Os candidatos e a mídia



SUELY CALDAS - O Estado de S.Paulo
 
Nada como o confronto com a imprensa para abrir a caixinha de surpresas que os candidatos tentam esconder durante a campanha. Em entrevistas à rádio CBN, à Folha de S.Paulo, à revista Veja e ao programa Roda Viva, da TV Cultura, José Serra não chegou a detalhar, mas deu pistas claras sobre o mistério que ele preferiria guardar: o que pretende fazer com o câmbio, os juros e o Banco Central (BC). Dilma Rousseff anda fugindo dos jornalistas e, nas duas conversas que aceitou até agora (com CBN e Veja), não esclareceu dúvidas que incomodam: como vai intensificar o papel do Estado na economia? As agências reguladoras serão fortalecidas? Enfraquecidas? Loteadas entre partidos políticos? Bancos públicos, Petrobrás e Eletrobrás terão gestão técnica ou seguirão sujeitos a interferências políticas? Como será a relação de seu governo com o PT e os partidos aliados?

Se já vinha fugindo do debate, agora que assumiu a liderança na pesquisa Ibope Dilma adiará o quanto puder encontros organizados com a mídia. Melhor não arriscar. Sempre surgem perguntas que podem ameaçar seu desempenho e deixá-la insegura. Este não parece ser o problema de Serra. Mais calejado em política e com domínio em assuntos econômicos, ele quer mais é que o debate ocorra, melhor ainda com a presença da adversária. Em parceria com a TV Gazeta, o Estadão programa para o dia 14/9 seu encontro com os candidatos.

Em 2002 o mercado financeiro fervia por essa época, o dólar ia às alturas, o risco Brasil disparava, a inflação metia medo. O pânico com a expectativa de vitória de Lula só foi dissipado em 2003, quando ele reafirmou integralmente a continuidade da política econômica de FHC. Oito anos depois, outra eleição, e o mercado está tranquilo, nem Dilma nem Serra provocam o horror que Lula atraía. Ainda bem. Sinal de amadurecimento, de consolidação de uma política macroeconômica exitosa e que os dois candidatos dizem pretender manter.

Mas em relação a Serra há dúvidas. Afinal, desde o governo FHC ele critica as políticas de câmbio e juros e nunca escondeu que pretende interferir no BC. São dúvidas sem pânico, porque Serra não é um novato em gestão pública, todos sabem que, se ele mudar, será lentamente, testando, avançando, recuando, sem dogmas nem certezas absolutas. Economistas ligados a FHC até apostam que ele não muda nada, porque vai constatar na prática e na reação do mercado que não há desvios na política macroeconômica, que o tripé metas de inflação-câmbio flutuante-controle fiscal tem funcionado e pavimentado bem o caminho para o desenvolvimento. "É uma política consolidada, madura, bem-sucedida há mais de dez anos. Mudar para quê?", indaga um deles.

Ao personificar em Armínio Fraga o perfil do ministro da Fazenda de seus sonhos, como disse à Veja, Serra aceita a ideia de, uma vez acertadas as linhas de política econômica, a Fazenda e o BC terem liberdade de ação para conduzir a economia. É verdade que Armínio é pragmático e não doutrinário, como definiu Serra, mas foi ele quem moldou o tripé da política em vigor, quando presidia o BC, considera-a bem-sucedida e não vê razões para mudá-la.

No programa Roda Viva Serra defendeu o modelo de Banco Central do Chile, onde o ministro da Fazenda opina, argumenta, mas não vota em decisões de elevar ou baixar os juros. Hoje, Guido Mantega e Henrique Meirelles não se entendem, mas na época FHC o ministro da Fazenda, Pedro Malan, vivia em harmonia com a direção do BC, dialogava e, informalmente, acertava decisões importantes. Portanto, não é novidade o modelo chileno no Brasil.

Em relação a Dilma, há dúvidas econômicas e políticas. Novata, sem traquejo nem experiência para lidar com adversidades e conflitos e um viés autoritário com subordinados, que mais destrói do que constrói resultados, Dilma tende a se atrapalhar na relação com políticos aliados ávidos por cargos e barganhas. A saída será pedir socorro ao PT e à sua pior ala - aquela que, frustrada por Lula, tem tudo agora para adoçar e moldar a candidata com investidas estatizantes e caras para o contribuinte.

É JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR

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