela polícia.
"Ou vamos prendê-los, ou vão fugir ou podem perder a vida num confronto", dizia.
Sobre tentativas de contra-ataques assegurava ter homens suficientes
para pôr os bandidos "para correr". E por "correr" aí entenda-se até o
extremo. "A polícia não quer matar, mas o Estado precisa se colocar
porque para o bandido não existe Constituição, vale a lei deles e é
contra isso que o País precisa se posicionar, entendendo que o Estado
tem o monopólio da força".
Como se resolve o problema? "Com o envolvimento efetivo da União, dos
Estados e municípios, de todos. Sem discussões sobre episódios, mas com
uma ideologia de segurança, de muito investimento em estrutura,
tecnologia, treinamento e principalmente capacidade de decisão".
Quer dizer, algo se moveu no Rio, mas a solução está longe de ser alcançada.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Comentários
Postar um comentário