Os preços da gasolina e do diesel no Brasil estão prestes a completar
dois anos com valores acima das cotações internacionais. Trata-se do
período mais longo de alta desde a liberação do setor, em 2002,
garantindo à Petrobrás uma receita adicional de R$ 24,7 bilhões, segundo
cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Para
analistas, esses recursos vêm ajudando a estatal a manter o ritmo de
investimentos enquanto espera a capitalização. "O consumidor brasileiro
está subsidiando o plano de investimentos da Petrobrás", resume o
diretor do CBIE, Adriano Pires. Em levantamento a pedido do Estado, o
especialista indica que, desde outubro de 2008, os preços da gasolina e
do diesel estão mais caros no Brasil do que no exterior.
Naquele
ano, as cotações internacionais do petróleo desabaram por causa do
estouro da crise mundial, chegando ao piso de US$ 37 por barril em
dezembro.
A Petrobrás chegou a promover uma redução de preços no
período - de 4,5% para a gasolina e 15% para o diesel -, mas não foi
suficiente para equalizar os valores internos com os do mercado
internacional. Não houve, também, impacto nas bombas, já que o governo
elevou os impostos sobre os dois produtos, revertendo a redução do ano
anterior, quando a estatal aumentou seus preços para acompanhar a
escalada das cotações do petróleo.
Na média de julho, diz Pires, a
gasolina brasileira estava 24% mais cara que a cotação do Golfo do
México, usada como parâmetro para a Bacia do Atlântico. No caso do
diesel, a diferença era de 14%. Na prática, a Petrobrás não é obrigada a
seguir as cotações internacionais, embora esse tenha sido o objetivo da
liberação do mercado em 2002. A estatal diz que sua política prevê
acompanhamento de longo prazo.
Em nota enviada ao Estado, a
companhia declara que "a política de preços adotada pela Petrobrás gera
um fluxo de caixa mais estável, o que é positivo para a empresa e
acionistas, além de diminuir o impacto da volatilidade dos preços
internacionais sobre a economia brasileira e permite à companhia vender
seus produtos ao preço médio que vigora no mercado internacional". Desde
2002, porém, não houve período tão longo de alta.
A expectativa é
que a diferença se mantenha nos próximos meses. Do ponto de vista da
Petrobrás, o mercado não espera quedas de preços em 2010, visão
compartilhada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que tocou no
assunto na ata de sua última reunião. As cotações do petróleo - e,
consequentemente, dos combustíveis no exterior - também devem se manter
estáveis, oscilando em torno dos US$ 75, segundo projeção da consultoria
Tendências.
Alívio. A manutenção desse cenário representa um
alívio nas contas da Petrobrás, que encontra dificuldades para manter
seu plano de investimentos, orçado em R$ 88,6 bilhões em 2010. A empresa
está no limite de endividamento e, enquanto a capitalização não é
concluída, utiliza o caixa adicional obtido com a venda de gasolina e
diesel mais caros para ajudar a fechar suas contas. Os outros
combustíveis, como querosene de aviação e gás natural, acompanham mais
de perto as cotações internacionais do petróleo.
"Certamente essa
política de preços está ajudando a Petrobrás a enfrentar seus problemas
de caixa e a bancar seu plano de investimentos", comenta Walter de
Vitto, especialista em energia da consultoria Tendências. Os R$ 24,7
bilhões calculados por Pires como ganho adicional equivalem a todos os
recursos que a companhia mantinha em caixa no fim do terceiro trimestre.
Até o fim de junho, a empresa investiu R$ 38,1 bilhões.
"No
fundo, o caixa que a Petrobrás esta fazendo (com os combustíveis) está
gastando. Pode-se dizer que ela está fazendo um investimento adicional
com esse caixa", diz um analista do mercado financeiro que prefere não
se identificar. Prevista inicialmente para julho, a capitalização foi
adiada para setembro e depende de negociações sobre o preço das reservas
que serão vendidas pelo governo à estatal. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
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