País ocupa a 17ª posição entre 21 concorrentes globais e numa escala de 1 a 7 obtém nota 3,4, abaixo da média mundial de 4,1
A qualidade da infraestrutura brasileira é das piores no
mundo, mesmo com a arrancada dos investimentos nos últimos quatro anos.
Comparado a outros 20 países, com os quais concorre no mercado global, o
Brasil ficou apenas na 17.ª colocação no quesito qualidade geral da
infraestrutura, empatado com a Colômbia. Numa escala de 1 a 7, o País
teve nota 3,4, abaixo da média mundial, de 4,1.
As informações são de um estudo inédito da LCA Consultores, cuja
fonte foi o relatório de competitividade 2009/2010 do Fórum Econômico
Mundial, localizado em Genebra, na Suíça. A avaliação é feita por
empresários e especialistas de cada nação. No Brasil,181 questionários
foram respondidos.
A má qualidade das estradas, portos, ferrovias e aeroportos
brasileiros não chega a ser novidade. Mas faltava uma comparação
internacional que desse uma noção mais clara de quão atrasado está o
País.
A distância que separa o Brasil das primeiras posições é enorme. A
França, que ocupa o topo da lista, teve nota 6,6, seguida de Alemanha
(6,5) e Estados Unidos (5,9). Entre as outras nações que deixaram o País
na rabeira, estão o México, a China, a Turquia, a África do Sul e o
Chile.
"Ficamos décadas sem investir e isso fez com que acumulássemos
gargalos que ainda se refletem no estado atual da nossa infraestrutura",
diz o economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, autor do
estudo.
Foi no item qualidade da infraestrutura portuária que o Brasil teve o
pior desempenho. Com 2,6 pontos, o País foi o lanterninha do grupo, bem
distante da média mundial de 4,2. No setor ferroviário, o padrão de
qualidade brasileiro só não é pior que o da Colômbia: teve nota 1,8,
ante uma média mundial de 3,1.
A sequência de notas nada lisonjeiras não para por aí. A qualidade
das estradas brasileiras, por onde trafega mais da metade das cargas no
País, supera apenas a da Rússia. Com 2,8, ficou empatada com a da
Colômbia, na penúltima colocação.
O desempenho do setor aeroportuário (nota 4,1) também é fraco: ganha
só da Rússia (4,0) e da Argentina (3,4). Para quem vai receber, dentro
de pouco tempo, dois megaeventos esportivos - a Copa do Mundo de 2014 e a
Olimpíada de 2016 -, a pontuação funciona como um sinal de alerta. "Se a
gente não fizer nada, somando esses eventos com o crescimento da
economia, que deve ser de 5% ao ano, está encomendado aí um apagão", diz
o economista da LCA.
Bem na fita. O único destaque positivo do Brasil foi a qualidade da
oferta de energia. Com nota 5,2, ela ficou acima da média mundial, 4,6.
Foi também a maior nota entre os Brics, termo criado pelo banco de
investimento Goldman Sachs para denominar o grupo de economias
emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China.
"Estamos bem na fita porque a energia é o único setor no País que tem
um modelo de concessão onde o Estado retomou a capacidade de
planejamento", diz o diretor do departamento de infraestrutura da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos
Cavalcanti.
Uma das principais qualidades desse modelo, segundo Cavalcanti, é o
preço-teto dos leilões de energia pela menor tarifa. É o chamado leilão
reverso. "No modelo de concessão onde o Estado se beneficia, por meio de
cessão onerosa, a renda que vai para o governo é repassada depois para a
tarifa", diz o executivo. Um exemplo são os preços dos pedágios
cobrados nas rodovias privatizadas no País.
Para dar um salto de qualidade nos demais setores da infraestrutura, o
desafio é conseguir imprimir velocidade aos investimentos na mesma
proporção da demanda, opina o presidente da Associação Brasileira da
Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy. "Precisamos
melhorar a eficiência do setor público", afirma Godoy. "Essa é a chave
para o Brasil encontrar seu crescimento definitivamente sustentável."
Braulio Borges, da LCA Consultores, acha que a solução passa pela
reforma do sistema de regulação. "A qualidade da regulação no Brasil
está abaixo, por exemplo, da média da América Latina", diz o economista.
"A gente sabe que o investimento privado em infraestrutura precisa de
estabilidade de regras. Se há pouca estabilidade, não há investimento."
O presidente do Movimento Brasil Competitivo, Erik Camarano, defende
uma revisão da matriz de transporte no País. "Temos de fazer a migração
do transporte rodoviário em direção a mais uso de ferrovias e hidrovias
para reduzir custo de frete."
Fonte: Marcelo Rehder - O Estado de S.Paulo
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