Ex-funcionário do Planalto se diz ameaçado e pede depoimento sigiloso


 

Figura-chave do escândalo envolvendo suposta interferência política na Receita, Demétrius Felinto não apareceu na CCJ para depor


Dizendo-se ameaçado, o ex-funcionário do Palácio do Planalto que é figura-chave do escândalo envolvendo a suposta interferência política da então ministra Dilma Rousseff na Receita Federal não apareceu nesta terça-feira (31) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado para depor.

Reportagem publicada por VEJA na edição de 21 de julho mostrou que Demétrius Felinto - que era responsável pelo monitoramento das câmeras de segurança do Palácio do Planalto - dizia ter uma cópia das imagens em que a então secretária-geral da Receita, Lina Maria Vieira, comparece ao gabinete de Dilma, à época ocupando o cargo de ministra-chefe da Casa Civil.

Lina alega que, na reunião, a ministra pediu que a Receita concluísse investigações sobre irregularidades envolvendo Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. Dilma sempre negou ter se encontrado com a então secretária-geral para tratar do tema.

No ofício em que justificou a ausência aos integrantes da CCJ, Demétrius Felinto diz que vem sofrendo ameaças veladas por meio da internet e teme por sua integridade física. Anexou ao documento o que seriam provas das ameaças. Ele requer a realização de um depoimento fechado, com a presença apenas dos senadores. E promete revelar tudo o que sabe. O presidente da CCJ, Demóstenes Torres (DEM-GO), tenta agendar o depoimento de Demétrius ainda para esta semana.

A existência das imagens é fundamental para esclarecer o caso. Mas, para fornecer as informações, Demétrius pedia dinheiro - ou um emprego. Informado que VEJA não paga por informações, ele procurou o governo. Conseguiu uma vaga numa empresa terceirizada que opera no Senado, onde continua trabalhando.

Oposição quer ouvir Mantega - Além de Demétrius Felinto, quem também não compareceu à Comissão de Constituição e Justiça do Senado foi o corregedor da Receita Federal, Antonio Carlos D'ávila, responsável pela investigação sobre a quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, e de mais três figuras ligadas ao partido.

Ele alegou que não pode falar aos parlamentares porque as informações estão sob sigilo. Em ofício encaminhado à CCJ, afirmou: "Na qualidade de corregedor-geral da Receita, vejo-me impedido de fornecer aos senadores quaisquer informações relacionadas com investigações em andamento". D'ávila, no entanto, já falou sobre o tema: concedeu entrevista coletiva na semana passada em que deu informações sobre as investigações do caso.

Após a recusa, o senador Alvaro Dias protocolou um requerimento para a convocação do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, à Comissão. Se o pedido for aprovado pelos integrantes da CCJ, Mantega não poderia se recusar a comparecer - ao contrário de D'ávila, que foi apenas convidado. O possível depoimento de Mantega ocorreria apenas depois das eleições, já que esta semana é a última de trabalho no Senado até outubro.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu que o colega pedisse apenas o convite – e não a convocação – de Mantega. Alvaro Dias não aceitou: segundo ele, o governo tem ignorado a maior parte dos convites feitos a autoridades. E o caso em questão exige respostas rápidas: “Este não é um crime qualquer. Resulta do aparelhamento do estado”, afirmou.

Fonte:  Gabriel Castro - Veja.com

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