Com viagens já marcadas para sete Estados, mineiro entra firme na campanha e diz que ela ‘será dura, até o final’
Estrategista político central da campanha do segundo turno de José Serra
(PSDB) à Presidência, o senador Aécio Neves afirma que subestimam a
inteligência tucana aqueles que acham que por trás de seu real empenho
na causa está o compromisso de que os paulistas não serão novamente
obstáculo para as pretensões mineiras em 2014.
Para o ex-governador mineiro, Serra tem possibilidade real de vencer,
sobretudo porque, no segundo turno, incorporou a tese de que representa
um projeto político coletivo. Aécio começa inclusive a traçar uma
missão para o Senado caso Serra vença: ajudá-lo a formar uma maioria no
Congresso.
"É importante o Serra agora mostrar ao Brasil que ele é um time
político", disse Aécio ao Estado numa conversa telefônica, após ter
organizado, na capital mineira, um ato de adesão de aproximadamente 400
prefeitos à candidatura de Serra. Em sua visão, essa é a aposta feita
pelas principais lideranças do PSDB que saíram vitoriosas nas urnas no
primeiro turno e agora estão engajadas na campanha de Serra. "Vamos
mostrar que ele não vai governar sozinho."
A pedido do próprio Serra, Aécio vai viajar pelo País. Já tem viagens
escaladas para pelo menos sete Estados. Além disso, gravou na
sexta-feira novas participações para os programas eleitorais gratuitos.
A vitória de Antonio Anastasia em Minas Gerais, afirma, é outro fator
que explica a mudança de ares e o engajamento de prefeitos e lideranças
locais na campanha de Serra. "A partir do momento em que o nosso grupo
político ganha, há uma tendência natural de engajamento maior dos que já
estavam do nosso lado e de uma busca de aproximação de alguns que
tinham de colocar um pé em cada canoa." O otimismo, porém, não desobriga
o experiente político de uma avaliação realista: "Ninguém também pode
achar que virou a eleição. Não. Vai ser uma eleição dura até o final.
Mas o momento é positivo para nós."
O clima da campanha em Minas para José Serra está diferente do que era no primeiro turno. O que explica essa mudança?
Acho que são duas coisas distintas. Primeiro, existe uma movimentação
silenciosa, que independe de lideranças e dos partidos. Acho que há uma
certa desilusão e um desencanto com o PT, com a Dilma. Foram esses
votos que migraram para a Marina, não migraram diretamente para o Serra.
Podem, agora, de forma majoritária, ir para ele. É um movimento que eu
não sei quantificar, mas que existe. Da nossa parte, aqui tivemos uma
coisa muito aberta, cristalina. A nossa base, que apoiou o (Antonio)
Anastasia (governador reeleito do PSDB), é composta pelos partidos do
núcleo do nosso governo - PSDB, DEM, PPS, PTB, que estão com Serra desde
o início. Mas tínhamos também uma base mais ampla, com PR, PSB e PDT.
Eles estavam coligados formalmente com a Dilma. Isso que foi o início do
"dilmasia", que não é um negócio escondido não. Porque não é, por
exemplo, uma defecção do PSDB para a Dilma. Nunca houve isso. Eram
partidos que apoiavam a Dilma e o Anastasia. E eu não ia dispensar o
apoio desses partidos numa eleição tão difícil como a que tivemos em
Minas. Agora, eleito o governador, a relação dos prefeitos com o
governador é mais direta do que com o presidente da República. A partir
do momento em que o nosso grupo ganha, da forma que ganhou, há uma
tendência de engajamento maior dos que já estavam do nosso lado e de uma
busca de aproximação de alguns que estavam mais distantes, e que tinham
de colocar um pé em cada canoa. Essas duas coisas se complementam: um
sentimento geral e difuso na sociedade, que passa por valores, e uma
aproximação com o governo eleito. Isso serve para Minas e pode servir
para São Paulo, Paraná. E agora é uma eleição sem a poluição de seis,
sete eleições. É só Serra.
O sr. terá uma missão extra-Minas neste segundo turno. Sua atuação não ficará restrita ao Estado, é maior que isso.
