Após disputar paternidade do Bolsa-Família, Serra e Dilma preparam metas ambiciosas
Com
a consolidação da questão social como o tema deste início de campanha,
os candidatos à Presidência da República José Serra (PSDB) e Dilma
Rousseff (PT) vão turbinar as suas iniciativas na área, aumentando
ainda mais a temperatura do debate.
Nas diretrizes do programa de governo do tucano, que devem ser
divulgadas na próxima semana, o PSDB pretende dizer que vai aumentar os
gastos com o Bolsa-Família: passando de 0,4% do PIB para 1,5%. No front
petista, haverá o anúncio de uma espécie de segunda fase do programa,
com um foco maior nas condicionalidades, como ampliar acesso a educação
e saúde.
Os dois principais candidatos à Presidência aproveitaram a primeira
semana para tentar colar suas impressões digitais na discussão. Serra
afirmou que, se eleito, vai duplicar o número de famílias beneficiadas
com o Bolsa-Família. Dilma aproveitou para rebater: "Com que autoridade
alguém que acabou de deixar o governo diz que vai dobrar o
Bolsa-Família, sendo que não deu o Bolsa-Família no Estado?" A petista
também fala em ampliação.
Em 2002, a campanha de Serra usou o lema "Nada contra a
estabilidade, tudo contra a desigualdade". O então adversário Luiz
Inácio Lula da Silva adotou o jargão "Fome Zero". "Esses temas depois
submergiram. Não era a preocupação da opinião pública. Agora é o
oposto", afirmou o economista Marcelo Néri, um dos maiores estudiosos
em pobreza e desigualdade do País.
Para o economista, a agenda social deveria focar agora na qualidade
do programa, mais que no tamanho. A proposta de Serra de dobrar o
Bolsa-Família o levaria a mais 12 milhões de famílias. "Atingiria mais
que o número de miseráveis no País", disse Néri.
Dilma não cita números. "Quem tem o social como núcleo do programa
de governo não precisa ficar fazendo promessas em números. O programa
central da Dilma é erradicar a pobreza", disse o deputado Rui Falcão,
que participa da elaboração do plano petista. "Serra promete, mas em
São Paulo há 100 mil famílias fora do programa."
O foco do Bolsa-Família são famílias com renda per capita de até R$
140 - 12,9 milhões de famílias nas contas do governo. O programa atende
12,3 milhões e tem como meta até o fim do ano atender a outras 600 mil.
Ou seja, se considerar o mesmo critério de pobreza usado pelo próprio
Ministério do Desenvolvimento Social, não há sentido os candidatos
falarem em ampliação do programa.
O texto provisório do plano de governo petista fala em "aperfeiçoar"
o programa e na "consolidação ampla da rede de proteção". Isso
significa articular sistemas de atendimento das pastas da Educação e
Saúde ao Bolsa-Família e dar prioridade de atendimento aos beneficiados.
Para o vereador tucano Floriano Pesaro, que atua no programa de
governo do PSDB na área, o partido priorizará o "atendimento integral
das famílias, levando em consideração o Índice de Desenvolvimento
Humano dos municípios em que se encontram as famílias cadastradas".
Paternidade. Os tucanos tentam chamar para si a paternidade do
Bolsa-Família dizendo que ele se originou no Bolsa-Alimentação,
iniciativa de Serra quando era ministro da Saúde. A ideia é dizer que o
projeto compunha as ações sociais da era FHC, que culminaram no
Bolsa-Família.
"Nos chamam para esse embate como se fosse ruim para nós", afirmou o
coordenador do programa de governo de Serra, Xico Graziano, citando o
número de 6 milhões de famílias incluídas na rede de proteção social de
FHC em dois anos. "Hoje são mais de 12 milhões de famílias. Portanto,
eles não fizeram em oito anos mais do que a gente fez em dois."
Um dos textos sociais em discussão entre os tucanos diz que
"incentivos devem ser introduzidos no Bolsa-Família para aumentar a
quantidade e o aprendizado do aluno". Estuda-se a criação de mecanismos
de concessão de crédito para as famílias cadastradas no programa.
Já no documento recente enviado ao TSE, o PT afirmou: "Esses
resultados (do Bolsa-Família) precisam ser mantidos a médio e longo
prazo". O texto não menciona números.
AGENDA DE HOJE
José Serra (PSDB)
O candidato tucano viaja para o Espírito Santo. Entre as 14 e 19
horas, Serra terá compromissos em Vila Velha, Vitória e Município da
Serra - mas o roteiro não foi confirmado.
Fonte: Julia Duailibi e Adriana Carranca - O Estado de S.Paulo
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