Após ataques de Lula, juristas lançam 'Manifesto em Defesa da Democracia'
Durante ato público no Largo de São Francisco, presidente é comparado ao ditador Benito Mussolini pelas suas declarações hostis à imprensa
Juristas que marcaram sua trajetória na luta pela preservação dos
valores fundamentais lançaram ontem nas Arcadas do Largo de São
Francisco, em São Paulo, o Manifesto em Defesa da Democracia, com
críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O palco para o ato
público foi o mesmo onde, há 33 anos, o jurista Goffredo da Silva Telles
leu a Carta aos Brasileiros, contra a tirania dos generais.
O agravo em 43 linhas condena o presidente Lula, que, na reta final
da campanha à sua sucessão, distribui hostilidades à imprensa e faz
ameaças à liberdade de expressão e à oposição.
Uma parte do pensamento jurídico e acadêmico do País que endossou o
protesto chamou Lula de fascista, caudilho, autoritário, opressor e
violador da Constituição. O presidente foi comparado a Benito Mussolini,
ditador da Itália nos anos 30. "Na certeza da impunidade (Lula), já não
se preocupa mais nem mesmo em valorizar a honestidade. É constrangedor
que o presidente não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua
plenitude nas 24 horas do dia", disse Hélio Bicudo, fundador do PT, do
alto do púlpito da praça, ornada com duas bandeiras do Brasil.
Sob o sol forte do meio-dia, professores, sociólogos, economistas,
intelectuais, escritores, poetas, artistas, advogados e também políticos
tucanos cantaram o Hino Nacional. Muitos dos presentes ao ato público
de ontem estavam no mesmo local em agosto de 1977 para subscrever a
Carta aos Brasileiros.
Aquela declaração, como essa, segue uma mesma linha de
reflexão. "A ordem social justa não pode ser gerada pela pretensão de
governantes prepotentes", dizia Goffredo a um País mergulhado na sombra
da exceção havia mais de uma década. "Estamos em um momento perigoso, à
beira de uma ditadura populista", afirma Miguel Reale Júnior, um dos
quatro ex-ministros da Justiça que emprestaram o peso de sua história ao
manifesto lido ontem.
"Reconhecemos que o chefe do governo é o mais alto funcionário nos
quadros administrativos da Nação, mas negamos que ele seja o mais alto
Poder de um País. Acima dele reina o senso grave da ordem, que se acha
definido na Constituição", advertia Goffredo em seu libelo. "É um
insulto à República que o Legislativo seja tratado como mera extensão do
Executivo, é deplorável que o presidente lamente publicamente o fato de
ter de se submeter às decisões do Judiciário", adverte o manifesto de
2010, do qual d. Evaristo Arns é o primeiro subscritor.
Inadmissível. "O País vive um processo de autoritarismo crescente, um
caudilhismo que se impõe assustadoramente", declarou José Carlos Dias,
aos pés da estátua de José Bonifácio, o Moço, à entrada do território
livre do Direito. "A imprensa está sendo atacada de forma inadmissível
como se partido fosse. O presidente ofende a democracia quando ofende a
imprensa por exercer missão que o Estado deveria exercer: investigar e
combater a corrupção."
"Lula age como um fascista", compara Reale. "O que ele fará lá na
frente se agora quer jogar para debaixo do tapete toda a corrupção em
seu governo para ganhar a eleição? A imprensa não pode mais revelar a
verdade? Há uma campanha indiscriminada contra todos os órgãos de
imprensa. O presidente não pode insuflar o País, "quem é a favor do PT é
a favor do povo". Descumpre ordem da harmonia social, divide o País. É
uma grande irresponsabilidade, algo muito grave."
Mobilização. O advogado disse que o manifesto é mobilização da
sociedade civil, não um evento político. "É um alerta sobre os riscos de
um confronto social. Transformar a imprensa em golpista é caminho
perigoso para o autoritarismo. Quando o presidente diz que "formadores
de opinião somos nós" é uma ideia substancialmente fascista, posição
populista. É o peso da Presidência contra a liberdade de imprensa."
Bicudo, ainda antes de subir ao púlpito onde nos anos 70 lideranças
estudantis desafiavam a repressão, afirmou que "Lula tenta desmoralizar
todos os que se opõem ao seu poder pessoal".
Presidente do PPS, Roberto Freire avalia que Lula "se despiu do
caráter republicano ao debochar das instituições e se transformar em
cabo eleitoral". José Gregori, ex-ministro da Justiça, disse que a ordem
dos juristas deu início à reação há 12 dias, "quando o presidente
desferiu as primeiras agressões à democracia". "Ele não pode fazer papel
de estafeta de um partido."
SIGNATÁRIOS
O Manifesto em Defesa da Democracia, redigido em 43 linhas e
divulgado ontem, tem entre seus signatários juristas, cientistas
políticos, historiadores, embaixadores e membros da classe artística.
O jurista Hélio Bicudo, que leu o documento no centro da capital
paulista, encabeça a lista, ao lado do ex-presidente do Supremo Tribunal
Federal Carlos Velloso e do arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo
Evaristo Arns.
Os ex-ministros da Justiça José Gregori, Paulo Brossard, Miguel Reale Júnior, José Carlos Dias, além do embaixador Celso Lafer, também subscrevem o documento.
A academia, por sua vez, aparece em peso com os cientistas políticos
Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e
Lourdes Sola, bem como os historiadores Marco Antonio Villa e Boris
Fausto.
ARTICULAÇÕES
José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça
"As atitudes de Lula são de um fascista, do verdadeiro autoritarismo. É preciso defender a democracia a qualquer preço"
"As atitudes de Lula são de um fascista, do verdadeiro autoritarismo. É preciso defender a democracia a qualquer preço"
Roberto Freire, presidente do PPS
"Lula perdeu a compostura ao propor que extirpem partido de oposição e ao atacar a imprensa. Mussolini e os camisas negras agiram assim"
"Lula perdeu a compostura ao propor que extirpem partido de oposição e ao atacar a imprensa. Mussolini e os camisas negras agiram assim"
Hélio Bicudo, fundador do PT
"Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos. Ele pode ter opinião, mas não pode fazer uso da máquina"
"Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos. Ele pode ter opinião, mas não pode fazer uso da máquina"
Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça
"Lula age como um fascista. Golpismo é tentar calar a imprensa. Temos de nos arregimentar pela preservação dos princípios democráticos"
"Lula age como um fascista. Golpismo é tentar calar a imprensa. Temos de nos arregimentar pela preservação dos princípios democráticos"
Fonte: Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo
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