Na convenção do PSDB em Salvador, tucano critica líderes que tentam personificar o Estado
Na
intervenção pública mais contundente já feita, o candidato tucano à
Presidência da República, José Serra, fez neste sábado, 12, na
convenção nacional, em Salvador, um forte discurso de oposição no qual
atacou o apadrinhamento, o aparelhamento do Estado e os políticos
"neocorruptos".
O tucano desfiou um rosário de "verdades eternas", tratadas como valores dele e de seu governo, se for eleito em outubro.
Sem
falar explicitamente o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Serra comparou as suas "crenças" com as práticas de oito anos de PT no
poder, disse que os chefes de governo não podem acreditar que
personificam o Estado e, citando Luis XIV, acrescentou: "Nas
democracias e no Brasil, não há lugar para luíses."
Além da
defesa do Estado de Direito e da crítica a quem "desdenha a democracia
nas ações diárias", Serra disse que o Brasil precisa se afastar de
"três recordes internacionais": uma das menores taxas de investimento
público do mundo, a maior taxa de juros do mundo e a maior carga
tributária de todo o mundo em desenvolvimento. O tucano repetiu a
biografia apresentada na pré-convenção, em Brasília, em abril passado,
falou do político de origem pobre e que estudou em escola pública, e
concluiu: "Não comecei ontem, não caí de paraquedas" e, "comigo, o povo
brasileiro não terá surpresas."
‘Acredito’
Ao
longo do discurso, Serra citou 13 vezes a palavra "acredito" para se
diferenciar do governo Lula e do PT. Também citou 9 "necessidades e
esperanças" que considera serem objetivos da "maioria dos brasileiros".
Na
lista das crenças, ao dizer que a democracia não pode ser adotada como
um "instrumento tático", acrescentou que esse é o regime e o caminho
para melhorar a vida das pessoas. "Não é com o menosprezo ao Estado de
Direito e às liberdades que vamos obter mais justiça social duradoura."
Ao
tratar dos sindicatos, cooptados pelo governo Lula com a legalização
das centrais e a distribuição do imposto sindical pago pelos
trabalhadores, Serra criticou as "organizações pelegas sustentadas com
dinheiro público" e defendeu a liberdade de imprensa e de organização
social - que não devem, afirmou, ser "intimidades, pressionadas e
patrulhadas pelos governos e partidos" .
Ao criticar
duramente o governo Lula, reforçando o papel de adversário da atual
gestão petista, o tucano fez inflexão em relação à posição de cautela
adotada na fase de pré-campanha e durante os mais de três anos que
comandou o Palácio dos Bandeirantes.
"Quem justifica deslizes
morais dizendo que está fazendo o mesmo que os outros fizeram ou que
foi levado a isso pelas circunstâncias deve merecer o repúdio da
sociedade. São os neocorruptos", declarou o candidato, em discurso de
mais de 40 minutos para uma plateia de cerca de 5.000 pessoas, no Clube
Espanhol, em Salvador.
Ex-ministro do governo Fernando
Henrique Cardoso, ex-prefeito de São Paulo e ex-governador, Serra
enfatizou a sua trajetória - uma das estratégias do PSDB é a comparação
de biografias. Sem citar a adversária Dilma Rousseff (PT), o tucano
falou sobre falta de experiência política da petista que nunca disputou
eleição. Foi quando disse a frase: "Não comecei ontem e não cai de
para-quedas." Serra se apresentou como o candidato da moralidade e da
defesa da ética. Criticou a atual relação com o Congresso, que, segundo
ele, não deve ser "uma arena de mensalões, compras de votos e de
silêncio".
Ditadores do mundo
Falou
também de política externa. "Acredito nos direitos humanos dentro do
Brasil e no mundo. Não devemos elogiar continuamente ditadores de todos
os cantos do planeta só porque são aliados eventuais do partido do
governo." Foi uma referência direta à aproximação do presidente Lula
com o Irã e a Venezuela.
Serra criticou o "desprezo" da atual
gestão pelos órgãos de controle, como Ministério Público e Tribunal de
Contas da União. "Prezo as instituições que controlam o Poder
Executivo, como os tribunais de contas e o Ministério Público, que
nunca vão ser aprimoradas por ataques sistemáticos de governos que, na
verdade, não querem ser controlados."
Promessas
O
tucano fez promessas para áreas de educação e saúde. Disse que, se
eleito, abrirá 1 milhão de vagas em escolas técnicas. Falou na
construção de 150 Ambulatórios Médicos de Especialidades em todos os
Estados. E aproveitou o tema da saúde para, novamente, atacar o
governo. Serra, que até então falava que a saúde "não avançou", ontem
usou a expressão "retrocesso" ao traçar o diagnóstico do setor.
O
evento de lançamento da candidatura contou com caciques do PSDB, DEM e
PPS, como o ex-governador Aécio Neves e o presidente tucano, Sérgio
Guerra. FHC mandou um vídeo que foi exibido durante o encontro.
Fonte: Julia Duailibi, Luciana Nunes Leal, Christiane Samarco e Tiago Décimo - O Estado de S. Paulo
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