O Twitter assumiu papel de protagonista nestas eleições
antes mesmo de a campanha começar. Mas não da forma que os candidatos
esperavam. Inicialmente pensado como um palanque para conquistar o
eleitor jovem, o microblog transformou-se em espaço para intrigas
políticas, comentários pessoais, cutucões virtuais e bate-boca online -
ou, como preferiu definir o presidente do PT, José Eduardo Dutra,
"bate-dedos".
Hoje, são muitos os políticos com perfil no site. Vão de deputados e
senadores aos candidatos à Presidência, passando por lideranças
partidárias. E o que surgiu como ferramenta de campanha transformou-se
em hábito. "Já há algum tempo tento ser mais jovem e faço esforço para
participar dessas redes", conta o presidente do PPS, Roberto Freire
(@freire_roberto, 3.475 seguidores), um dos mais ativos no Twitter. "Às
vezes eu tenho de tomar um certo cuidado para não virar a noite, porque
você fica lendo e perde a noção."
Freire já atuou em algumas das polêmicas do Twitter. Durante a
semana, chegou a ter uma breve discussão com o ministro do Planejamento,
Paulo Bernardo (@paulo_bernardo, 5.847 seguidores), sobre o crescimento
econômico do País. "Mas o Paulo Bernardo é um petista democrático, é
bom discutir com ele", minimiza Freire, acrescentando que já teve de
bloquear alguns usuários "com quem não há a menor condição de
interagir".
Indiscrição. A escolha do vice de José Serra (PSDB) foi a primeira
crise com raízes no Twitter nas eleições deste ano. Seu estopim foi um
tweet - texto de no máximo 140 caracteres -, postado no perfil do
presidente do PTB, Roberto Jefferson (@blogdojefferson, 3.804
seguidores). "Falei agora com o Sergio Guerra. O vice será o Alvaro
Dias", tuitou, antes que a notícia chegasse aos aliados do DEM. "Esqueci
que sou político, agi como tuiteiro", explica Jefferson, que garante:
"Eu não cometo excessos."
O anúncio antecipado gerou reações imediatas dentro e fora da rede.
Líderes do PSDB e do DEM correram ao microblog a para comentar - uns
para defender a escolha, outros para criticá-la. Quando os tucanos
retrocederam e apontaram o deputado fluminense Índio da Costa
(@depindiodacosta, 39.153 seguidores), mais uma vez foi no Twitter que a
notícia chegou primeiro.
Jefferson conta que entrou "firme" no Twitter "há uns 30 dias".
"Achei uma coisa excelente, você dá uma tuitada e já fica esperando as
reações. É como se fosse uma pesquisa de tracking", comenta, empolgado.
Ele é um dos políticos mais ativos na rede, com uma média de 14 tweets
por dia. "Se você fizer um comentário ruim, se entrar errado, na mesma
hora vai ver as reações", diz.
Petistas também já provaram o lado amargo do microblog. Em abril, o
tuiteiro Marcelo Branco (@marcelobranco, 6.225 seguidores) - responsável
na campanha de Dilma Rousseff (PT) pela mobilização de internautas -
causou desconforto ao criticar a Rede Globo em sua página.
Dutra (@zedutra13, 3.334 seguidores) protagonizou uma troca de farpas
via Twitter com o jornalista Ricardo Noblat. Ao se afastar da
discussão, Dutra tuitou: "Caraca, esse negocio vicia mesmo. Estava no
circo, sem bateria, e quase em crise de abstinência."
Notívagos. O horário de maior atividade dos políticos tuiteiros é à
noite, depois das 21 horas. Já se tornou tradição, às vésperas da
divulgação de nova pesquisa eleitoral, políticos passarem madrugadas
estimando os resultados. Com a velocidade típica da rede, com frequência
notícias falsas ganham destaque. "Aquilo tem uma velocidade muito
grande, é uma Babel", opina Freire.
Por vezes, os comentários políticos dão lugar a recomendações
musicais, detalhes da rotina ou - em tempos de Copa do Mundo - análises
futebolísticas. "Acho que está constatado que existe um certo voyeurismo
tuítico", avalia Alfredo Sirkis (@alfredosirkis, 1.561 seguidores),
vice-presidente do PV e um dos coordenadores da campanha de Marina
Silva. "As pessoas se interessam por aspectos da rotina e pela vida
pessoal das figuras públicas. Mas sou da velha escola, não misturo
público com privado." No entanto, opina: quem fala da própria vida no
microblog ganha seguidores. "Isso, aliás, faz muito sucesso."
Os três principais candidatos à Presidência também têm perfil na
rede. José Serra (@joseserra_, 275.712 seguidores) é o mais
participativo. Notívago confesso, ele costuma escrever nas madrugadas,
quando envia vários tweets em sequência. Serra se mostra familiarizado
com a linguagem típica do microblog e usa abreviaturas como "rs"
(risos). Fala de música e futebol, mas principalmente comenta sua agenda
de campanha. Ele já prometeu que continuará a escrever no site, se for
eleito.
Dilma Rousseff (@dilmabr, 99.479 seguidores) é a candidata que menos
escreve e restringe seus tweets aos compromissos de campanha. Marina
Silva (@silva_marina, 81.506 seguidores) é a presidenciável que usa o
Twitter há mais tempo. Ela evita falar da vida pessoal, mas nos jogos do
Brasil na Copa foi uma das tuiteiras mais assíduas, comentando os jogos
em tempo real.
Fonte: Lucas de Abreu Maia - O
Estado de S.Paulo
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