
Lula sabia do que estava falando: da disposição de usar e abusar de todos os métodos - quase infinitos - à disposição de um presidente da República para cavar o êxito que o levaria a bater recordes históricos de transferência de votos e a lograr espaço de honra no panteão dos presidentes eleitoralmente mais bem-sucedidos do Brasil.
Para isso decretou que sua prioridade absoluta no último ano de mandato seria eleger Dilma Rousseff. Paralisou o governo, mobilizou toda a administração na perseguição dessa meta, rasgou a Constituição, violou todas as regras da boa conduta, atacou violentamente a todos que enxergou como adversários.
Tão violentamente que governadores aliados ao governo e eleitos no primeiro turno criticaram direta e abertamente o presidente, atribuindo à sua conduta agressiva a perda dos votos suficientes para eleger Dilma no dia 3 de outubro passado.
Não é de estranhar, portanto, a atitude dos manifestantes petistas
que ontem agrediram o candidato José Serra durante um ato de campanha na
zona oeste do Rio de Janeiro.
Em 2002 o presidente recém-eleito Luiz Inácio da Silva agradeceu ao
presidente que deixava o posto, Fernando Henrique Cardoso, a correção da
atitude neutra à qual atribuiu, junto com a eficiência da Justiça
Eleitoral, a sua eleição.
Oito anos depois, o presidente Lula faz o oposto do que considerava o
melhor para o Brasil. Desqualifica a Justiça, afronta a legislação e
usa de maneira escabrosa a máquina pública; sem freios nem disfarces.
Não há outra conclusão possível: Lula só leva em conta o que é melhor
para si, já que passados esses anos certamente fez a conta de que a
"correção" de FH fez o antecessor não eleger o sucessor.
Como não quer correr o risco, Lula apropria-se indevidamente do
patrimônio público, comete todas as infrações à sua disposição, leva o
governo para a ilegalidade e ainda se vangloria como quem dissesse que
vergonha é roubar e não poder carregar.
O pior para ele é que com tudo isso ainda pode perder. O melhor para o
País já foi feito quando o eleitorado criou esse espaço de confrontação
final. Do qual o presidente da República abusa sem nenhum escrúpulo,
aparentemente com a concordância do Ministério Público.
A tropa que entrou em choque com a campanha tucana no Rio fez o que o
mestre ensinou: vale tudo e mais um pouco para tentar ganhar a eleição.
Mal contada. O inquérito da Polícia Federal sobre a quebra do sigilo
fiscal de várias pessoas ligadas ao tucano José Serra ainda não
esclareceu de todo o caso, mas já permite uma constatação: é falsa a
versão de que aquelas violações resultaram de um esquema maior de compra
e venda de sigilo dentro da Receita, conclusão que o governo acha menos
grave que a motivação eleitoral.
Pois bem: pelo que diz Amaury Ribeiro (o jornalista que contratou a
quebra de sigilo), a razão foi política. Segundo ele, em 2009 foi a São
Paulo a custa do jornal Estado de Minas, onde trabalhava à época, para
recolher dados para "proteger" o então governador de Minas, Aécio Neves.
Meses depois, alguém do PT roubou dele as informações e montou um dossiê para tentar prejudicar os tucanos.
Por enquanto a história não fecha direito e, pelo já visto, pode reservar emocionantes revelações.
Por exemplo: por que o jornal Estado de Minas mandou um repórter a
São Paulo coletar dados com objetivo de "proteger" o então governador? E
proteger do quê, de uma ofensiva de José Serra? Quem pagou pela quebra
do sigilo: o jornal, o governo do Estado ou Amaury? Se Amaury foi
roubado, o que fazia na reunião com o setor de "inteligência" da
pré-campanha do PT onde se negociavam as informações que viriam a fazer
parte do dossiê entregue em junho de 2010 ao jornal Folha de S. Paulo?
Fonte: Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
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