A vantagem de Dilma Rousseff (PT) em relação a José
Serra acendeu o sinal amarelo no PSDB. Um dia após a pesquisa CNI/Ibope
ter registrado vantagem de 5 pontos porcentuais para a petista – 40% a
35% –, líderes do PSDB reclamaram de desorganização na campanha e de
centralização das decisões nas mãos de Serra.
Nos bastidores, defenderam ajustes na agenda e a necessidade de
harmonizar o discurso. Na avaliação de um parlamentar tucano, é preciso
parar de ter medo do candidato e aderir de fato à campanha. Segundo ele,
a campanha não é de Serra, mas do PSDB e o que está em jogo é o futuro
do País e da oposição.
Em outra linha de interpretação, um dos estrategistas da campanha,
deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), admitiu que o resultado da pesquisa
foi "uma surpresa" e que todo levantamento em que o candidato aparece
atrás gera estresse na campanha.
Jutahy advertiu, no entanto, que não se muda o rumo por conta de uma
pesquisa, sobretudo quando os levantamentos internos dizem que o
candidato vai bem. "O maior erro que uma campanha pode cometer é não ter
clareza de suas convicções nem capacidade para manter os rumos. Vamos
lidar com números voláteis a campanha inteira", justificou.
Para o deputado baiano, a luta do PSDB não mudou e é uma só:
"Precisamos tirar Dilma da toca." Disse estar seguro da estratégia de
comparar Serra a Dilma e forçar a adversária a se expor e ir para o
debate. "Campanha é comparação e, para isso, haverá debates e
entrevistas sem teleprompter. A campanha só começa em 5 de julho."
Segundo ele, o que pode explicar o crescimento de Dilma é que ela está
se tornando conhecida no Brasil inteiro como candidata do presidente.
Presidente do PSDB e coordenador da campanha de Serra, o senador
Sérgio Guerra (PE) afirmou que a pesquisa não vai alterar os rumos da
campanha, mas reconheceu que uma avaliação ampla deveria ser feita pelo
partido. Ele viajou para São Paulo a fim de se reunir com Serra no
início da noite. Entre os assuntos a ser discutidos, além da pesquisa,
estavam a finalização de palanques regionais e a escolha do vice na
chapa. "Não vamos mudar o rumo até porque esse levantamento difere
bastante das nossas pesquisas, mas é preciso que sejam feitas
avaliações", avisou.
Ajuste. Políticos do partido chegaram a advertir
sobre a necessidade do que chamaram de "ajuste fino" no marketing e na
comunicação da campanha. Outro importante líder do PSDB disse que os
tucanos não vão se conformar com a tese de que a pesquisa foi ruim para
Serra porque o volume de propaganda do governo foi maior se comparado ao
programa partidário.
No núcleo de comunicação da campanha, a pesquisa não foi motivo de
alarme. As medições internas, segundo integrantes do grupo, dão vantagem
a Serra. Eventual mudança só será colocada em curso com a orientação do
comando da campanha – argumento mencionado também pelo presidente do
DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). "Precisamos encerrar de vez a montagem
dos palanques regionais e a definição do vice para começar a campanha
para valer. Nosso desafio é estruturar campanha em todos os municípios",
afirmou.
"Nosso discurso não é fácil", prosseguiu. "Temos de convencer o
eleitor de que os ganhos dos últimos anos estarão garantidos e projetar
um futuro melhor. O Serra tem de falar em melhora futura, sem gerar
insegurança no presente. O desafio da Dilma é não mexer no que está
dando certo e o nosso é projetar futuro melhor a partir do que existe
hoje. As estratégias estão todas no limite", avaliou.
Indicadores. Diante da indicação da pesquisa
CNI/Ibope de que houve uma queda nas intenções de voto do tucano no
Sudeste, Jutahy diz que "é obvio" que o PSDB tem de estar atento.
Segundo ele, é preciso procurar saber o que está de fato ocorrendo na
região em que o partido é mais forte e tem o governo dos dois principais
Estados: São Paulo e Minas. "Se houve uma queda no nosso ponto forte,
onde há um público mais identificado com nossa administração e somos bem
avaliados, temos de analisar o porquê. Não podemos descuidar dessa
região, que é fundamental para a nossa vitória."
Com a experiência de quem participou de quatro campanhas
presidenciais, o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen advertiu que é
preciso encerrar o período de montagem dos palanques estaduais e
definição do vice para avaliar melhor as candidaturas.
"Isso tudo toma tempo e deixa o candidato paralisado", avaliou. Ele
reconheceu que a briga em seu próprio Estado – Santa Catarina – não
permite uma visita de Serra. "A partir da próxima quinta-feira, tudo
estará resolvido e o candidato poderá vir aqui quando e quantas vezes
quiser", disse. Apesar do resultado ruim da pesquisa, Bornhausen disse
que não jogou a toalha. "Não perdi a esperança nem a vontade de ganhar.
Tenho confiança nesta vitória."
Fonte: Ana Paula Scinocca e Christiane Samarco - O Estado de S.Paulo
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