Revelação de que dossiê contra tucanos contém informações sigilosas faz partido acusar campanha de Dilma de práticas ilegais
A
revelação de que um grupo ligado à campanha da candidata petista Dilma
Rousseff (PT) teve acesso a dados fiscais sigilosos do vice-presidente
do PSDB, Eduardo Jorge, levou lideranças tucanas reunidas ontem, em
Salvador, a acusar os responsáveis pela campanha de Dilma de "práticas
ilegais".
Reunidos na convenção nacional que formalizou a candidatura de José
Serra à Presidência, os tucanos lembraram que se trata de dados que,
por lei, são exclusivos da Receita Federal e do próprio declarante. O
episódio, segundo os tucanos, associa a campanha petista a
irregularidades como a quebra de sigilo fiscal e bancário.
"Em que país estamos, em que um cidadão tem a conta bancária
devassada dessa forma? Isso não faz parte da regra do jogo. As
instituições estão sendo esculhambadas", afirmou o deputado Arnaldo
Madeira (PSDB-SP). "O PT reincide em uma prática criminosa, usando
instrumentos do governo (para quebrar sigilo bancário)", reforçou o
líder tucano João Almeida (BA). Ele acrescentou que Eduardo Jorge "foi
brutalmente perseguido mas provou que não tinha nenhum envolvimento com
prática ilícita".
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, dossiê montado por grupo
vinculado a uma parte da campanha de Dilma contém informações sobre
depósitos efetuados em contas bancárias de Eduardo Jorge e detalhes da
sua declaração de Imposto de Renda. A revelação trouxe à memória de
muitos participantes da convenção o caso do caseiro Francenildo Costa,
cujo sigilo bancário foi quebrado em março de 2006 - um episódio em que
estavam envolvidas pessoas ligadas ao PT e ao governo Lula e que custou
o cargo ao então ministro da Fazenda, deputado Antonio Palocci (PT-SP).
No sábado retrasado, o Estado tinha informado que arapongas a
serviço do comitê de Dilma tinham rastreado a movimentação financeira
de vários membros da cúpula do PSDB.
Encontros. O escândalo do dossiê começou há duas semanas, quando
reportagem da revista Veja revelou que o jornalista Luiz Lanzetta,
contratado pela campanha de Dilma, tinha se reunido com arapongas
ligados a serviços secretos oficiais. A missão, segundo alguns de seus
participantes, seria reunir informações contra os adversários do PT.
Dias depois, Lanzetta se desligou da campanha de Dilma.
Um tucano presente à convenção informou que o PSDB vai explorar
"contra Dilma" a suposta ação de espionagem petista. "Queremos uma
campanha limpa e popular, que expõe o candidato e não que esconde",
afirmou o presidente do partido, Sérgio Guerra. "Nada nos aproximará da
política dos dossiês, dos atos subalternos". "É ficha suja fazendo jogo
sujo", resumiu Jutahy Magalhães (PSDB-BA).
Nesse clima, Aécio Neves animou a plateia ao dizer que "o Brasil não
merece apenas um messias. A praça não é de um partido, é do povo."
Criticando o loteamento de cargos públicos, disse que é hora de "dar um
basta no aparelhamento dos que querem desdenhar da democracia tão
duramente conquistada."
Mais tarde, em Brasília, a direção do PT procurou desvincular as
denúncias da campanha de Dilma.
Chamando-as de "ridículas", José
Eduardo Dutra,presidente nacional do partido, perguntou: "Do ponto de
vista eleitoral, por que alguém iria investigar Eduardo Jorge? Qual o
efeito eleitoral disso?" O ministro Alexandre Padilha, das Relações
Institucionais, adotou o mesmo tom: "Isso nada tem a ver com a campanha
da Dilma e muito mejos com o PT. Perguntem então a quem fez", sugeriu.
Fonte: Luciana Nunes Leal, Christiane Samarco e Julia Duailibi - O Estado de S.Paulo
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