De olho no eleitorado da região, partido oficializa Serra neste sábado em Salvador
O
PSDB realiza neste sábado, 12, em Salvador, a convenção que irá
oficializar a candidatura do ex-governador de São Paulo José Serra à
presidência da República.Apesar da indefinição sobre quem ocupará a
vaga de vice e das dificuldades para conseguir um consenso em torno da
chapa baiana, o partido irá para o seu principal encontro nacional
otimista com a possibilidade de reverter o quadro de favoritismo da
petista Dilma Rousseff no Nordeste.
Menos de uma semana após a divulgação da pesquisa Ibope/Estado/TV
Globo que revelou uma forte tendência de regionalização do voto, com
Norte e Nordeste pendendo para Dilma, e Sul e Sudeste para Serra,
líderes do PSDB baiano apostam no fortalecimento das alianças regionais
para garantir um resultado mais confortável no Nordeste. O raciocínio é
de que, sem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa, o
empenho de cabos eleitorais na região será maior para pedir votos ao
candidato tucano.
O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, João Almeida (BA), compara
a força de Lula no Estado à adoração dos baianos pelo ex-senador
Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, para explicar porque a alta
popularidade do presidente não implica necessariamente numa
transferência de votos para Dilma. "A escolha do candidato pelo carisma
mostra que o voto desses eleitores não é ideológico", disse em conversa
com o estadão.com.br nesta sexta-feira, 11. "Não sendo Lula o
candidato, dá para levar."
A comparação entre Lula e ACM não é exclusiva dos gabinetes. A
servidora do ministério da Saúde Claudete dos Santos Rufino, de 57
anos, coloca a relação Lula-ACM em perspectiva. "O povo da Bahia
gostava mesmo era do ACM. Só depois veio o Lula", disse, ao ser
abordada em um shopping popular de Salvador.
A produtora de TV Márcia Godinho, que mora em São Paulo, também
procurou traçar um paralelo para explicar a adoração de Lula entre os
baianos . "O Lula é como o ACM, que era um homem que se misturava ao
povo, que ia ao candomblé, que participava da lavagem das escadarias da
igreja do Senhor do Bonfim. O Serra já é visto como alguém mais
reservado", disse ela em uma conversa por telefone na última
quinta-feira.
Consumo em alta
Mas nem todos baianos vêem apenas semelhanças entre os dois
políticos. Nem Lula, nem Dilma, nem Serra. A dona de casa Cândida
Alves, de 55 anos, gostava mesmo era de ACM. "Quem eu gostava não dá
mais para votar, porque já morreu", diz sem vacilar.
Em visita a Natal na última quarta-feira, 9, o próprio presidente
deu pistas de uma explicação para sua alta popularidade no Nordeste.
Citando dados de uma pesquisa sobre o consumo das famílias divulgada em
novembro do ano passado, o presidente lembrou que, nos últimos anos,
foram os cidadãos das classes D e E do Nordeste os maiores consumidores
do País, enquanto as compras entre as classes A e B entraram em
declínio. "Quem era mais pobre foi às compras. Aliás, o povo pobre foi
ao shopping, olha que chique", disse o presidente na ocasião.
Basta uma visita a um shopping popular de Salvador para verificar
que o presidente conhece bem sua popularidade. Ao ser questionado sobre
o que mudou no País nos últimos anos, Eric Teixeira, que é gerente de
uma loja de eletrônicos, vai direto ao ponto. "A desigualdade diminuiu.
Antes, o pobre não podia comprar uma TV de LCD", exemplifica.
O PSDB terá um desafio grande para cativar os eleitores que passaram
a consumir mais. Ainda assim, a avaliação do partido de que o eleitor
não quer perder o que conquistou, mas acredita ser possível "fazer
mais" em áreas como saúde, educação e segurança pública, deve surtir
algum efeito. No breve giro da reportagem do estadão.com.br por um
terminal rodoviário de Salvador, os apelos por melhores condições
nesses serviços foi quase unânime. "Não frequento mais canto nenhum de
Salvador", resume o ambulante Gilmar Freitas, de 46 anos, que também se
queixou das condições da educação na capital soteropolitana e diz ser
contra as políticas sociais do governo. "É um incentivo à pobreza",
define.
Indefinição local
Ainda que os tucanos baianos argumentem que as articulações no
Estado estão avançadas, o partido encontra dificuldades para indicar um
dos dois candidatos ao Senado na chapa com o pré-candidato a governador
Paulo Souto, do DEM. Embora a candidatura do ex-prefeito de Feira de
Santana José Ronaldo (DEM) seja certa, os tucanos não chegaram a um
consenso sobre o segundo nome, uma vez que o preferido de Serra, o
senador democrata ACM Júnior, já avisou que não concorrerá à reeleição.
A definição está agora entre três nomes: do deputado João Almeida,
do ex-prefeito e presidente do PSDB da Bahia, Antônio Imbassahy, e do
também deputado federal José Carlos Aleluia (DEM). Detalhe: Almeida e
Imbassahy preferem sair à Câmara, enquanto Aleluia aposta na indicação
à vice de Serra.
Sobre a vice, a servidora Claudete concorda que a escolha de um
político da região nordeste pode ajudar a deslanchar a candidatura de
Serra. A dificuldade será encontrar um que agrade a todos. "Vice do
Nordeste ajudaria sim. O nordestino tem raízes muito fortes na região",
afirma. E Aleluia, seria um bom nome? "Ih, esse eu não gosto",
responde. "Se depender da Bahia, com Aleluia o Serra perde."
Fonte: André Mascarenhas - estadão.com.br
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