O Estado de S.Paulo
Ao
se colocarem a serviço direto, sem disfarces, da candidatura de Dilma
Rousseff à Presidência da República, a infração legal menos grave que
as centrais sindicais cometeram foi a "antecipação" da campanha
presidencial ? até porque nem a Força Sindical nem a CUT foram as
primeiras a fazê-lo. Mais grave foi a debochada afronta que o deputado
Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, lançou à Justiça
Eleitoral, ao afirmar que de nada adiantaria ser processado de novo ?
já teve quatro processos e duas condenações ?, pois "continuaria a
falar". E falou, tanto para dizer que não se pode deixar "esse sujeito"
(referindo-se ao candidato tucano José Serra) se tornar presidente da
República, porque ele "vai tirar os direitos do trabalhador", "vai
mexer no Fundo de Garantia, nas férias, na licença-maternidade", como
para defender a continuidade do governo Lula, com a eleição de Dilma
Rousseff.
Deixe-se de lado a falta de compostura e as agressões destemperadas
do deputado-sindicalista Paulinho ao candidato Serra. Talvez essa tenha
sido a forma que ele encontrou para superar as vaias com que foi
recebido na assembleia da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS),
composta por CUT, UNE, MST e outras entidades, e da qual a Força
Sindical não faz parte. E, no entanto, a legislação proíbe,
expressamente, a participação de sindicatos em campanhas eleitorais. E
a reunião da CMS era apenas uma preparação para a Conferência Nacional
da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada terça-feira pelas cinco
centrais sindicais (Força, CUT, CTB, CGTB e Nova Central), com o
objetivo de, a pretexto de apresentar pautas reivindicatórias aos
presidenciáveis, apoiar a candidata oficialista à Presidência da
República ? em mais um desrespeito flagrante à legislação eleitoral.
A participação aberta de entidades sindicais na campanha eleitoral é
apenas uma consequência do total atrelamento do sindicalismo ao Estado,
consumado no governo do ex-sindicalista Lula. O peleguismo nascido do
Estado Novo getulista e que pareceu definitivamente extinto com a
renovação do movimento sindical ocorrida no ABC paulista ? conduzida
pelo líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva ? voltou agora sob a
forma aperfeiçoada do chamado neopeleguismo de cooptação. Explica bem
esse fenômeno o cientista político Rubens Figueiredo que, em entrevista
ao Estado (1.º/6), classificou o Brasil como um raro exemplo de país
capitalista onde o sindicalismo está a favor do Estado.
Recorda Figueiredo que, durante o processo de redemocratização, os
sindicatos representaram uma força importante de resistência da
sociedade e estavam afastados do Estado. Com a ascensão do PT e de Lula
ao poder, houve um processo de cooptação, principalmente, das Centrais
Sindicais pelo Estado, que passou a destinar-lhes polpudas quantias de
dinheiro. "Mesmo centrais que antes dificilmente se alinhavam, como a
CUT e a Força Sindical, que lá atrás era chamada de pelega, hoje se
alinham na defesa do governo. E, do ponto de vista de ocupação do
Estado, há uma quantidade imensa de ex-sindicalistas e até de
sindicalistas em atividade que fazem parte dos órgãos de direção do
Estado", arremata o cientista político.
Estamos, pois, em plena "República sindicalista" ? não a sonhada por
João Goulart nem a inspirada por ideologias, mas uma com motivações
mais vulgares, argentárias e de compadrio. "Os quadros que o PT foi
buscar para administrar o Brasil vieram dos sindicatos. E esses
sindicatos ocupam hoje postos-chave, por exemplo, nos fundos de pensão,
que são as instituições econômicas com maior liquidez no Brasil. Eles
movimentam volume expressivo de dinheiro. Então, houve a ascensão do
sindicalismo aos núcleos de decisão do Estado", analisa Rubens
Figueiredo.
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