Nomeações políticas implodiram qualidade e eficiência da estatal



O mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai terminar sem que ele consiga entregar a seu sucessor a Empresa de Correios e Telégrafos em funcionamento político normal. Lula nem poderá se lamentar. A empresa reproduz em seu modelo uma prática adotada pelo atual presidente na divisão do bolo de cargos dentro do governo federal. Prática, diga-se de passagem, que sempre existiu antes dele. O que aumentou foi o apetite.
Partidos aliados compartilham os principais postos de comando dessa empresa e da imensa maioria de outros órgãos estatais de caráter técnico dentro do governo.
Nessa divisão de poder, coube ao PMDB controlar os Correios desde 2005. E, mesmo assim, já na sequência de outra imensa crise política.
Na ocasião, o PMDB assumiu o controle da estatal depois da explosão do escândalo do mensalão, deflagrado dentro da empresa, quando Maurício Marinho, um de seus diretores, foi flagrado em vídeo recebendo dinheiro.
A descoberta revelou os problemas provocados pela ingerência do PTB no comando da empresa, trouxe Roberto Jefferson, presidente do partido, para o centro do noticiário e o resto já é história.
Antes da nova crise dos Correios, Lula já tinha ordenado uma reformulação na diretoria da empresa para tentar recuperar a eficiência da empresa. Não deu certo e os problemas e denúncias de irregularidades continuaram se sucedendo.
Pior: essa crise resvalou até na campanha presidencial da petista Dilma Rousseff, já que o presidente dos Correios, David José de Mattos, teve sua indicação bancada pela então ministra da Casa Civil Erenice Guerra.
Braço direito de Dilma na Casa Civil, Erenice pediu demissão do ministério por conta da investigação de tráfico de influência que seria praticada por seu filho Israel Guerra dentro do governo.
O grande problema é que a partilha entre aliados de cargos com caráter extremamente técnicos se transformou numa rotina. As agências reguladoras também abrigam diretores indicados por partidos que integram o arco de alianças que sustenta o governo do presidente Lula.
Poucos deles teriam capacidade para gerir a função que lhes coube em áreas tão específicas como as que mexem com telefonia, energia, transportes ou petróleo, entre outras. Mas, apadrinhados por suas legendas, ganharam mandatos de diretores para tomar decisões. E esse é o drama: possivelmente o caso dos Correios não será um fenômeno isolado.

Fonte: Marcelo de Moraes - O Estado S.Paulo

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