Andre Dusek/AE
Tiroteio. Atingida por denúncias contra seus filhos, Erenice Guerra deixa a Casa Civil e vira problema na campanha de Dilma
Erenice será a primeira a ser ouvida. Terá de explicar, em inquérito
comandado pelo delegado Roberval Ricalvi, se tinha conhecimento das
irregularidades praticadas por seus filhos Israel e Saulo Guerra, na
intermediação de negócios entre empresas privadas e estatais - escândalo
que atingiu fortemente a campanha da candidata petista e levou a
ministra a perder o cargo no dia 16 de setembro.
Ribeiro Jr. será inquirido em seguida por outro delegado, Hugo
Uruguai, sobre a violação do sigilo fiscal de vários dirigentes do PSDB,
entre eles o vice-presidente executivo do partido, Eduardo Jorge, e
Verônica Serra, filha do candidato tucano José Serra. O jornalista é
suspeito de ter encomendado e pago, a terceiros, a invasão desses
sigilos em computadores da Receita Federal em Mauá e Santo André, no ABC
paulista.
Os depoimentos se seguem, também, a denúncias divulgadas no final de
semana, pela revista Veja, de que altas figuras do Planalto fariam
pressão, em áreas do Ministério da Justiça, para que fossem produzidos
dossiês contra adversários políticos do governo.
Erenice. À ex-ministra da Casa Civil, o delegado Ricalvi deverá pedir
informações sobre como as ações de seu filho Israel Guerra poderiam
ocorrer, tão próximas dela, sem seu conhecimento. Divulgado no início de
setembro, o envolvimento de Israel incluía a cobrança por sua empresa, a
Capital Assessoria e Consultoria, de uma "taxa de sucesso" para atender
a empresas interessadas em contratos públicos. Um deles, denunciado
pelo empresário Fábio Bacarat, já ouvido pela PF, rendeu ao filho de
Erenice pagamentos mensais de R$ 25 mil. Em outro, ele teria ganho R$ 5
milhões para ajudar a empresa aérea MTA a obter contratos e encomendas
dos Correios.
Desde seu início, o episódio marcou a campanha de Dilma, que chegou
até a levar reprimendas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por
estar sendo muito boazinha com a ex-ministra. Depois de dizer-se
solidária com ela, e exigir provas, acabou afirmando que "as pessoas
erram e Erenice errou". Ao Jornal Nacional, da TV Globo, ela afirmou em
entrevista na semana passada, em sua defesa, que "ninguém controla um
governo inteiro".
Quanto a Erenice, por enquanto sofreu uma multa do Tribunal Superior
Eleitoral por ter usado o site da Presidência para se defender e
ironizar José Serra por uma candidatura "aética e já derrotada". Foi
punida também pela Comissão de Ética da Presidência, por não ter
informado, ao assumir a Casa Civil, os parentes que tinha empregados no
serviço público.
Indiciamento. O jornalista Amaury Ribeiro Jr., que já prestou três
depoimentos até agora sobre a quebra de sigilo dos tucanos, vive
situação mais delicada: poderá sair do depoimento indiciado por
corrupção ativa e violação de sigilo. A PF diz ter provas de que ele
pagou R$ 12 mil ao despachante Dirceu Garcia, de São Paulo, em outubro
de 2009, para obtenção ilegal dos dados. Os policiais investigam também
se foi Amaury Ribeiro Jr. quem pagou recentemente R$ 5 mil como "cala
boca" para que o despachante silenciasse sobre o episódio.
A PF abriu esse inquérito no final de junho, após ser divulgado que o
comitê de Dilma produzia dossiês contra tucanos e familiares de Serra.
Mas nem o jornalista nem seu advogado confirmaram presença. Se não
forem, porém, tratando-se de segunda convocação, a PF pode recorrer ao
recurso da condução coercitiva.
Os dados contra os dirigentes tucanos comprados pelo jornalista
acabaram em poder da pré-campanha de Dilma, que foi acusada de
encomendar dossiês contra Serra. A PF obteve a quebra de sigilo dos
envolvidos e faz cruzamento de dados para confirmar de onde saiu o
dinheiro.
Em nota, o jornalista negou as acusações e afirmou que "jamais
pagaria pela obtenção de dados fiscais sigilosos de qualquer cidadão".
No último depoimento, em 15 de outubro, ele revelou ao delegado Hugo
Uruguai que recebeu a missão de investigar dirigentes tucanos do jornal
onde trabalhava, o Estado de Minas, para proteger o governador mineiro,
Aécio Neves, de espionagem ilegal que estaria sendo feita pelo deputado
federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), a serviço de Serra.
Ele sustenta que deixou o jornal no final de 2009, mas deixou um
relatório completo da apuração, levando uma cópia consigo - e uma
"equipe de inteligência" do PT invadiu clandestinamente o apartamento,
que ele ocupava, e copiou os dados.
PONTOS SENSÍVEIS
Caso Erenice
Os filhos da ex-ministra Erenice Guerra, Israel (foto) e Saulo, sucessora de Dilma, são acusados de operacionalizar um esquema de tráfico de influência na Casa Civil
Os filhos da ex-ministra Erenice Guerra, Israel (foto) e Saulo, sucessora de Dilma, são acusados de operacionalizar um esquema de tráfico de influência na Casa Civil
Reincidente
Erenice já figurou em outros escândalos. O mais recente foi no ano passado, quando apareceu como pivô do encontro entre Lina Vieira e a então ministra Dilma Rousseff
Erenice já figurou em outros escândalos. O mais recente foi no ano passado, quando apareceu como pivô do encontro entre Lina Vieira e a então ministra Dilma Rousseff
Caso Amaury
Em 2009, seis pessoas ligadas ao PSDB e ao candidato José Serra tiveram seus sigilos fiscais quebrados. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. (foto) é apontado como mandante
Em 2009, seis pessoas ligadas ao PSDB e ao candidato José Serra tiveram seus sigilos fiscais quebrados. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. (foto) é apontado como mandante
Ligação com PT
Na semana passada, em depoimento à Polícia Federal, o jornalista acusou o petista Rui Falcão de furtar de seu computador o dossiê com dados fiscais violados em 2009
Na semana passada, em depoimento à Polícia Federal, o jornalista acusou o petista Rui Falcão de furtar de seu computador o dossiê com dados fiscais violados em 2009
Fonte: Vannildo Mendes - O Estado de S.Paulo
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