Para Serra, combinação com a explosão de gastos correntes põe País numa 'armadilha'

Em uma
entrevista recente que faz parte do livro Retrato de grupo, 40 anos do
Cebrap, de Flávio Moura e Paula Montero, publicado no ano passado, Serra
ataca a ideia de que seu desenvolvimentismo abalaria a estabilidade
macroeconômica. "O termo (desenvolvimentismo)tem sido espertamente
utilizado para insinuar que os que se preocupam com o desenvolvimento o
querem a qualquer preço, mesmo à custa de inflação. Não há
necessariamente esse dilema, estabilidade versus desenvolvimento."
Mas Serra não economiza munição para atacar a valorização do câmbio e os juros altos. "Em nenhum dos preceitos do Consenso de Washington figura a ideia de que para desenvolver o país você precisa megavalorizar a moeda. Isso é simplesmente um erro, não é ortodoxo nem heterodoxo", diz Serra. "O Brasil está numa armadilha, que tem três lados: os maiores juros do mundo, já há muitos anos, a taxa de câmbio talvez hoje mais valorizada do planeta; e uma explosão de gastos correntes como nunca houve em valores reais ."
Mas Serra não economiza munição para atacar a valorização do câmbio e os juros altos. "Em nenhum dos preceitos do Consenso de Washington figura a ideia de que para desenvolver o país você precisa megavalorizar a moeda. Isso é simplesmente um erro, não é ortodoxo nem heterodoxo", diz Serra. "O Brasil está numa armadilha, que tem três lados: os maiores juros do mundo, já há muitos anos, a taxa de câmbio talvez hoje mais valorizada do planeta; e uma explosão de gastos correntes como nunca houve em valores reais ."
Geraldo Biasoto, diretor executivo da Fundap e próximo a Serra,
afirma que a valorização do câmbio e o alto custo da infraestrutura
estão levando a um processo drástico de desindustrialização no Brasil. A
solução, diz Biasoto, não é fazer uma maxidesvalorização. "Mas
precisamos ter uma queda dos juros, que vai calibrar o câmbio", disse
Biasoto ao Estado. Na campanha de Serra, Gesner Oliveira, Geraldo
Biasoto e José Roberto Afonso conhecem as ideias econômicas do tucano.
Serra aventa a hipótese de ter um modelo de funcionamento do Banco
Central mais parecido com o chileno, no qual o Ministério da Fazenda é
consultado sobre a atuação do banco. Biasoto é cauteloso ao comentar a
autonomia do BC, tema que irrita Serra. Ele fala em maior coordenação
entre Fazenda e BC. "Não acho que se deva mexer na estrutura
institucional, o problema é que, como não temos o resto da política
econômica, tudo tem de ser feito pela taxa de juros - por exemplo,
passamos o primeiro semestre inteiro com a Caixa Econômica e o BNDES
explodindo de dar crédito no mercado e o BC tendo de elevar juros",
afirma. "É uma questão de ter equipes da Fazenda e do BC que sejam
coordenadas."
Ao contrário do atual governo, Biasoto acha que o déficit em conta
corrente é preocupante, por ser muito alto, com tendência de elevação.
Uma maneira de reduzi-lo seria dinamizar o comércio, com mais acordos
bilaterais para abrir mercados, flexibilizando o Mercosul.
A campanha de Serra vê espaço para cortes significativos nos gastos
públicos mesmo sem reformas mais abrangentes, que exigiriam difíceis
negociações com os Estados. "Precisamos promover maior eficiência, um
governo Serra conseguiria reduzir muitos gastos supérfluos com cortes de
programas desnecessários", diz Biasoto.
Biasoto é contundente nas críticas aos rumos do BNDES no governo
Lula. "Os juros subsidiados do BNDES vão gerar uma conta de US$ 8
bilhões a US$ 14 bilhões de subsídio por ano - é uma Bolsa-Família para
os ricos", diz Biasoto. "A Petrobrás é uma das maiores empresas do mundo
e depende do BNDES, a Vale também, elas teriam crédito onde quisessem,
não precisariam do BNDES." Biasoto afirma que o BNDES deveria financiar
máquinas e capacidade produtiva e não mudança patrimonial.
Na visão de Biasoto, o atual governo está criando um Estado
hipertrofiado, tentando executar tarefas para as quais o setor público
não está qualificado. "Deveríamos ter um Estado regulador forte."
Fonte: Patrícia Campos Mello - O Estado de S.Paulo
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