Cinco anos depois, José Adalberto vive a expectativa de reaver o
dinheiro apreendido. Como estratégia, declarou o montante --fruto de
propina, segundo o Ministério Público-- à Receita. E foi multado em R$
200 mil.
Adalberto mora numa casa simples, em rua sem asfalto, em Aracati
(CE), que tem Canoa Quebrada como uma das suas praias famosas. Montou
uma pequena mercearia e vende farinha e chinelos a clientes que compram
fiado e pagam quando recebem o Bolsa Família.
Das dez pessoas do caso que respondem a processo, ele é o único que
continua com os bens apreendidos, embora já haja decisão da Justiça de
liberá-los por considerar que o valor baixo de seus bens não cobrirá a
ação, caso seja condenado. Após o escândalo, perdeu o emprego de
assessor parlamentar e deixou o PT após 17 anos.
Quebrando o silêncio de cinco anos, ele revelou à Folha sua
estratégia para recuperar o dinheiro. "Declarei [o dinheiro] porque
entendi que tinha que declarar, afinal de contas o dinheiro estava
comigo, não pertence a ninguém, então eu declarei como sendo uma doação
e pronto. Ninguém vai ouvir da minha boca quem é o doador. Sobre isso
não falo."
"Tomei uma multa da Receita Federal num valor aproximado a R$ 200
mil. Não paguei. Meus advogados recorreram, mas até agora a Receita não
se manifestou sobre o recurso." A Receita não comenta o recurso.
À polícia ele disse que o dinheiro veio da venda de produtos na
Ceagesp. Depois afirmou que pegou com um amigo chamado João Moura. Para
o MP, o dinheiro veio de propina de empresários que conseguiram
facilidades para um empréstimo no Banco do Nordeste. Todos negam.
A Folha apurou que guardar mistério sobre a origem do
dinheiro faz parte da tática para reconquistar a quantia. Se admitir
que é propina, ele ficará sem o montante.
"Sobre o dinheiro, é uma questão que eu ainda tenho dificuldades de
falar, até para um psicólogo. É uma coisa minha, de foro íntimo. E não
estava na cueca, mas no cós da calça. Também, que diferença faria se eu
tivesse guardado o dinheiro de qualquer outra forma? Estando comigo
naquela circunstância, sendo quem eu era, o estardalhaço teria sido o
mesmo".
Ele diz que cometeu um erro e está "pagando por isso": "Gostaria que
todo mundo me esquecesse. Mas não existe isso que eu estava cumprindo
missão partidária".
Sua esperança agora é retomar o dinheiro: "Eu hoje sobrevivo, não
tenho grandes débitos, mas também não tenho dinheiro na poupança. Vamos
ver o que a Justiça decide. Não tenho expectativa de quando isso vai se
encerrar, mas de que o dinheiro vai voltar para mim".
Fonte: Andreza Matais - Folha.com
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