Presidenciável tucano fala em criar 154 AMEs, os ambulatórios de especialidades; modelo é recebido com dúvidas por muitos médicos
As filas no Sistema Único de Saúde (SUS) foram alvo de
promessa do presidenciável José Serra (PSDB). O tucano disse ontem que
acabará "de vez" com a espera para exames e consultas médicas. Notícia
postada em seu site afirmava que Serra, se eleito, irá criar 154 AMEs
(Ambulatórios Médicos de Especialidades)
São "clínicas projetadas para fazer consultas, exames de alta e média
complexidade, como ultrassonografias e endoscopias, e até pequenas
cirurgias", explicou. As clínicas levam o mesmo nome das implantadas
durante seu governo no Estado de São Paulo.
As AMEs foram inspiradas nas AMAs, criadas por Serra em 2005 quando
era prefeito de São Paulo para desafogar os hospitais de casos que não
implicavam risco imediato de morte.
O modelo das AMAs ? para pronto-atendimento, como o de uma crise de
pressão alta ? tem semelhança, por sua vez, com as UPAs, unidades
disseminadas pelo governo Lula principalmente a partir de 2008.
A expansão de UPAs e AMAs levou o Centro Brasileiro de Estudos da
Saúde (Cebes) a alertar, em 2008, que é "inaceitável" dar prioridade às
UPAs e AMAs, "modelo ultrapassado e imediatista de instalação focada de
unidades". O temor era de que a aposta de investir em pronto-atendimento
desviasse investimentos da atenção básica, praticada por postos de
saúde e pelo Programa Saúde da Família, responsáveis pela prevenção e
acompanhamento dos pacientes, e que têm sido esquecidos pelos gestores
de todo o País.
Outra preocupação era de que a criação de outros serviços
fragmentaria ainda mais a rede de saúde pública no País.
Para especialistas ouvidos pelo Estado, a promessa feita por Serra
tem limitações. Eles destacam que é impossível acabar com as filas no
sistema público. "Isso é bobagem, não haverá tanta redução assim (no
tempo de espera)", diz Jorge Kayano, médico sanitarista e pesquisador do
Instituto Polis. Para ele, os 154 AMEs propostos por Serra são "gotas
no oceano". Ele concorda que o maior gargalo no atendimento são, de
fato, as consultas com médicos especializados, mas defende que os AMEs
sejam criados em parceria com programas prestados por Estados e
municípios.
Vânia Nascimento, presidente da Associação Paulista de Saúde Pública,
concorda: "Os AMEs só darão certo se forem um pacto entre as três
esferas da federação". Para ela, não é possível aplicar o modelo de São
Paulo em Estados com necessidades diferentes. Ela aponta a importância
de ampliar investimentos no acompanhamento do paciente ? sobretudo para
doenças crônicas, como diabetes ou hepatite. "Se não for criada uma
estrutura de acompanhamento do paciente, os AMEs ficarão
sobrecarregados."
As esperas são realidade comum a todos os sistemas universais de
saúde, mesmo nos países desenvolvidos como a Grã Bretanha. O que os
difere é a determinação de critérios de organização. Em São Paulo, há
pouco dados oficiais sobre o problema. Recente pesquisa de satisfação do
governo paulista apontou que, em relação a exames e procedimentos
ambulatoriais de alta complexidade, de 42.082 questionários respondidos
por pacientes, 64% afirmaram ter esperado menos do que 21 dias. Outros
29% esperaram entre 21 dias e seis meses. E 7%, mais de seis meses.
Fonte: Fabiane Leite, Lucas de Abreu Maia - O Estado de S.Paulo
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