Documento obtido pela revista ‘Veja’ mostra que, para garantir contrato com os Correios, empresa de São Paulo contratou filho de Erenice Guerra, que na época era secretária executiva da pasta; na ocasião, quem chefiava a Casa Civil era Dilma
Reportagem da revista Veja que aponta a existência de um esquema de
tráfico de influência na Casa Civil levou a oposição a pedir a demissão
da ministra-chefe da pasta, Erenice Guerra. Documento obtido pela
revista mostra que a empresa de transporte aéreo Via Net Express
contratou firma de lobby pertencente a filhos de Erenice, para garantir
contratos com os Correios. Na ocasião, a Casa Civil era chefiada por
Dilma Rousseff e Erenice ocupava o posto de secretária executiva,
atuando como principal auxiliar da hoje candidata do PT ao Planalto.
O presidenciável José Serra (PSDB) considerou o caso gravíssimo.
"Essas denúncias devem ser apuradas e tem de haver punição para os
responsáveis. E não diversionismo e ocultamento."
Ontem, Serra visitou Goiânia, onde participou de comício seguido de
carreata. "A Casa Civil tem sido foco de problemas para o Brasil. Lembro
que no caso do mensalão, na época do José Dirceu, foi o centro do
escândalo. Depois, esteve a Dilma, que deixou seu braço direito, uma
pessoa muito próxima. E, hoje de novo, o centro da maracutaia é a Casa
Civil."
Para Serra, "não é possível que alguns candidatos e partidos achem
natural esse processo de corrupção" no País. "Não é natural, não.
Podemos mudar isso. Podemos mudar com eleição." No horário eleitoral de
ontem à noite, o tucano também levou ao ar a denúncia de tráfico de
influência.
Para a oposição, a denúncia serve como combustível para tentar
desgastar a candidatura presidencial de Dilma, líder nas pesquisas de
intenção de voto e que hoje venceria já no primeiro turno. Seus
principais representantes bateram pesado na ministra e cobraram sua
saída do posto.
"A situação da ministra Erenice é absolutamente insustentável. O
presidente Lula defende muita gente que não deveria, mas não me parece
que ele consiga segurar a ministra no cargo depois desse escândalo",
disse Índio da Costa (DEM), candidato a vice-presidente na chapa de
Serra
Índio considerou "um deboche" a nota de explicação feita pela
ministra para contestar a reportagem. Para ele, a promessa de quebra de
sigilos apresentada por Erenice em seu nome e de seu filho Israel Guerra
não faz sentido, uma vez que, segundo a revista, existe até contrato
estipulando as regras e remuneração da intermediação feita com o
governo. "Foi explícito. Tem um contrato assinado. É muita cara de pau
essa explicação", criticou.
"Contaminada". O senador tucano Álvaro Dias (PR) disse em seu twitter
que a candidatura de Dilma "está contaminada", tamanha é a proximidade
política entre as duas. "Está mais do que contaminada a candidatura de
Dilma depois das denúncias de hoje (ontem). Erenice é alma gêmea de
Dilma. Sua parceira e sucessora", postou. "Esse escândalo é tão
estarrecedor quanto o do mensalão. Na cozinha da candidata à
Presidência."
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o partido
vai pedir à Procuradoria-Geral da República que investigue os
favorecidos pelo esquema de cobrança de propina nos contratos do
governo. "Não vamos nos calar, não vamos nos omitir, não temos medo de
retaliação e vamos à Justiça onde quer que seja possível", afirmou.
O senador disse que a cada reação do PSDB diante de denúncias de
corrupção no governo do presidente Lula, Dilma e seus aliados se limitam
a acusar o partido de adotar "ações ofensivas" e de se fazer de vítima
para ganhar as eleições no tapetão. "Quando não existe mais dúvidas que o
tapetão nestas eleições é a própria candidatura da Dilma Rousseff",
disse.
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) aponta como "pior" aspecto da
acusação o fato de o balcão de negócios estar montado na Casa Civil e
não em outros órgãos públicos, como tem ocorrido no governo Lula.
"Não é nem nos ministérios, tudo parece ser acertado dentro do
Palácio do Planalto", disse, lembrando não ser esta a primeira vez que
Erenice está envolvida em operações suspeitas. "Ela estava no lance dos
cartões corporativos, cujos valores o governo não conseguiu explicar",
destaca. "Faço votos que não seja esta mais uma denúncia para o
presidente Lula ridicularizar, como tem feito com tudo de comprometedor
que ocorre em seu governo", disse o senador.
"Abuso de poder". Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), ao
contrário do que tem ocorrido até agora, a Polícia Federal e a Justiça
Eleitoral deveriam adotar as providências necessárias para apurar e
punir o que entende ser "mais um fato gravíssimo contra a candidata do
PT".
Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o fato de o filho de
Erenice, Israel Guerra, ter dito a empresários que o dinheiro da propina
seria usado em parte para "saldar compromissos políticos" compromete a
campanha de Dilma e deve ser investigado. "É evidente que se trata de
abuso de poder econômico e, se for devidamente comprovado, leva à
impugnação da candidatura da Dilma", afirmou.
Fonte: Rosa Costa e Rubens Santos - O Estado de S.Paulo
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