“Ao contrário de Lula, Dilma Rousseff é menor que o PT”


Candidato ao Senado, Aloysio Nunes Ferreira analisa o cenário da eleição presidencial. Em entrevista exclusiva ao Brasil Econômico, ele fala da gestão FHC, das perspectivas de vitória e faz críticas ao PT. 

Não foram poucos os tucanos que defenderam, até o último momento, a escolha de Aloysio Nunes Ferreira como candidato do PSDB ao governo paulista.

Amigo pessoal e homem da estrita confiança de José Serra, ele foi, como chefe da Casa Civil do Governo de São Paulo, o mais privilegiado interlocutor do executivo com prefeitos, parlamentares e lideranças locais.

Além do capital político, Aloyisio conta com um currículo que o credencia para pleitear a vaga. Foi líder estudantil, lutou contra a ditadura e acabou exilado.

De volta ao Brasil, foi deputado, ministro da Secretaria Geral da Presidência e da Justiça. Na reta final das negociações, porém, os traumas de 2006 e 2008, quando o PSDB chegou dividido nas eleições para a presidência e prefeitura, falaram mais alto.

Geraldo Alckmin foi o escolhido para suceder Serra e Aloysio para disputar o Senado. Nesta entrevista ao Brasil Econômico, o candidato tucano bate duro no PT e no governo Lula, dando pistas de como será a linha auxiliar tucana daqui para frente.

Como avalia o desempenho do Senado nos oito anos de governo Lula?
O Senado viveu uma crise ética grave, que acabou por desgastar muito a imagem pública do líder do governo, o (Aloizio) Mercadante, com suas renúncias irrevogáveis, mas revogáveis.
O Congresso como um todo atuou de maneira errática por falta de uma agenda definida. No presidencialismo quem dá o tom da ação legislativa é o governo. Os problemas no Congresso decorrem do tipo de aliança que se faz no varejo.

Na gestão Fernando Henrique foi diferente?
Pouco antes de sua posse, FHC reuniu as bancadas no Congresso para apresentar um esboço das propostas que iria enviar logo em seguida. Nem de longe tivemos isso no atual governo.
O presidente Lula não elaborou uma proposta de reforma tributária. Ele deixou o Congresso solto.
Fizeram uma sopa de pedra, juntando interesses contraditórios. Acabou virando um monstrengo, uma anti-reforma tributária.
A mesma coisa aconteceu com a reforma política e o código florestal. Nas questões importantes, o governo está ausente.

O senhor teve 6% das intenções de votos na última pesquisa ao Senado. Ficou frustrado?
Esse número não me impressionou. Eu sabia que não teria, neste momento, uma intenção de voto alta. Se você fizer uma enquete expontânea, verá que o índice de definição de voto ao Senado ainda é baixo.
Esse debate não está na ordem do dia. As pessoas estão mais interessadas na eleição para presidente.

O senhor conta com a transferência de votos de José Serra e Geraldo Alckmin para mudar esse cenário?
Conto com eles. A candidatura ao Senado é uma onda, que cresce na medida em que se insere numa corrente política que lhe dê significado. E a corrente na qual estou inserido é majoritária na política paulista.
Além disso, tenho alguns atributos e relações políticas que me permitirão reforçar esse grupo. Fui principal interlocutor do governo Serra com a Assembleia e os municípios.

Imaginava um cenário mais confortável para Serra nas pesquisas neste começo de campanha?
Raramente uma eleição termina do jeito que a pesquisa aponta antes do inicio oficial da campanha.
O fato é que a candidata do PT seria nula, do ponto de vista político, se não fosse a força do presidente Lula. Já o Serra existe por si só.
Tenho certeza de que o eleitor vai escolher quem tenha condições de liderar o país a partir de seus atributos próprios.
Quem vai governar, quem vai sentar naquela mesa de reuniões do terceiro andar do Palácio do Planalto, não será o Lula.
Até agora a candidata do PT tem se preservado muito. Vai chegar um momento que o eleitor perceberá a envergadura política de cada um.

