Além de Pimentel, dirigentes da campanha de Dilma sabiam de material contra Serra
Apontado como bode expiatório no episódio do
suposto dossiê contra o pré-candidato José Serra, o ex-prefeito de Belo
Horizonte Fernando Pimentel (PT) não era o único que sabia das denúncias
. Toda a cúpula petista que integra a coordenação de campanha da
pré-candidata Dilma Rousseff tinha conhecimento, desde o fim de 2009,
da existência de um farto material investigativo contra o tucano e sua
filha, Verônica Serra. Nesta segunda-feira, dois jornalistas envolvidos
no caso negaram a versão do delegado aposentado da Polícia Federal
Onézimo das Graças Sousa, de que o comitê petista desejou contratar
serviços de espionagem.
Segundo
relatos feitos ao GLOBO por dirigentes do PT, o partido esperava que
aliados do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) usassem o material
durante o processo de disputa interna no PSDB para a escolha do
presidenciável tucano. Como isso não ocorreu, contou um integrante da
campanha petista, houve a decisão coletiva de se ter acesso a esse
material, que estava sendo investigado pelo jornalista Amaury Ribeiro
Junior. Na ocasião, Amaury acabara de sair do jornal "O Estado de
Minas".
Na coordenação de campanha de Dilma, o dossiê passou a ser
usado internamente como "arma secreta", para ser usada, se necessário.
Amaury foi procurado, então, pelo jornalista Luiz Lanzetta, dono da
empresa Lanza Comunicação, contratada para a área de comunicação da
pré-campanha. Lanzetta se desligou da campanha no fim de semana.
O acerto feito com Amaury teria o propósito de se produzir um
livro com todas as investigações feitas pelo jornalista contra Serra.
Pela estratégia, que recebeu o aval de todos os integrantes da
coordenação de campanha da Dilma, o livro-dossiê seria publicado no
período eleitoral. Assim, Amaury foi integrado originalmente à campanha
petista.
Só em abril, com a oficialização da pré-campanha, houve a
decisão de um grupo do PT de ampliar o núcleo de inteligência do comitê
de Dilma, o que causou um racha interno. Lanzetta, o empresário
Benedito Oliveira Neto e Amaury participaram do encontro em abril com
Onézimo.
Jornalistas querem ser acareados com delegado
No
PT, a versão é que Onézimo foi infiltrado pela campanha tucana para
detonar a crise no comitê de Dilma. Em entrevistas, Lanzetta e Amaury
desafiaram nesta segunda-feira Onézimo a manter, em público, a acusação
de que tenha sido sondado para montar esquema de espionagem contra
Serra.
Segundo os dois, foi o delegado quem se ofereceu para
desmontar um suposto grupo de produção de dossiês que teria sido
organizado pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) contra políticos da
base aliada, principalmente do PMDB. Amaury disse que gostaria de ser
acareado com Onézimo.
Os dois decidiram partir para o ataque depois de a revista
"Veja" publicar, no fim de semana, entrevista em que Onézimo diz ser
sido procurado para fazer investigações, inclusive com uso de grampos
telefônicos, contra Serra e Itagiba. A proposta teria sido feita numa
reunião em 20 abril, num restaurante em Brasília.
- Se ele falou isso (sobre espionar Serra), vamos reconstituir
os fatos: quem falou, a que horas falou, como foi. Vamos fazer uma
acareação. Esse negócio (de espionagem) é uma mentira, que tem que vir
à tona - disse Amaury.
Lanzetta e Amaury contam que tiveram encontro com Onézimo
porque estavam em busca de uma empresa para investigar vazamentos de
dados confidenciais do escritório central da pré-campanha de Dilma. Os
dois chegaram a Onézimo por sugestão de Idalberto Matias, o Dadá,
ex-agente do Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Amaury disse ainda
que, duas semanas depois do primeiro encontro, Onézimo cobrou R$ 1,8
milhão para fazer o suposto serviço de contra-espionagem. A proposta
não teria sido aceita, segundo Amaury.
Itagiba negou que tenha feito dossiês e disse que há uma tentativa de se desviar o foco do episódio:
- O que temos hoje? De um lado um grupo que diz que
estava lá porque foi chamado para fazer dossiês. E de outro, outro
grupo que diz que recebeu a oferta de dossiês. De qualquer forma,
estavam todos em uma reunião para praticar um delito. E que, quando
confrontados, montaram suas historias para se justificar, querendo
imputar a culpa a uma terceira pessoa. Que se instaure um inquérito
policial para investigar o que eles faziam reunidos lá.
Procurado pelo GLOBO, Idalberto não retornou a ligação. Onézimo não foi localizado.
Fonte: Gerson Camarotti e Jailton de Carvalho - O Globo
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