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Alckmin diz que vai priorizar o emprego na campanha




Daniel Kfouri/Folha

 
O PSDB oficializará no domingo (13) a candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo. Segundo o Datafolha, ele é favorito.

Se eleito, esticará a hegemonia tucana Estado mais rico do país de 16 para 20 anos. Em entrevista ao blog, Alckmin discorreu sobre seus planos de governo.

Sua prioridade será a criação de cursos profissionalizantes de 200 a 400 horas. “Uma via rápida para o emprego”, segundo diz.

Rebate as críticas do rival Aloizio Mercadante nas áreas de educação e segurança: “Não resistem a um debate”, afirma. Abaixo a entrevista:


- O PSDB governa São Paulo há 16 anos. Se eleito, como fará para evitar o que os aeronautas chamam de fadiga de material? Governo não se herda, se conquista. Tivemos boas administrações.

- A alternância de poder não faria bem a São Paulo? Não há justificativa. Quando assumiu, em janeiro de 1995, o Mario Covas não tinha dinheiro para pagar os servidores. Havia R$ 38 milhões em caixa e uma folha de meio bilhão. O Estado estava quebrado. Sem aumentar um único imposto, o Estado ajustou as contas. Em 2010, São Paulo investirá R$ 20 bilhões.

- Há aí o dinheiro da venda da Nossa Caixa, não? É verdade. Mas mesmo se tirarmos a venda da Nossa Caixa, dá R$ 16,5 bilhões de investimentos.

- Qual foi a sua contribuição no ajuste? Quando assumi, em 2001, a relação da dívida sobre a receita corrente líquida era de 2,2. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelecia 2. Para exemplificar: se receita líquida era de R$ 100 bilhões, o Estado só podia dever R$ 200 bilhões. O Senado baixou resolução estabelecendo que, até 2015, todos tinham que se ajustar.  Dez anos antes, em 2005, eu cheguei a uma relação dívida-receita 1,8.

- E quanto a Serra? O Serra teve folga para buscar empréstimos externos para as obras. E reduziu a relação dívida-receita está em 1,5 ponto. O próximo governador terá ainda mais espaço para novos financiamentos. Vamos completar o Rodoanel, melhorar os trens, expandir o metrô e entrar no transporte de alta velocidade.

- O que o inspira a disputar o governo novamente? Eu me sinto mais preparado para a tarefa. Há a experiência de já ter sido governador e o fato de ter disputado, em 2006, a eleição presidencial. Ganhei uma visão de país.

- Não receia ser repetitivo? Aquilo que o Serra disse sobre o Brasil, vale para qualquer governo. Sempre é possível fazer mais.

- Mais ajuste fiscal ou mais obras? As obras não param nunca. E o ajuste fiscal sempre pode ser aperfeiçoado. Mas é óbvio que temos outros sonhos.

- Por exemplo... Temos hoje a maior rede de ensino técnico e tecnológico da América do Sul. Pretendo criar um terceiro braço, uma via rápida para o emprego.

- Como assim? Na escola técnica, a Etec, o curso é de um ano e meio. Na faculdade tecnológica, a Fatec, são três anos. Usando a mesma estrutura física, vamos fazer cursos com duração de 200 a 400 horas.

- Cursos de quê? Voltados para o povão: eletricista, encanador, azulejista, operador de máquina, costureira, modelista. Vamos investir pesado. Sobram vagas no mercado. Não são preenchidas por falta de qualificação. Vamos atacar esse problema.

- Essa é a sua prioridade? Diria que nossa prioridade será educação, aliada à formação profissional e ao desenvolvimento científico e tecnológico. Vamos abrir parques tecnológicos. Serão áreas onde teremos as empresas, a universidade, os institutos de pesquisa... A General Eletric vai ter quatro ou cinco centros de pesquisa e desenvolvimento no mundo. Queremos um em São Paulo.

- Como atrair? Vamos convidá-los a se instalar num dos nossos parques tecnológicos. Haverá laboratórios, mestres, doutores, universidade, terreno, logística, crédito para pesquisa.

- Vai dar estímulo fiscal? Vamos oferecer às empresas a oportunidade de usar os créditos de ICMS para os investimentos em pesquisa. E tem o dinheiro da FAPESP —1% do ICMS vai para pesquisa, por meio da FAPESP. Isso significa mais de R$ 800 milhões por ano.

- Seu rival Aloizio Mercadante diz que, sob o PSDB, a qualidade da educação se degradou. Como responde? São Paulo está acima das metas estabelecidas pelo MEC. O ministério estabeleceu os índices por meio do chamado Ideb. São Paulo está acima da meta em todos os níveis de ensino. O Enem de 2008 mostrou que, das 50 melhores escolas públicas estaduais do Brasil, 38 são de São Paulo.

- Acha, então, que a educação em São Paulo vai bem? É claro que não está bom, sempre pode melhorar. Mas é preciso comparar com o resto do país. A Constituição estabelece que é obrigatório investir no mínimo 25% da receita em educação. São Paulo tem uma tradição de investir 30%. Além disso, há a enorme rede de ensino técnico e tecnológico e as três universidades paulistas, que são brilhantes. A USP está entre as cem melhores universidades do mundo. Vamos avançar muito mais.

