Usina da Vale é promessa feita nas eleições de 2006, mas diretor da empresa admite que até o fim deste ano só terraplanagem será feita
No
esforço para impulsionar a campanha da petista Ana Júlia Carepa à
reeleição no Pará, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "inaugurou"
ontem um terreno baldio e comandou um comício em estádio de futebol.
Em Marabá, com estardalhaço, Lula anunciou, num palanque montado num
terreno vazio da Transamazônica, o "início" da terraplenagem para
construção de uma usina siderúrgica da Vale.
Até o final deste ano, a obra não passará da fase de terraplenagem,
admitiu em entrevista após o evento José Carlos Martins, diretor
executivo de Ferrosos da companhia.
O empreendimento faz parte de uma lista de promessas feitas nas
eleições de 2006 nas regiões Sul e Sudeste do Pará que dificilmente
serão cumpridas. Lula e Ana Júlia prometeram também a pavimentação do
trecho paraense da Transamazônica e um plano de desenvolvimento
sustentável da BR-163. A entrega das eclusas de Tucuruí, outra
promessa, ocorrerá em setembro, disse a governadora.
Para mostrar a importância do evento que, segundo Lula, "mudará a
história industrial do Estado", assessores da Presidência e do governo
do Estado e funcionários da Vale pediram a uma empreiteira da companhia
que estacionasse no terreno vazio nove retroescavadeiras e 16 caçambas.
Lula e a governadora subiram numa das máquinas para as tradicionais
fotos de viagens presidenciais. Nas contas oficiais, a obra da
siderúrgica vai gerar 16 mil empregos. A usina empregaria 5.300 mil
empregos diretos durante as operações.
Depois de resistir durante três anos a fazer qualquer promessa de
tirar a siderúrgica do papel, o presidente da Vale, Roger Agnelli,
disse ontem que a obra vai custar R$ 5,3 bilhões e ficará pronta em
2013.
Até agora, no entanto, quem gastou com o projeto foi o governo do
Pará, que está sendo questionado pelo Ministério Público Estadual por
pagar um total de R$ 60 milhões em indenizações para 26 fazendeiros que
vão ter de deixar a área. Dois deles vão ficar com metade do valor
desembolsado pelos cofres do Estado.
Após o evento, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, foi
questionada sobre o cronograma das obras da usina. A uma pergunta sobre
quando as obras começariam de fato, ela, exaltada, disse que as obras
já tinham começado.
Mais cedo, em Altamira, nem mesmo a presença de Lula evitou que Ana
Júlia fosse vaiada por uma plateia de cerca de dez mil pessoas que
lotaram o estádio municipal do Bandeirão, no centro de cidade, para
ouvir o presidente defender a construção da usina hidrelétrica de Belo
Monte.
A passagem de Lula por Altamira foi relâmpago e sob um forte esquema
de segurança. Mal desembarcou na cidade, o presidente deu uma
entrevista, ainda no aeroporto, à rádio Vale do Xingu, quando enumerou
os projetos do governo federal para a região, como o asfaltamento da
transamazônica (BR 230) e a usina de Belo Monte. Além de citar o nome
de Ana Júlia e pedir até ao repórter da rádio que a entrevistasse, Lula
aproveitou para fazer campanha velada para a candidata do PT à
presidência, Dilma Rousseff.
"Eu sempre trabalho com a ideia de que nós podemos fazer mais, e
para isso precisamos trabalhar mais. Então, eu penso que será um
processo eleitoral tranquilo. Acho que o povo quer continuidade das
coisas que estão acontecendo no país, porque o povo percebe que é uma
chance extraordinária de melhorar, definitivamente, a vida do povo",
disse Lula, ao ser perguntado sobre sua sucessão.
Ao lado do deputado Paulo Rocha (PT-PA), que deverá ficar impedido
de disputar o Senado com a Lei do Ficha Limpa, o presidente dedicou a
maior parte de seu discurso de oito minutos para polemizar com os cerca
de 20 manifestantes contrários à construção da usina de Belo Monte e
que foram autorizados a entrar no estádio Bandeirão. Uma passeata com
uma centena pessoas desfilou pelas ruas do centro de Altamira com
faixas de protesto contra a construção da hidrelétrica. "Barragem não,
queremos saúde e educação", berraram os manifestantes. Um boneco
gigante de Lula foi queimado na porta do estádio.
Em Altamira, o palanque de Lula foi bastante eclético. Favorável à
hidrelétrica, a prefeita da cidade, a tucana Odileida Maria Sampaio,
aproveitou para condecorar o presidente com a medalha de ordem de
mérito do Xingu e fazer uma série de reivindicações como a criação de
uma faculdade de medicina em Altamira. O mais aplaudido foi Francisco
de Assis, conhecido como Chiquinho do PT, prefeito de Anapu e
presidente do consórcio Belo Monte.
Sem citar o nome do cineasta James Cameron, que no fim de março
esteve em Altamira para protestar contra a construção de Belo Monte, o
presidente Lula disse que os manifestantes "certamente ficaram
encantados com o americano que veio aqui". O diretor de "Avatar" e
"Titanic" é canadense. "Eles deveriam ir lá tirar o petróleo no Golfo
do México, que está poluindo o oceano", afirmou Lula, referindo-se ao
vazamento da British Petroleum (BP) na área.
Fonte: Eugênia Lopes/ALTAMIRA (PA) e Leonencio Nossa/MARABÁ (PA) - O Estado de S.Paulo
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