O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez demagogia barata. Sinalizou
que vetaria o reajuste de 7,7% para todos os aposentados, mas acabou
aprovando uma medida que ele e a sua equipe econômica consideram danosa
ao futuro do país.
O governo Lula tem o mérito de promover reajustes reais do salário
mínimo, elevando o poder de compra dos mais pobres. É uma medida muito
importante. Quando dá ao conjunto dos aposentados um reajuste acima da
inflação, Lula busca alguma forma de compensação, de justiça social. Os
aposentados já haviam recebido 6,14% de reajuste por meio de uma MP
(medida provisória). Estava bom.
Por causa da eleição, houve pressão no Congresso, da base governista
e da oposição. Lula cedeu mais. Fez acordo para concessão de 7%, o que
significa toda a inflação de 2009 mais dois terços da alta do PIB
(Produto Interno Bruto) de 2008. O PIB de 2008 cresceu vigorosos 5,1%.
Como estamos em ano eleitoral, as centrais sindicais e os
congressistas não resistiram a uma irresponsabilidade fiscal. E
tascaram um reajuste de 7,7% --a inflação de 2009 mais 80% do
crescimento PIB de 2008. Os 7,7% foram aprovados pelo Congresso.
Lula, então, pegou o embalo demagógico. Tomou uma decisão que sabe
incorreta em relação às gerações futuras, mas importante para vitaminar
a chance eleitoral de sua candidata, Dilma Rousseff (PT), e o seu
prestígio no final de governo. Vai ficar bem na foto com os
aposentados.
No entanto, a decisão do presidente é um mau sinal. Tira crédito do
discurso de que não vai brincar com a economia. Lula abriu um
precedente. O próximo presidente terá de brigar todos os anos com os
aposentados se não puder ser tão bonzinho. Lula fez cortesia com o
chapéu do sucessor ou da sucessora.
Para piorar, enfraqueceu a fórmula que busca dar reajustes reais
significativos para o salário mínimo. Corrigir as aposentadorias pela
inflação e pelo desempenho do PIB poderá inviabilizar tal política no
médio prazo. As contas da Previdência poderão não aguentar.
Satisfação aos leitores
Muitos aposentados se queixam da defesa do veto. Dizem que ganham
pouco e que os críticos do reajuste de 7,7% não perdem por esperar,
porque se aposentarão um dia e receberão uma ninharia. Não se trata de
uma crítica por maldade com os idosos. Trata-se de uma escolha
política: priorizar o reajuste real do salário mínimo faz muito bem à
economia como um todo, inclusive à parcela de aposentados que recebe
benefício neste valor.
Fonte: Kennedy Alencar - Folha.com
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