Briga de apadrinhados por peemedebistas com diretores bancados pelo PT estaria inviabilizando a empresa do ponto de vista de gerência e confiabilidade
O medo de prejudicar a aliança com o PMDB e a campanha da petista
Dilma Rousseff fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiar a
decisão de demitir o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio,
e parte da diretoria da estatal apadrinhada por peemedebistas de Minas
e do Rio.
Custódio é protegido do senador Hélio Costa (PMDB), ex-ministro das
Comunicações e candidato da base aliada ao governo de Minas, e do líder
do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Assim como Custódio, foram
bancados pelo PMDB, agora do Rio e de Minas, os diretores Marco Antonio
Marques de Oliveira (Operações), Décio Braga de Oliveira
(Econômico-Financeira) e Pedro Magalhães Bifano (Gestão de Pessoas).
Como o PMDB indicará o vice na chapa de Dilma, Lula avalia se vale a
pena arrumar uma confusão com o partido neste momento, especialmente
com Costa. O ex-ministro conseguiu a duras penas o apoio da cúpula do
PT à sua candidatura ao governo de Minas, mas ainda não tem a certeza
de que o partido local vai engajar-se em sua campanha.
Na Presidência, a informação é de que a briga dos quatro
apadrinhados do PMDB com outros três diretores – estes defendidos pelo
PT – está inviabilizando os Correios do ponto de vista de gerência e
confiabilidade. Foram identificados problemas até na entrega de
correspondência pelo Sedex, um serviço que se apresenta na publicidade
nos meios de comunicação como infalível.
Mensalão. Os três diretores defendidos pelo PT são
Roberto dos Santos Souza (Administração), Ronaldo Takahashi de Araújo
(Comercial) e José Osvaldo Fontoura de Carvalho (Tecnologia). A atual
diretoria dos Correios assumiu depois do escândalo do mensalão,
ocorrido em 2005.
Esse episódio, o maior escândalo no primeiro governo de Lula, teve
início na estatal, quando foi divulgada uma fita de vídeo em que o
funcionário Maurício Marinho aparecia recebendo um pacote de dinheiro,
cujo destino final seria o PTB. Revoltado com o que considerou uma
manobra do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, para derrubá-lo
da direção do partido, o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ),
contra-atacou denunciando o mensalão.
Na semana passada, a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, fez
chegar a Costa e Jucá a informação do descontentamento do governo com a
diretoria dos Correios. De acordo com informação de senadores do PMDB,
Erenice afirmou que não haverá salvação para a diretoria d a empresa.
A conversa entre ela e os senadores teria sido assim, de acordo com
relato de um deles: "Não se trata de uma briga entre partidos na
disputa por uma estatal. Trata-se da substituição de pessoas que não
têm condição de ficar à frente dos Correios. Indiquem outros nomes".
Engenharia. Como o assunto envolve uma engenharia
política complexa num momento em que a Lula não interessa arrumar
confusão com o PMDB, a Casa Civil informou ontem que a ministra aguarda
a hora certa para conversar com o chefe. E relatar ao presidente tudo o
que disse aos senadores que apadrinharam a indicação da diretoria dos
Correios.
Procurado, Custódio disse, por intermédio de sua assessoria, que não
faria nenhum comentário a respeito da possibilidade de ser demitido. Já
o Ministério das Comunicações informou que houve ontem uma reunião
entre a diretoria dos Correios e o ministro José Artur Filardi, mas não
para tratar de demissão e sim de um assunto também espinhoso, os
contratos das empresas franqueadas.
Fonte: João Domingos - O Estado de S.Paulo
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