Líder nas pesquisas de intenção de voto, tucano promete, se eleito, priorizar transporte de alta capacidade e zerar o imposto de produtos da cesta básica
A bordo de um jato Raytheon de sete lugares, modelo
Hawker 400XP, o mais usado em sua campanha para visitar o interior
paulista, o candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, Geraldo
Alckmin, rumava de São Paulo até Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal e
berço político, para um dos últimos compromissos da campanha tucana no
Estado. Durante o voo, na última quinta-feira, desfiou causos da disputa
entre Jânio Quadros e Adhemar de Barros, que dominaram a política
paulista nos anos 50. Em seguida, em entrevista ao Estado, o tucano,
líder nas pesquisas de intenção de voto, disse que em um eventual
governo trará "inovação". "Mas os valores não mudam. Os valores são
permanentes", afirmou.
Em 2006, quando estava próximo do 2º turno na eleição presidencial, o
sr. disse que pesquisa era coisa de momento e o que importava era a
"curva". Nesse momento há uma aproximação entre o sr. e Aloizio
Mercadante. Como vê esse cenário hoje?
Eu acho que há um quadro de estabilidade. Não vejo nenhuma diminuição
da diferença. O povo é soberano. O que vale é o voto no dia da eleição.
Estamos com humildade e confiança, trabalhando de manga arregaçada. Foi
uma campanha bonita, empolgante, com PSDB unido por São Paulo e pelo
Brasil.
O sr. participou de todos os debates, mas evitou confronto com
Mercadante e fez ataques ao petista pela TV, que chamou de "reparos".
Por que adotou essa estratégia?
Eu disse no último debate que participei que o PT, que quer através
de um conselho limitar a atividade da imprensa, o livre pensamento e a
liberdade de expressão, agora quer impor em debate a quem perguntar?
Não. Debates são todos iguais. A gente pergunta para quem quer. E eu
participei de todos os debates. Sempre que fui candidato nunca deixei de
comparecer, estando em primeiro lugar e não estando. Debate não é para
bate-boca. É para expor ideias, propostas, falar de projetos.
O que o sr. classifica como a essência de um eventual governo do PSDB nos próximos quatro anos?
Avançar com ética. São Paulo tem avançado governo a governo. Se
verificar o governo do Estado quando Mário Covas assumiu, o Estado não
pagou salário de funcionário em janeiro de 1995. O Banespa estava sob
intervenção. As obras estavam todas paradas por falta de pagamento. Sem
aumentar impostos, Covas saneou as finanças. Ele dizia que essa não é
uma visão economicista, mas uma visão social. Eu avancei depois quando
fui governador. Reduzi a carga tributária. Nós temos os menores impostos
do Brasil. O próximo governador, e espero que eu chegue lá, vai ter
quase R$ 10 bilhões de novos financiamentos para poder completar o
Rodoanel, expandir mais rapidamente as linhas de metrô, a área social, a
saúde e a educação.
Se eleito, o sr. pretende fazer um ajuste fiscal de imediato? Como?
O ajuste fiscal fino é uma obra interminável. Você sempre pode
melhorar a eficiência do gasto público. Eu pretendo reduzir ainda mais a
carga tributária. Temos espaço. Arroz, feijão e óleo, que na cesta
básica é 7%, vai para zero. E desonerar investimento. Investiu em São
Paulo, diferimento do ICMS. E também remédio, vamos estudar para reduzir
a carga tributária.
O que difere o sr. de seu principal adversário, Aloizio Mercadante?
Eu aprendi com o meu pai, que lembrava Santo Antônio de Pádua:
"Quando não puder falar bem, não diga nada." Nós temos muitas diferenças
com o PT. Se pegarmos em nível nacional, nós fizemos o real, o PT votou
contra. Fizemos o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental), o PT votou contra. Fizemos a Lei de
Responsabilidade Fiscal, o PT votou contra. Nós criamos o modelo novo de
gestão, por meio das organizações sociais (OSs), da organização do
terceiro setor como parceiro sem fim lucrativo, para ganhar em
agilidade, e o PT entrou no Supremo Tribunal Federal com uma Adin (ação
direta de inconstitucionalidade) contra as OSs. São visões diferentes.
Agora, eu não tenho nada pessoal contra ninguém.
Boa parte da sua campanha foi discreta. O sr. não fez comícios. Por quê?
Comício não existe mais, a não ser em algumas cidades no interior.
Comício, se você não levar pessoas... Hoje, comício é eletrônico. É
rádio, TV e internet. E contato pessoal com as pessoas. Eu amasso barro e
gosto disso, e acho que o povo também gosta.
O sr. pretende manter a progressão continuada nas escolas?
