O Estado de S.Paulo
Também os presos políticos cubanos não tinham como responder ao
dirigente brasileiro quando, em março último, ele condenou a greve de
fome que levou à morte o dissidente Orlando Zapata Tamoyo, por sinal na
véspera de uma visita de Lula a Havana, onde considerou o seu sacrifício
"um pretexto para liberar as pessoas" - e foi além. "Imagine",
comparou, "se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de
fome e pedirem liberdade."
Muito menos poderia retrucar ao presidente a iraniana Sakineh
Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento por alegado
adultério. Perguntado dias atrás sobre a campanha "Liga Lula" para que
interceda pela sentenciada junto ao seu bom amigo Ahmadinejad, ele
reagiu: "As pessoas têm leis. Se começarem a desobedecer as leis deles
para atender o pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma
avacalhação."
Mas há quem possa dar-lhe o troco. Foi o que fez o presidente da
Colômbia, Álvaro Uribe, depois que um leviano e boquirroto Lula
desdenhou do agravamento das tensões entre Bogotá e Caracas. O
protoditador Hugo Chávez rompeu as relações da Venezuela com o país
vizinho em represália à decisão colombiana de apresentar na OEA as
provas da presença de 1.500 membros da organização narcoterrorista Farc
em território venezuelano, obviamente sob a proteção do caudilho.
Lula, cuja primeira manifestação a respeito já tinha deixado claro o
seu alinhamento automático com Chávez - "as Farc são um problema da
Colômbia, e os problemas da Venezuela são da Venezuela", sofismou -,
reincidiu na quarta-feira, véspera da reunião dos chanceleres da
ineficaz União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito. O tema do
encontro, que deu em nada, era o conflito político entre os dois países.
"Falam em conflito, mas ainda não vi conflito", minimizou Lula. "Eu vi
conflito verbal, que é o que mais ouvimos aqui nessa América Latina."
Equiparar a um bate-boca um problema dramático para a Colômbia, que
passou 40 anos sob o terror das Farc antes de serem reduzidas à mínima
expressão possível pela firmeza com que as enfrentou o presidente Uribe,
foi nada menos do que um inconcebível insulto a uma nação e ao seu
governante. Uribe, que difere de Lula por falar pouco e fazer muito, não
poderia fingir que não ouviu a afronta.
Ele replicou com a mais dura mensagem já dirigida a um chefe de
Estado brasileiro, até onde chega a memória. "O presidente da Colômbia",
dispara a nota, "deplora que o presidente brasileiro, com quem temos
cultivado as melhores relações, refira-se a nossa situação com a
Venezuela como se fosse um caso pessoal." Uribe ainda o acusou de
ignorar a ameaça que a presença das Farc na Venezuela representa "para a
Colômbia e o continente".
Trata-se da primeira demonstração da perda de respeito por Lula no
exterior - e ele só tem a culpar por isso a sua irreprimível logorreia.
Não terminasse o seu mandato daqui a 5 meses, a erosão de sua imagem
internacional só se intensificaria. Não seria de espantar se um dia
alguém o admoestasse, como o rei da Espanha, Juan Carlos, fez com o
bravateiro Chávez, perguntando-lhe: "Por qué no te callas?" Não bastasse
a grosseria, Lula nada fez para assegurar aos colombianos de que
poderia ser um intermediário isento entre Bogotá e Caracas.
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