Xico Graziano e o caminho para a agricultura sustentável


Num bate-papo muito simpático com Matthew Shirts, redator-chefe da revista National Geographic, hoje pela manhã, na sede da Editora Abril, o conselheiro do Planeta Sustentável e ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Xico Graziano, destacou que o Brasil tem potencial para se tornar líder na agricultura e que deve valorizar a função ambiental de seus ecossistemas.
"A manutenção da biodiversidade é uma vantagem para o Brasil", afirmou ao lembrar que 60,7% do território brasileiro ainda está ocupado por florestas nativas e que, apenas no estado de São Paulo, a floresta original cresce há 15 anos. "Houve recuperação da biodiversidade nessas áreas", destacou, complementando: "Sou ruralista e ambientalista e acredito que essas duas agendas são compatíveis.  É preciso transformar o agricultor em ambientalista, para que ele produza de forma sustentável". Xico ressaltou que uma forma de estimular o pequeno agricultor a se envolver com a conservação é pagar por serviços ambientais. Assim, ao preservar a fonte de um rio, por exemplo, o proprietário da Terra recebe dinheiro do governo.
Claro que o novo Código Florestal, proposto pelo deputado federal Aldo Rebelo, não podia faltar neste encontro e quem levantou o tema foi Matthew Shirts, lembrando que Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente, sugeriu, recentemente, que se comece do zero. O entrevistado salientou que o tema é, realmente, complexo, mas não concorda com essa ideia. "Não precisamos começar do zero, mas votar no documento do Aldo eu não recomendo. Ele concede anistia a proprietários de áreas desmatadas, só que, quem desmatou depois de 2001 - quando as medidas provisórias alteraram o Código Florestal -, não pode dizer que não sabia de nada. Portanto, cometeu um crime e não pode ficar impune. Quem desmatou tem que ser preso!".
Para ele, outra questão complicada desse documento se refere ao tamanho sugerido para preservação florestal. "A ideia de que é necessária uma reserva de 20% de mata cria um problema para pequenos proprietários que herdaram lotes de terra onde não há florestas". E destacou outra medida proposta por Aldo, referente a redução das Áreas de Proteção Permanente das margens dos rios de 30m para 15m. "É um absurdo! Eu defendo que o Código fique do jeito que está e que o espaço seja mantido em 30m, mas os estados deveriam ter autonomia para legislar de acordo com seus planejamentos. Mais importante do que o tamanho da área é a função ambiental dos ecossistemas", frisou o especialista. Um exemplo de projeto que leva em conta a função ambiental da propriedade é o dos Corredores Ecológicos, que são faixas de conservação entre áreas desmatadas. "O Projeto Biota da FAPESP identifica as áreas adequadas para a implantação dos corredores ecológicos. E é possível recuperar o Cerrado com esse critério, que é muito mais moderno.", exemplificou.
O coordenador do Planeta provocou novamente Xico Graziano com mais um tema polêmico: os transgênicos. Seu desenvolvimento coloca em risco a biodiversidade? Ele respondeu: "Não há nenhuma ameaça para a biodiversidade. Uma década de sua utilização e o desenvolvimento de tecnologias mostrou que o temor pelos transgênicos era infundado. Não foram os transgênicos que criaram a resistência de plantas, por exemplo. Uma lavoura transgênica resiste mais sem herbicidas, ou seja, é necessário muito menos veneno para que ela se desenvolva".
Um conceito que, na opinião de Xico, também deve ser reavaliado diz respeito ao que é exótico. "Áreas desmatadas podem ser recuperadas com espécies exóticas, sim! Os ambientalistas ficam arrepiados ao me ouvir falar, eu sei, mas foi nos anos 80 que esse conceito se polarizou. Abacate é uma espécie exótica e você pode plantar na beira do brejo. Quer ver outras? Café, feijão, laranja... são todas espécies exóticas. Há muitas e boa parte tem uma função ambiental muito relevante".
Outro mito da agricultura levantado por nosso entrevistado, durante o encontro, se refere aos orgânicos. "Todo mundo tem a ideia de que o produto orgânico é sempre bom, mas não há garantia porque ele pode ser produzido em condições desfavoráveis e anti-higiênicas e, em geral, são mais contaminados. Por outro lado, confundimos os orgânicos com má agricultura, aquela que não precisa de cuidados. Dizem que hidroponia é orgânica, mas é anti-orgânica porque é o suprasumo do químico!. Não podemos confundir e temos que parar de rotular!. O que precisamos é fazer boa agricultura, independente de ser convencional ou orgânica", sentenciou.
Matthew discorreu, em seguida, sobre o protagonismo do Brasil na preservação da biodiversidade - possuímos 25% da biodiversidade do planeta e vamos liderar as discussões na próxima Conferência Internacional em Nagoya (leia o hotsite especial Biodiversidade e a Nova Economia). "Por tudo isso, somos considerados pelo mundo como a salvação verde. A agricultura ameaça essa condição?". Para Xico, "fazendo bem feito, o Brasil pode expandir a agropecuária sem prejudicar seu potencial ambiental e há muitas fronteiras a serem exploradas, por isso, podemos, sim, liderar. Em 50 anos o país deve ter 300 milhões de hectares ocupados com lavoura e pecuária e, ao mesmo tempo em que crescer, não comprometerá sua biodiversidade. Vamos ser uma potência ambiental e da agricultura, tenho certeza. As agendas do ruralismo e do ambientalismo são compatíveis. Esse é o caminho para uma agricultura sustentável. Sou otimista".

Por Marina Franco/Planeta Sustentável - National Geographic

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