Nossos adversários prestam um grande desserviço à educação quando
falam de aprovação automática, coisa que não existe. A progressão
continuada foi criada no governo do PT pelo educador Paulo Freire. Das
65 cidades governadas pelo PT, 64 têm. As escolas particulares de ponta,
todas no primeiro ciclo têm o modelo de progressão continuada. O aluno
repete todo ano se ele falta. Agora, se ele não falta, a escola é para
ensinar. Então que se faz? Apoia reforço escolar, ajuda, porque está
provado na pedagogia que a repetência continuada, como querem alguns,
não melhora. O aluno vai piorar, porque ele fica mais velho e isso leva
ao abandono da escola. Essa é uma discussão eleitoreira. Os melhores
sistemas de educação são de São Paulo, Minas e Distrito Federal, que têm
progressão continuada. O caminho é valorizar o professor e ter o aluno
mais tempo na escola.
O PCC preocupa o sr.?
Olha, claro que entendemos que é preciso avançar mais. Mas é preciso
destacar o que foi feito em São Paulo. Nós tínhamos, há dez anos, 33
homicídios por 100 mil habitantes. Hoje nós temos 10 homicídios por 100
mil habitantes. O Estado de São Paulo, que era o 4.º brasileiro em
número de homicídios, hoje é o 25.º. A cidade de São Paulo, que é a 4.ª
maior cidade do mundo, era a 5.ª capital em número de homicídios. Hoje é
a 26.ª, só atrás de Palmas, no Tocantins. O Brasil tem 25,8 homicídios
por 100 mil habitantes. Eu vou me empenhar para reduzir fortemente,
mostrando que é possível ter um Estado populoso, do tamanho de um país,
com índices baixos.
E o crime organizado?
É enfrentar. Inteligência policial, tecnologia e isolamento de
líderes de crime organizado. Para isso, São Paulo tem três
penitenciárias de segurança máxima. Veja bem, nós fizemos uma coisa
importante que foi não ter preso em cadeia, o que ajuda a polícia a ter
desempenho melhor na questão da investigação. São Paulo (capital) tinha 8
mil presos em cadeia. Eu zerei. E hoje ainda existem quase 8 mil presos
no interior, que eu pretendo zerar em quatro anos. São Paulo será o
primeiro Estado sem ter nenhum preso em cadeia.
Como o sr. pretende lidar com as greves do funcionalismo? No governo atual houve greves da Justiça, dos professores, da polícia.
Total diálogo. Primeiro, enorme apreço pelo funcionalismo. Sou filho
de funcionário público. Meu pai foi funcionário da Secretaria da
Agricultura durante quase 40 anos como veterinário. Temos um corpo de
funcionários excelente. Disse até que daremos reajustes superiores à
inflação, estabelecendo ganhos reais.
A oposição reclama do engavetamento de 67 CPIs na Assembleia Legislativa. Como o sr. vê isso?
O Poder Legislativo é um outro poder. O governador não manda na Assembleia.
Mas defende a apuração?
Nenhum problema. Aliás, a maioria dessas CPIs nem se referia ao
governo do Estado. Tinha CPI do Apito do futebol, CPI do Ibope, tinha
CPI para todo gosto, mas é outro poder.
Com relação aos pedágios, o sr. diz que vai rever os contratos. Isso será feito imediatamente, caso eleito?
Disse três coisas. A primeira é que o modelo de concessão é muito
bem-sucedido. Das 10 melhores autoestradas, as 10 são de São Paulo. Não
existiria a Imigrantes, as marginais da Castelo Branco, o prolongamento
da Bandeirantes. O modelo paulista é um modelo de grandes investimentos:
concessão onerosa. Não foi dado de graça. Quem ganhou pagou um ônus
para o governo. Segundo: vamos analisar casos específicos. Por exemplo
Jaguariúna, Indaiatuba e Paulínia, em que você tem um trânsito local -
da cidade, de um distrito ou de uma região - muito perto da praça de
pedágio em que se paga tarifa inteira. Vamos fazer uma redução ou uma
modificação do local. E a terceira: nós vamos analisar os 18 contratos
de concessão. E analisar o equilíbrio econômico financeiro. Se tiver
espaço na análise, pode ser a favor do governo ou contra. Se tiver
espaço, em vez de exigir mais obras nós podemos reduzir a tarifa.
O PSDB está há 16 anos no governo do Estado e o sr. diz que pretende inovar em sua gestão. Como?
Os valores não mudam. Valores são permanentes. Mário Covas dizia: é
possível aliar política e ética, política e honra, política e mudança.
São os valores que nós defendemos na política. De outro lado, cada
momento tem um programa diferente de mais avanços. Estamos em um momento
diferente de São Paulo. Os maiores investimentos do governo vão ser
metrô e trem. O governo hoje tem capacidade de contrair financiamentos.
Toda prioridade à questão do transporte de alta capacidade, completar o
Rodoanel - a asa leste e posteriormente a asa norte -, um grande
programa de estradas vicinais no interior.
O sr. considera que deu a volta por cima depois das derrotas de 2006 e 2008?
Não. Eleição se ganha, eleição se perde. A gente aprende mais até
quando perde do que quando ganha, porque quando ganha acha que fez tudo
certo, né? Quando perde, reavalia.
O sr. se considera um homem de sorte?
Não, imagina...(risos). Tem de acordar cedo e trabalhar bastante.
Fonte: Roberto Almeida - O Estado de S.Paulo
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