- Mercadante também realça a piora dos indicadores da segurança. Tem razão, não? Esse é um tema nosso. É raro no mundo um caso de redução de 71% na taxa de homicídios num Estado. Raríssimo. Quando assumi o governo, em 2001, nós tínhamos 12,8 mil homicídios por ano. Investi para valer. No ano passado foram 4.600 homicídios. Nesse primeiro trimestre, teve um pequeno aumento. Mas nada indica que é uma tendência. Tivemos redução de 2001 até 2009. Oito anos ininterruptos. Redução de 71%. Não estamos satisfeitos. Queremos melhorar mais.

- Como classifica as críticas de Mercadante? São totalmente improcedentes, superficiais, não resistem a um debate. É preciso se amparar em argumentos mais sólidos. Pegue, por exemplo, a posição de São Paulo em número de homicídios por 100 mil habitantes. Há no Estado, 10,9 homicídios por 100 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde estabelece que o ideal é abaixo de dez. Ainda não conseguimos chegar a isso. Vamos trabalhar para chegar lá. Mas São Paulo é o 25º Estado brasileiro em número de mortos. Só perdemos para Piauí e Santa Catarina. A cidade de São Paulo é a 26ª em número de mortos por cem mil habitantes no país. Só perde para Palmas (TO). É preciso considerar também a responsabilidade do governo federal.

- Quais são as culpas do governo federal? O Serra está coberto de razão quando fala em criar o Ministério da Segurança.

- Acha mesmo que um novo ministério resolve o problema? Não é tanto pelo ministério, mas pela prioridade que sinaliza. O grande problema é o tráfico de drogas e de armas. Para complicar, há a lavagem de dinheiro. Quem tem os instrumentos –COAF, Receita, PF e Forças Armadas é a União, não os Estados.



Derrotado por Lula na sucessão de 2006, Geraldo Alckmin acha que o desafio de José Serra, em 2010, é menor do que o enfrentado por ele.

Por quê? “O Lula não é candidato. [...] Eu disputei com um presidente que tinha a caneta cheia...”

“...Outra coisa é disputar com o indicado, uma ex-ministra. E agora estamos mais bem estruturados nacionalmente, inclusive no Nordeste”. 



Leia abaixo:

 - Na eleição municipal de 2008, o sr. não foi nem ao segundo turno. Por que acha que vai vencer agora? Na eleição passada, comecei e terminei praticamente com o mesmo percentual de votos, 22%, 23%. Entrei e saí com um quarto do eleitorado.  

- A que atribui a derrota? O Kassab se beneficiou da reeleição. O prefeito que tinha pior avaliação era o de Salvador [João Henrique, do PMDB]. Foi reeleito, como todos praticamente. Hoje, eu tenho algo como 50% na pesquisa. É diferente.

- Lula pedirá votos para Dilma e Mercadante. Acha que terá peso? Ele ajuda, claro, no Brasil inteiro. É um grande patrocinador de candidaturas. Mas é bom lembrar que, aqui em São Paulo, venci o Lula em 2006. Tive 11,9 milhões de votos. Ele, cerca de 8 milhões. Ganhei nos dois turnos em SP, RS, SC, PR, MT, MS e RR.

- O PSDB espera que Serra abra 4 milhões de votos sobre Dilma em São Paulo. Acha factível? Não acho adequado estabelecer números. Vamos trabalhar para ter a maior diferença possível. O Serra está na frente da Dilma no Estado. E vamos trabalhar para aumentar a diferença.

- Suas desavenças com Serra foram superadas? Não há desavenças. Sou amigo do Serra há 30 anos. Meu apoio foi vital para a vitória do Serra na prefeitura. Eu, como governador, tinha 69% de ótimo e bom. Quando veio a sucessão, em 2006, era mais lógico o Serra ser candidato a governador. Justificava melhor a saída dele da prefeitura. Eu não podia mais disputar o governo. E não havia outro nome forte. Eu fui à eleição presidencial. Deu-se o que era lógico. Imagine se tivesse sido o contrário. De repente, nós tínhamos perdido tudo. Agora, estou muito otimista.

- Seu otimismo se transfere para a cena nacional? Sem dúvida. Não há eleição fácil, mas a vitória do Serra é possível. O Lula não é candidato. Ele transfere votos? Claro que transfere. Mas uma coisa é ele ser candidato outra é apoiar uma candidata. Eu disputei com um presidente que tinha a caneta cheia. Outra coisa é disputar com o indicado, uma ex-ministra. E agora estamos mais bem estruturados nacionalmente, inclusive no Nordeste.

- Mas o Nordeste não é o ponto fraco do PSDB? A diferença vai ser menor do que se imagina.

- Por quê? No Rio Grande do Norte, com a Rosalba [Ciarlini, do DEM], vamos ganhar a eleição. No Piaui, o Silvio Mendes [PSDB] é favorito. Em Pernambuco, o Jarbas Vasconcelos [PMDB] vai ter uma votação maravilhosa. Em Sergipe o João Alves [DEM] está colado no Marcelo Déda [PT]. Na Bahia, a diferença do Paulo Souto [DEM] para o Jaques Wagner [PT] é de apenas oito pontos. Em Alagoas, o Teotônio Vilela [Filho, PSDB] é governador. Começando a campanha, ele vai se impor. Há também o Pará, no Norte. Ali, o Simão Jatene [PSDB] está em primeiro lugar. No Centro-Oeste: Siqueira Campos está quase eleito no Tocantins. Marconi [Perillo, PSDB] é favorito em Goiás. O André Pccinelli [PMDB] é favorito no Mato Grosso do Sul. Então, a eleição é dura, mas estou seguro: a situação de 2010 é melhor do que foi a de 2006.

Fonte: Josias de Souza - Folha.com

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