Baracat reafirmou teor de entrevista à 'Veja' e mostrou recibos para provar contrato com Israel Guerra
Em depoimento que durou mais de seis horas
nesta quinta-feira, 23, na Polícia Federal, o empresário Fábio Baracat
deu informações que ajudam a montar o quebra-cabeças em torno do esquema
de tráfico de influência montado na Casa Civil da Presidência da
República pela família da ex-ministra Erenice Guerra, afastada do cargo
na semana passada. Foi ele quem denunciou à revista Veja um
esquema que consistia em cobrar "comissão de sucesso" de 5% sobre cada
negócio obtido junto aos Correios em favor da empresa de transportes
aéreos MTA.
Baracat reafirmou o teor da entrevista e deu recibos de pagamentos
para provar que, na condição de representante da MTA, manteve contrato
com a empresa Capital Assessoria, controlada por filhos de Erenice, para
obtenção de negócios nos Correios. Os recibos, anexados ao inquérito da
PF, mostram pagamentos mensais de R$ 20 mil, por um período de seis
meses, totalizando R$ 120 mil. O delegado Roberval Vicalvi, encarregado
da investigação, pediu evidências que caracterizem o pagamento da
"comissão de sucesso" que Baracat teria acertado com Israel, filho de
Erenice e principal operador do esquema.
Com a ajuda dos filhos de Erenice, a MTA conseguiu contratos no
montante de R$ 60 milhões na estatal, um deles sem licitação. O
empresário confirmou um encontro mantido com a ex-ministra, intermediado
por Israel, mas disse que foi de natureza "social" e negou que ela
tenha tratado de negócios ou demonstrado qualquer atitude que indicasse
ter conhecimento do lobby dos filhos, conforme relato do seu advogado
Douglas Silva Telles. "Ele disse que foi uma reunião meramente social e
nada se discutiu relacionado a contratos ou negócios com o governo",
enfatizou.
O delegado quis saber qual era o interesse de Baracat na MTA, uma vez
que não era dono ou diretor da empresa e desde quando cessou seu
vínculo de representante e por que foi afastado. Fez também várias
perguntas relacionadas à participação do ex-diretor dos Correios,
Eduardo Artur Rodrigues Silva no esquema. Suspeito de ser testa de ferro
do argentino Alfonso Rey, que seria o real controlador da MTA, conforme
reportagem publicada no Estado, Silva foi ouvido a seguir, mas não quis
dar declarações à imprensa e a PF não divulgou o teor do depoimento.
Nesta sexta-feira, 24, será ouvido Vinícius Castro, cuja mãe figura
como sócia da Capital Assessoria, junto com Saulo, o outro filho de
Erenice. A polícia ainda não conseguiu entregar as intimações de Israel e
Saulo, os próximos que terão de dar explicações no inquérito.
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