Serra diz que Estado foi loteado entre partidos e acusa governo Lula de ter criado "república sindicalista


O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou, na noite de quarta-feira, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de promover uma "frenética" partidarização do Estado brasileiro e de criar uma "república sindicalista". Em encontro com artistas e intelectuais, em restaurante da Zona Sul do Rio, o tucano disse que existe hoje uma elite sindical amarrada ao governo que está privatizando toda a estrutura do Estado em benefício próprio.
" Privatizar aqui não é vender para uma área privada, é ver um órgão estatal ser apropriado por interesses partidários "

- A partidarização (do Estado) é evidente. Você tem uma empresa boa, a de Correios e Telégrafos, hoje no chão justamente por causa do loteamento político. Isso prejudica a empresa, que tem bons funcionários,que tem que permanecer estatal. Isso porque foi entregue a um grupo que não tem nada a ver com a finalidade da empresa. Isso é geral, no Estado brasileiro inteiro. Tudo loteado, dividido, tudo privatizado. E privatizar aqui não é vender para uma área privada, é ver um órgão estatal ser apropriado por interesses privados, partidários.
" O que vemos é uma partidarização frenética do Estado brasileiro "

O tucano comparou o aparelhamento do Estado às críticas feitas durante o governo do ex-presidente João Goulart, que ocupou o cargo entre 1961 e1964.
- O que vemos é uma partidarização frenética do Estado brasileiro. Está tudo aparelhado. Em 1964 falavam da República sindicalista do Jango. Brincadeira. Conheci todos no exílio. Eram anjinhos - disse Serra em discurso.
" Agora, tem uma República sindicalista "

- Não tem nada a ver com o que acontece agora. Agora, tem uma República sindicalista. É uma elite sindical alinhada ao governo pelo dinheiro para fazer um trabalho político partidário - acrescentou o tucano. 

O candidato reiterou que se for eleito vai "estatizar o Estado brasileiro".
- Isso é essencial para acabar com a corrupção - ressaltou. 

Serra afirmou ainda que o governo Lula usa estatais para fins políticos na área cultural. Para ele, a Petrobras lidera a estratégia do presidente. 

Cerca de 150 pessoas compareceram ao encontro
Serra chegou ao encontro por volta das 23h e cumprimentou cada um dos presentes. Foram convidados mais de 300 artistas e intelectuais de diversas áreas, como música, teatro, TV, cinema e literatura. Mas menos de 150 pessoas foram ao local. Entre eles, os atores Carlos Vereza, Stephan Nercessian, Maitê Proença, e Rosa Maria Murtinho; os músicos Fausto Fawcet, Charles Gawin, Sandra de Sá; os cineastas Zelito Viana e Andrucha Waddington; o humorista Marcelo Madureira; e o escritor Iva Junqueira, entre outros. Muitos chegaram a afirmar que foram ao encontro para ouvir as propostas do candidato para o setor. Serra, no entanto, limitou-se a pedir que os convidados enviassem sugestões para serem debatidas. 

Em um discurso longo, ele lembrou do seu envolvimento com a cultura quando era dirigente estudantil - época em que conheceu o poeta Ferreira Gullar, seu amigo, que ficou o tempo todo ao seu lado - e de projetos elaborados na época em que foi prefeito e governador de São Paulo. Ele defendeu que o Estado divida com a sociedade as decisões relativas aos incentivos à indústria cultural e afirmou que não basta a Lei Rouanet para fomentar o setor.
" Tem que se diversificar as fontes de financiamento. Não basta a Lei Rouanet "

- Para mim, um aspecto básico da cultura é a diversidade. Nessa perspectiva, acho que as decisões a respeito de projetos culturais deveriam ser diversificadas. Deveriam ser tomadas por empresários, artistas, governo, organizações da sociedade, ONGs. Não deveria haver um centro de decisões tutelando isso pois esse é um trabalho que deve ser feito em conjunto, mesmo com todos os problemas e contradições que isso acarreta. Tem que se diversificar as fontes de financiamento. Não basta a Lei Rouanet. É preciso de recursos maiores que cheguem de alguma outra forma. Na prefeitura da capital, duplicamos o orçamento para a Cultura. No Governo, triplicamos. Aproveitamos a Lei Rouanet, mas também fizemos isso criando fundos, incentivos - disse o candidato aos convidados. 

Além dos artistas e intelectuais, estiveram presentes ao encontro o candidato a vice na chapa de Serra, o deputado federal Indio da Costa (DEM); o candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira; o candidato do PPS ao Senado, Marcelo Cerqueira; e o deputado federal Marcio Fortes (PSDB). Serra deixou o restaurante por volta de 1h30m. 

Fonte: Natanael Damasceno - O GloboReuters

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