O sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, convidado
para a conferência de abertura da oitava edição da Festa Literária
Internacional de Paraty (Flip), defendeu ontem (4) a adoção de ações
afirmativas no Brasil, mas alertou que é preciso “evitar que a ideia de
raça seja o critério definidor absoluto” dessas medidas. Segundo FHC,
esse era um equívoco das primeiras versões do Estatuto da Igualdade
Racial.
Para Fernando Henrique, a definição de cotas para o ingresso em
instituições de ensino, por exemplo, “implica fixar identidades. E isso é
perigoso porque pode implicar uma posição, outra vez, racista”. Mesmo
fazendo o alerta, o ex-presidente da República preferiu se classificar
como “não é taxativo” em relação à matéria.
FHC que falou sobre as obras do sociólogo Gilberto Freyre,
homenageado deste ano pela Flip, durante a conferência e destacou que a
questão no Brasil hoje está equivocadamente na definição de identidades.
“Gilberto Freyre pensava o contrário, que não devia haver marcas de
identidade, mas uma flexibilidade que permitisse o sincretismo. É o
movimento negro que insiste muito nas diferenças. Freyre não insistia
nas diferenças, ele minimizava o fator raça. [Para Freyre] o bom mesmo
que é haja uma mistura”.
Mesmo reconhecendo o legado deixado por Gilberto Freyre, na década de
50, Fernando Henrique fez parte de uma corrente de sociólogos críticos
de algumas ideologias defendidas pelo escritor. O ex-presidente lembrou
que o posicionamento contrário tinha justificativas em posições adotadas
por Freyre como a defesa do “lusotropicalismo que justificava a
presença colonizadora de Portugal na África. Não dá para não criticar.
Depois, quando veio o golpe de 64, ele [Freyre] apoiou e obviamente nós
estávamos de outro lado. Ele era um conservador. Eu diria que ele era um
democrata conservador”.
Fonte: Carolina Gonçalves - Agência Brasil
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