Ao pedir para verificar se dados da filha de Serra tinham sido invadidos, comissão mencionou demais nomes do PSDB alvos de devassa ilegal
Documento da Receita Federal obtido pelo Estado revela que a
corregedoria do órgão já trabalhava desde o dia 20 de agosto com uma
linha de investigação que apontava para uma violação político-eleitoral
do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do presidenciável José Serra, e
de outros quatro tucanos.
A suspeita de violação política, porém, foi "confinada" na
corregedoria, enquanto a cúpula do Fisco e integrantes do governo
unificaram um discurso público em direção contrária para despolitizar o
episódio e blindar a candidatura presidencial de Dilma Rousseff (PT).
Ao pedir para verificar se os dados fiscais de Verônica haviam sido
violados, a comissão da corregedoria mencionou os demais tucanos alvos
de quebra de sigilo e vinculou esses nomes, inclusive o da filha do
candidato, a reportagens sobre o dossiê que foi parar na campanha de
Dilma.
O documento tem o registro das 17h de 20 de agosto. Chamado de "ata
de deliberação", o teor revela os motivos que levaram a comissão da
Receita a verificar se os dados de Verônica foram violados: o polêmico
dossiê.
"... E tendo em vista que emergiu dos autos acessos aos conteúdos da
declarações de Imposto de Renda de outros nomes da política nacional... e
ainda tendo em vista que foi noticiado pela mídia jornalística, dentre
eles O Globo (reportagem anexa à presente ata), de que havia suspeição
que Verônica Serra, filha de José Serra, também poderia ter sido alvo de
quebra de sigilo fiscal", diz trecho do documento.
A reportagem mencionada pela comissão foi publicada em maio, cita
Verônica Serra e trata da crise instalada na campanha de Dilma por causa
do dossiê contra os tucanos. O caso derrubou o jornalista Luiz
Lanzetta, que era integrante do setor de comunicação da campanha.
Do dia 20 de agosto para cá, o comando da Receita e o governo adotam a
mesma atitude em discursos, notas e entrevistas. Para diminuir a crise,
anunciaram ter descoberto um esquema de venda de informação mediante
encomenda e propina - versão não sustentada nos autos até agora -, e
tentaram abafar o escândalo da violação do sigilo de Verônica.
Além disso, descartaram qualquer conotação política na violação. "Nós
não identificamos qualquer ilação político-partidária", fez questão de
frisar, em coletiva dada há uma semana, o corregedor-geral da Receita,
Antonio Carlos Costa D"Avila, cujo discurso foi reforçado pelo
secretário Otacílio Cartaxo. Naquele dia, aliás, eles já sabiam que o
sigilo fiscal de Verônica havia sido acessado. Conforme revelou ontem o
Estado, em 20 de agosto a comissão de investigação confirmou que os
dados fiscais da filha de Serra foram violados em 30 de setembro de
2009.
A comissão, presidida pelo servidor Levi Lopez, inclui naquela ata de
duas semanas atrás, além do nome de Verônica, a descoberta da quebra do
sigilo fiscal de três pessoas que, segundo a própria investigação, são
ligadas ao comando do PSDB: Luiz Carlos Mendonça de Barros (ex-ministro
das Comunicações do governo FHC), Gregório Marin Preciado (casado com
uma prima de Serra) e Ricardo Sérgio (ex-caixa de campanha do PSDB).
Os três tiveram o sigilo fiscal violado em 8 de outubro de 2009,
quando também houve invasão ilegal às declarações de renda do
vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge. Ele passou a ter acesso ao
processo administrativo desde o dia 24 após liminar judicial.
Ontem, o Estado mostrou que o comando da Receita suspeitou de fraude
na violação do sigilo da filha de Serra, mas montou uma operação para
abafar o escândalo e evitar impacto político. O governo já sabia que a
procuração usada para violar os dados de Verônica poderia ser falsa.
Fonte: Leandro Colon - O Estado de S.Paulo
Comentários
Postar um comentário