Que erros do PSDB em 2006 serviram de lição para a campanha de 2010?
O PSDB está mais unido e temos uma aliança mais ampla, que envolve PTB, PPS e DEM. Também estamos em situação mais forte em estados onde estávamos frágeis em 2006.

Quais?
Na Bahia e no Piauí por exemplo. E também em Minas Gerais. O Aécio (Neves) está muito empenhado e envolvido na campanha do Serra. Não que não estivesse antes, mas agora está no final de um segundo mandato vitorioso.

Esse movimento mineiro, batizado de "Dilmasia", que prega o voto no PSDB local e no PT nacional, preocupa?
Isso é besteira. No fim, o cenário lá vai se polarizar, assim como aqui em São Paulo.

Depois de um processo longo e desgastante, o PSDB escolheu um vice com perfil jovem para Serra. O que Indio da Costa agrega para a campanha?
O processo foi desgastante, mas terminou. O Indio tem boa imagem, biografia e é identificado com a bandeira da ética na política. Ele dá abertura para renovação.

Além da disputa de poder, o senhor acredita que existem diferenças programáticas profundas que justifiquem a disputa política entre o PT e o PSDB? Acha que os dois partidos podem se unir algum dia?
Do ponto de vista da democracia, existe uma diferença fundamental. O PT dá muitas vezes a impressão de que considera a democracia algo instrumental.
O partido aparelhou os movimentos sociais. Cooptou o movimento dos trabalhadores rurais, das mulheres e a UNE. E ainda fragmentou órgãos do governo, que foram entregues a grupos atrasados e fisiológicos.

Quais orgãos?
As agências reguladoras e setores importantes da Petrobrás e BR Distribuidora, por exemplo. Está se formando no Brasil um sistema de poder baseado na elite sindical e em grupos fisológicos.
Estão criando um sistema que vai fazer os empresários mais poderosos do Brasil se ajoelharem e lamberem o chão caso não se dobrem aos interesses deles. Essa elite escolhe quem são os ganhadores do jogo da economia.
Indicam com os dedos quais são as grandes empresas com quem vão se associar, como era usual no regime militar.
Penso que o presidente Lula tem uma autoridade e liderança próprias que lhe permitem manter esses fatores de poder sob relativo controle.
Já a candidata do PT não me parece ter esse grau de maturidade. Ela é menor que o PT, já o Lula é maior.
O episódio do dossiê mostra que nem o comitê de campanha é controlado por ela. Tinha uma ala espionando a outra e as duas tentavam espionar o adversário.

É favorável à autonomia do Banco Central?
Não. Como disse o Serra, o Banco Central não é a Santa Sé. Não se pode conduzir a economia com base no voluntarismo.

Paulo Vieira de Souza, o ex-diretor de engenharia da Dersa, que foi preso em flagrante por interceptação de material ilícito, era muito próximo ao senhor. Esse episódio pode atrapalhar na campanha?
Sou responsável pelos meus próprios atos, não pelo dos outros.

Orestes Quércia é um desafeto histórico do PMDB. Tê-lo como aliado não espanta a militância?
O PSDB vem do PMDB. Nossos militantes têm plena consciência na importância desta aliança para ganhar a eleição.
Quércia teve papel muito importante na atração de setores do PSDB para apoiar a candidatura Serra.
Além disso, o PMDB de São Paulo participou dos governos do PSDB. O partido faz parte da base do governo na Assembleia Legislativa paulista.

José Serra fez um discurso indicando nas entrelinhas que, se vencer a eleição, chamará o senhor para ser ministro. O senhor cogita essa possibilidade?
Isso foi seguramente uma palavra gentil e carinhosa do Serra. Não há nenhuma intenção concreta nesse sentido, até porque precisamos primeiro ganhar as eleições. Por enquanto, sou candidato ao Senado.

Qual sua posição sobre os royalties do pré-sal?
Os royalties devem ter um caráter compensatório. Devem, portanto, ser dirigidos às áreas afetadas pela extração petrolífera.
Isso é o que diz a Constituição brasileira. Não tem cabimento a distribuição segundo critérios do fundo de participação dos estados.

Fonte: Pedro Venceslau (pvenceslau@brasileconomico.com.br) - Brasil Econômico

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