Enrolado na Justiça, o cantor e candidato ao Senado tenta esconder a
propriedade do imóvel em que vive, avaliado em R$ 2,5 milhões
O cantor Netinho de Paula ficou conhecido dos brasileiros por liderar
o grupo de pagode Negritude Jr e comandar programas populares na
televisão. Em 2008, ele se elegeu vereador em São Paulo pelo PCdoB. Dois
anos depois do sucesso inicial nas urnas, Netinho parece ter adquirido
gosto pela política. Nesta eleição, é candidato ao Senado na chapa que
tem Aloizio Mercadante (PT) como candidato ao Palácio dos Bandeirantes e
a ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy (PT) como sua colega na
disputa por uma das duas vagas reservadas ao Estado de São Paulo.
Em
sua campanha, Netinho defende algo que chama de “socialismo à
brasileira”. Não se sabe ao certo as bases dessa sua ideologia, mas, a
julgar pelo padrão de vida do candidato, ela deve, entre outras coisas,
defender ótimas condições de moradia a todos os cidadãos. Netinho vive
com sua família em uma casa de quase 2.000 metros quadrados, com
piscina, campo de futebol e espaço para festas. O imóvel está localizado
em um dos condomínios mais luxuosos da Grande São Paulo, o Alphaville
8, no município de Santana de Parnaíba, e fica protegido por uma reserva
ambiental particular. Uma casa no local pode custar até R$ 8 milhões.
Netinho
comprou a casa em 2004, antes de entrar para a política e depois de ter
deixado o grupo Negritude Jr, no auge de sua carreira como apresentador
do programa Domingo da gente, na TV Record. O sucesso como
artista é mais do que suficiente para justificar seu patrimônio. Falta a
Netinho, porém, explicar como o imóvel, avaliado em pelo menos R$ 2,5
milhões, desapareceu de sua declaração de bens após ele ter se tornado
vereador.
Segundo os registros do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), ao se lançar candidato a vereador em 2008, Netinho
declarou um patrimônio de R$ 1,3 milhão. Entre seus bens, estava a casa
onde mora. Neste ano, no entanto, ele informou à Justiça Eleitoral ter
apenas R$ 193 mil em bens (uma redução de mais de R$ 1 milhão em dois
anos), e a casa de Alphaville deixou de constar no seu patrimônio
oficial. Documentos obtidos por ÉPOCA mostram que, em 2008, logo após
Netinho ter declarado a casa à Justiça Eleitoral, ela foi penhorada para
garantir o pagamento de uma dívida trabalhista do vereador com
ex-músicos do grupo Negritude Jr.
PADRÃO ALTO
A casa de Netinho, no condomínio Alphaville 8. No detalhe, dois veículos em sua garagem
A casa de Netinho, no condomínio Alphaville 8. No detalhe, dois veículos em sua garagem
Para
driblar a Justiça, Netinho doou a casa a quatro de seus sete filhos. No
mesmo ato, reservou para si o usufruto vitalício do imóvel. Ou seja, na
prática, Netinho poderia dispor para sempre da propriedade. A operação,
no entanto, não deu certo. Pouco mais de um mês depois da manobra, a
Justiça suspendeu a doação. Em março de 2009, a casa foi a leilão e
chegou a ser vendida por R$ 1 milhão. Os advogados de Netinho, no
entanto, conseguiram cancelar o leilão, com a promessa de que ele
quitaria a dívida trabalhista. Um ano e meio depois, a dívida ainda não
foi paga e o processo continua a correr no Tribunal Regional do
Trabalho. Portanto, segundo o registro do imóvel, a casa ainda pertence
ao cantor e vereador Netinho e deveria constar de sua declaração de bens
ao TSE, conforme determina a lei eleitoral brasileira.
Em
entrevista a ÉPOCA, Netinho mostrou estar confuso a respeito da
propriedade da casa. Primeiro, disse que seria seu único bem. Segundos
depois, porém, ele afirmou: “Eu não posso declarar (a casa) como minha,
ela é uma doação”. Na declaração de bens apresentada neste ano por ele à
Justiça Eleitoral, constam cotas de participação em cinco empresas e um
carro Sportage, da Kia. Mas na entrevista ele disse não ter nenhum
carro. “O carro que eu uso é o carro do meu filho, o carro da empresa.
Geralmente, quando vou fazer alguma coisa, a Câmara Municipal aluga um
carro.” Questionado sobre o Sportage, Netinho disse: “Esse carro já nem
me pertence mais”.
Na garagem da casa de Netinho, a
reportagem de ÉPOCA viu, em dois dias diferentes, um Porsche
conversível. Ele nega ser o dono: “Nunca andei de Porsche. Não tenho um
Porsche na garagem. Vocês estão confundindo o Netinho”. Na quinta-feira
passada, após a entrevista, o carro já não estava mais na garagem.
Além
da casa, Netinho também omitiu da atual declaração de bens outras seis
empresas que estão em seu nome. Uma delas é em sociedade com o cantor
Alexandre Pires. Segundo ele, essas empresas estão em “processo de
encerramento”. “Abrir empresa no Brasil é até fácil, mas para fechar é
uma burocracia”, afirmou Netinho. Ao todo, pelo menos 11 empresas em
nome de Netinho de Paula estão ativas na Junta Comercial do Estado de
São Paulo e na Receita Federal. Segundo levantamento feito por ÉPOCA,
Netinho seria dono de um patrimônio de pelo menos R$ 3,3 milhões, R$ 3,1
milhões a mais do que o declarado por ele ao TSE.
De
acordo com as mais recentes pesquisas de intenção de voto, Netinho tem
chances reais de ser eleito para uma das duas vagas de senador por São
Paulo. Segundo o Ibope, Netinho, com 18% das intenções de voto, está
tecnicamente empatado na segunda posição com Orestes Quércia (PMDB),
20%, Romeu Tuma (PTB), que tem 19%, e Ciro Moura (PTC), 18%. Na
campanha, além de pregar o “socialismo à brasileira”, Netinho enfatiza
sua origem pobre. “Ajudem este neguinho que vendia doces na estação de
trem em Carapicuíba”, disse em discurso no Sindicato dos Bancários de
São Paulo, na quarta-feira passada. Ao pedir os votos dos eleitores,
seria bom que Netinho também fosse mais transparente na declaração de
seu patrimônio.
Fonte: Alberto Bombig e Victor Fereira - Revista Época
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