Governo Lula faz privatização do dinheiro público, diz Serra


Em entrevista ao programa Roda Viva, candidato tucano afirma que vice de sua chapa será anunciado no fim do mês


Destoando de parte de seus colegas de partido, o candidato à Presidência da República do PSDB, José Serra, enfrentou na noite de sábado o debate sobre as privatizações no Brasil e afirmou que em seu governo haveria restrições para o uso de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a fusão entre empresas.

O tema foi evitado, por exemplo, pelo então candidato tucano a presidente em 2006, Geraldo Alckmin, que foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Serra, entretanto, ironizou o assunto, dizendo que governo Lula inovou na questão das privatizações, pois dá recursos para empreendimentos que serão de propriedade privada, como a ferrovia Transnordestina e usinas hidrelétricas.

"Uma das grandes farsas do Brasil de toda a discussão é a questão de privatização. Quando chega no governo, não só não volta para atrás, como dá dinheiro para elas", afirmou Serra durante o programa Roda Viva, da TV Cultura.

"Chegou a se dar dinheiro subsidiado, porque o governo emite dívida pública, pega o dinheiro da dívida e empresta por um juro menor que está pagando pela dívida pública para uma empresa comprar a outra... é um modelo curioso de privatização do dinheiro público", acrescentou.

A entrevista foi concedida na noite de sábado, mas só será transmitida na noite de segunda-feira. Questionado se o BNDES continuaria incentivando a formação de grandes empresas nacionais, Serra ponderou.

"Se for para formar capital novo num setor que for fundamental, eu não sou contra... não sou contra uma empresa comprar a outra, mas você vai dar dinheiro público subsidiado? Todos os contribuintes do Brasil vão pagar para uma empresa comprar outra? Não tem sentido", disse. O BNDES tem tido participação, por exemplo, na internacionalização de empresas do setor de carne.

O tucano foi além. Defendeu a concessão de aeroportos. No entanto, demonstrou irritação quando um jornalista o questionou sobre o modelo de concessões de estradas adotado por São Paulo, Estado que governou até o início de abril, e o alto preço dos pedágios nessas rodovias.

O candidato argumentou que as estradas paulistas são consideradas as melhores do Brasil, complementando que a crítica é "trololó" petista repetido pela imprensa.

Macroeconomia

Indagado sobre o que mudaria na atuação do Banco Central, Serra voltou a criticar a demora da autoridade monetária para baixar os juros durante a crise financeira global. Acrescentou que, em seu governo, o BC ia "trabalhar direito" e "errar menos".

Serra alertou para os riscos referentes ao déficit de conta corrente e criticou a entrada de capital especulativo no país. "Se a economia tiver crescendo sustentadamente, é a melhor maneira de entrar capital produtivo. O que entra no Brasil hoje é dinheiro para especular."

Ele ainda defendeu o corte dos gastos públicos e que o governo federal também passe a se enquadrar totalmente na Lei de Responsabilidade Fiscal. Declarou ser favorável a tornar permanente a Zona Franca de Manaus.

Vice e temas polêmicos

Serra afirmou que ainda não possui um nome para ocupar a vaga de vice em sua chapa, e negou que a demora em anunciá-lo esteja gerando reclamações entre aliados. "O vice vai ser anunciado no fim do mês", disse.

Segundo o tucano, sua gestão não teria problemas de governabilidade em decorrência da sua resistência de distribuir cargos no Executivo para aliados. "Eu nunca pegaria o governo para ficar entregando agências de regulação a partidos", destacou, acrescentando que a prática gera corrupção e incompetência na administração pública.

O candidato, que prometeu expandir os programas sociais e financiar o ensino técnico de 1 milhão de jovens, foi questionado sobre alguns assuntos polêmicos. Perguntado se era favorável à regulamentação do aborto, disse que não mexeria na atual lei que impede a interrupção da gravidez. Disse também que nunca fumou maconha e é contrário a sua descriminalização. Defendeu, entretanto, a união civil entre homossexuais.

Serra reafirmou que sua principal adversária, Dilma Rousseff (PT), seria responsável pela suposta tentativa de produção de dossiês contra pessoas ligadas a ele. Acrescentou ainda que esses documentos têm sempre acusações "requentadas", "estúpidas" e mentirosas.

Diplomacia

O tucano prometeu reforçar o policiamento das fronteiras a fim de combater o tráfico de armas e drogas. Voltou a dizer que não confia no presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e que "de jeito nenhum" intermediaria um acordo entre ele e a Agência Internacional de Energia Atômica sobre o programa nuclear da República Islâmica.

Assegurou, entretanto, que seu governo manteria relações normais com a Venezuela de Hugo Chávez. "Acho que ficar agradando ditadores ou sendo permissivos em relação a violações dos direitos humanos é uma coisa que eu não faria. Agora, relações econômicas normais e institucionais tudo bem", acrescentou.

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