Chega a ser patética a tentativa das autoridades brasileiras
de se livrarem do vexame que protagonizaram diante da atuação exitosa
do governo espanhol para liberar presos políticos de Cuba.
Trabalhando
junto à Igreja Católica de Cuba, o governo da Espanha, representado por
seu ministro das Relações Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, conseguiu
obter do governo ditatorial cubano o compromisso de libertar 52 dos 167
presos políticos do país, figura que o presidente Lula dizia que não
existia na sua ilha caribenha preferida.
O ministro Celso Amorim
chegou a insinuar que o Brasil teve "atuação discreta" na decisão, e o
assessor especial Marco Aurélio Garcia, dublê de coordenador da
campanha de Dilma Rousseff, ainda menosprezou a atuação da Espanha,
sugerindo que a participação brasileira teria sido mais efetiva, apesar
de "discreta", e que o chanceler espanhol apenas se aproveitou da
situação para anunciar o fim das negociações.
No entanto, não é
de hoje que a oposição cubana se queixa da posição brasileira de alegar
a "não ingerência" nos negócios internos de outro país para se eximir
de pressionar o governo cubano a favor dos direitos humanos.
Na
primeira visita de Lula a Cuba como presidente, logo após a crise em
que alguns dissidentes que tentaram fugir da ilha foram fuzilados,
houve muitas queixas de que Lula não tocara no assunto em seus
encontros.
Na ocasião, Frei Betto, que era assessor especial da
Presidência, garantiu que Lula conversara com Fidel, que ficara
irritado e cobrara dele atuação mais firme na reforma agrária, a favor
do MST.
O fato é que Lula e todos os membros do governo que têm
uma relação pessoal com Cuba consideram que não devem fazer críticas
públicas ao governo cubano.
Alegam que é mais eficiente tratar de
assuntos delicados discretamente. É uma tática de quem trata com um
amigo, e não de Estado para Estado. E os resultados, até o momento, têm
sido nulos.
Essa atitude já produziu fatos não condizentes com o
Estado democrático, como a entrega ao governo cubano — que os resgatou
em território nacional, à noite, em um avião venezuelano — dos
pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que haviam
fugido da concentração durante os jogos do campeonato Panamericano no
Rio em 2007, e queriam ficar no Brasil asilados.
Meses depois,
desmentindo o governo brasileiro, que disse que os cubanos pediram para
voltar ao seu país, Erislandy Lara, bicampeão mundial amador da
categoria até 69 quilos, chegou a Hamburgo, na Alemanha, depois de ter
fugido em uma lancha de Cuba para o México.
Em 2009, Rigondeaux acabou fugindo para Miami, nos Estados Unidos.
O
prestígio internacional do presidente ficaria abalado depois de sua
atitude diante da morte do dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo em
uma prisão, após 85 dias de greve de fome.
Lula chegou para mais
uma de suas visitas a Cuba justamente no dia em que Zapata morreu, e em
que outro preso político, Guilhermo Fariñas, começava a sua greve de
fome, que só terminou agora com o acordo patrocinado pela Espanha e
pela Igreja Católica.
Lula posou sorridente ao lado de Fidel e
Raul Castro, e, quando questionado sobre a greve de fome, fez diversas
declarações, todas elas defendendo o governo cubano e acusando os
presos políticos.
"Temos de respeitar a determinação da Justiça e
do governo cubano de prender as pessoas em função da legislação de
Cuba, como quero que respeitem a do Brasil".
Como se na ditadura cubana houvesse leis para serem acatadas.
Ou
então: "Eu gostaria que não ocorresse (prisão de presos políticos), mas
não posso questionar as razões pelas quais Cuba os prendeu, como não
quero que Cuba questione as razões pelas quais há pessoas presas no
Brasil".
Continuando a confundir presos políticos com criminosos
comuns, dentro da mesma linha adotada pela ditadura cubana, Lula
saiu-se com esta: "Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada
como um pretexto dos direitos humanos para libertar pessoas. Imagine se
todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de
fome e pedirem liberdade".
Na ocasião, o jornal espanhol "El
País", que havia lhe dado o título de homem do ano, criticou sua
atitude em um editorial, afirmando que o governo brasileiro poderia
exercer mais pressão sobre o regime cubano, em especial na área de
defesa de direitos humanos.
Além do fato de que não é verdade que
o governo brasileiro tem por princípio a não interferência nos assuntos
internos de outros países — basta lembrar a atuação de nossa diplomacia
no caso de Honduras —, o próprio Lula já se gabou de ter dito ao
presidente Barack Obama que ele deveria ter a mesma audácia dos
eleitores que o colocaram na Casa Branca, e acabar com o bloqueio
econômico a Cuba.
Portanto, quando é para defender os interesses
da ditadura cubana, Lula está sempre à disposição. Mas não move uma
palha para conseguir de seus amigos uma atitude mais humanitária em
relação aos presos políticos.
Mas, se é verdade que atua com
discrição nos bastidores, até o momento suas ações, tanto em Cuba
quanto na ditadura teocrática do Irã, têm sido fracassadas.
Algum
assessor precisa urgentemente avisar à candidata oficial, Dilma
Rousseff, que rubrica é uma assinatura abreviada, de acordo com o
dicionário.
Fonte: Blog do Noblat
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