Tive, na quinta-feira, uma longa conversa com o Serra. Acertamos
alguns eventos. Terei uma agenda com ele. Vou a outros lugares a pedido
dele. Estou indo para Goiás e Pará na quinta que vem, e na sexta ao
Piauí e Alagoas. Ainda devo ir à Bahia. E vou a alguns eventos que o
Serra achar importante, com ele. É importante o Serra, agora, mostrar ao
Brasil que ele é um time político, que representa um grupo que tem
credibilidade nos Estados, que tem trabalhos desenvolvidos e aprovados. É
importante para os indecisos que ainda existem, e os que votaram em
Marina, que percebam que votar no Serra é mais do que votar no Serra - é
votar em um projeto que é o do Beto (Richa, eleito governador do
Paraná), do Geraldo (Alckmin, eleito governador de São Paulo), do nosso
em Minas, do Marconi (Perillo, que disputa o segundo turno em Goiás).
Vamos mostrar que o Serra não vai governar sozinho. É um esforço que
vamos ter daqui por diante, até o final da campanha. Essa exposição de
falar em nome dele e mostrar que vai ser um governo solidário e de
muitas cabeças.
O candidato está mais aberto no segundo turno?
Bastante. Ele está demonstrando, e eu tenho acreditado nisso,
disposição de compartilhar esforços e ideias, fazer um governo aberto.
Essa era uma preocupação que alguns tinham lá atrás, saber como seria.
Acho que ele vê um bom momento. Serra não está eufórico, mas está muito
otimista. Fiz também novas gravações para o programa de TV dele. Está
havendo uma movimentação natural e um engajamento maior de lideranças
municipais do lado que ganhou (nos Estados). No caso de Minas acho que
isso explica a euforia que você constatou.
Circulam especulações de que o seu empenho na campanha se
deveria a um compromisso de Serra de que, se eleito, não disputaria em
2014.
Isso não faz jus nem à inteligência dele e nem à minha. Ele, de fazer
(o compromisso) e eu, de acreditar que isso seja possível. Não é isso
que está em jogo. Claro que queremos participar de um projeto para o
Brasil, de um projeto novo, que compreenda as diferenças regionais. Isso
me basta. Eu estou muito feliz com o papel que tenho feito. Não tenho
essa obsessão de apoiá-lo para ele me apoiar. Nisso eu sigo a cartilha
do doutor Tancredo (Neves) que dizia que Presidência da República é
muito mais destino do que projeto. Quem construir algo assim, em etapas,
acaba chegando a lugar nenhum. Eu vou querer ajudá-lo (Serra) a
construir, no Congresso, uma maioria para que ela possa governar com
tranquilidade. Ele vencendo as eleições, esse é o papel que eu vou
executar. E é o papel que me agrada.
E é Minas que pode garantir a Serra a vitória no segundo turno, considerando o cenário atual?
Isso é uma visão que a imprensa e os analistas têm. O voto de Minas
vale igual ao voto de Goiás, ao do Rio Grande do Sul. Precisamos, para
ganhar, avançar a diferença em São Paulo, equilibrar e talvez vencer em
Minas. O que eu vou fazer é um esforço enorme para que possamos virar o
jogo no meu Estado. Agora, a vitória vai se dar pela soma de votos no
Brasil inteiro. Minas chama a atenção porque aqui é a síntese do Brasil.
Temos um Nordeste dentro do Estado, um Sul próspero, um Triângulo
Mineiro tão rico quanto São Paulo. Vamos suar a camisa aqui para tentar
dar a ele uma chance de vitória.
Mas, por sua experiência política, há hoje possibilidade real de vitória de Serra?
Acho que sim. Eu sou muito pé no chão. Ninguém também pode achar que
virou a eleição. Não. Vai ser uma eleição dura até o final. Mas o
momento é positivo para nós. Essa coisa dos prefeitos eu acho que era um
vazio que existia, na relação com os municípios. Falo muito em pacto
federativo, na reorganização dos Estados e municípios. A refundação da
federação é outra tese que eu quero defender no Congresso com muito
vigor. Temos que reorganizar os municípios e os Estados. O Lula, na
verdade, ultrapassou os municípios, tem uma relação direta com a
sociedade via Bolsa-Família, via os discursos dele. A orfandade dos
municípios brasileiros pede uma parceria maior com o governo federal,
uma parceria que não seja partidária, que não seja só com aliados. Esse é
um discurso que vocês verão o Serra incorporando com mais força aí para
a frente na campanha eleitoral.
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