PT e PSDB apostam nos militantes virtuais e centralizam comunicação para guerra virtual, mas persistem dúvidas sobre eficácia das estratégias
Por Malu Delgado e Julia Duailibi - O Estado de S.Paulo
O
papel da internet na eleição presidencial no Brasil ainda não será
decisivo, avaliam coordenadores de comunicação das pré-campanhas e
especialistas. Mas é a batalha ideológica já aguerrida na rede que
municiará e mobilizará militantes para o debate nas ruas.
Justamente pela internet ser vista como instrumento político valioso
para preparar a militância é que as equipes dos pré-candidatos José
Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) começaram a
montar seus núcleos de comunicação digital.
Nos bastidores, o PSDB já contabiliza um exército informal de pelo
menos dez mil militantes. O PT, só em São Paulo, já tem quase mil
"soldados" atuando diariamente na rede. O partido, com mais de um
milhão de filiados, acredita no efeito virtual multiplicador da
militância.
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PT e PSDB terão ainda equipes especializadas pagas para atuar na
campanha digital. Dirigentes das duas legendas temem um certo
"descontrole" na linguagem e conteúdos de blogs e redes sociais dos
candidatos. Por isso, passaram a centralizar a comunicação na internet.
No PSDB, o núcleo duro da internet é formado por dez pessoas. As
iniciativas, antes pulverizadas, foram unificadas, na semana passada,
sob a coordenação do jornalista Marcio Aith.
No PT, a comunicação é coordenada por Rui Falcão, vice-presidente da
sigla. O partido decidiu separar a mobilização nas redes sociais, a
cargo de Marcelo Branco, da comunicação institucional produzida para a
internet.
Efeito Obama. No ano passado, tucanos e petistas flertaram com
estrategistas da campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, na rede. Ben Self, da Blue State Digital, veio ao Brasil e foi
cortejado por ambos os partidos como conselheiro. Acabou fechando com o
marqueteiro do PT, João Santana.
"Vendeu-se aqui o mito da internet, e alguns brasileiros compraram.
Achavam que a internet elegeu Obama, quando na verdade quem elegeu
Obama foi o próprio Obama", afirma Sérgio Caruso, integrante do núcleo
tucano. "Ainda é uma incógnita quantos votos vão virar ou se posicionar
por uma ou outra candidatura a partir do e-mail que recebem, ou do que
estão lendo no Orkut", diz Marcelo Branco.
"A internet não faz um candidato ganhar ou perder", sentencia o
secretário nacional de Comunicação do PV, Fabiano Carnevale. Porém,
acrescenta, as manifestações criativas na rede podem seduzir eleitores
e desafiar a lógica dos marqueteiros.
O PV, até o momento, aposta mais fichas na mobilização apartidária.
O Movimento Marina, criado por não filiados, já tem 19 mil integrantes.
Ainda assim, a sigla terá um núcleo digital composto por cerca de 40
pessoas.
"Todo mundo está superestimando o poder da web na conquista de
votos. Os sites reforçam convicções que as pessoas já têm", declara
Marcelo Coutinho, professor da FGV-SP e autor de um estudo sobre o uso
de novas mídias na campanha presidencial de 2006.
Para Tiago Dória, jornalista e pesquisador de mídia, o efeito Obama
não vai se reproduzir no Brasil. "Não tem como comparar o poder da
internet nos Estados Unidos com o Brasil." Segundo ele, a internet, se
bem usada, pode angariar simpatizantes não partidários. A tendência no
Brasil, diz ele, é que a campanha seja menos propositiva e que os
boatos sejam constantes.
Os partidos temem o efeito do bate-boca na rede. Os estrategistas do
PSDB citam a forte campanha virtual em 2006 contra o então candidato
Geraldo Alckmin. À época, circularam e-mails dizendo que o tucano faria
privatizações se eleito. "Isso contaminou e pegou na veia", diz Marcelo
Vitorino, estrategista de marketing digital que poderá integrar a
campanha de Serra.
"A estratégia de usar a internet para a campanha negativa, o que tem
acontecido com o PT e o PSDB, é uma furada. É mais do mesmo. O grande
barato da internet é atingir um grupo heterogêneo de pessoas", pondera
Carnevale. Para ele, o bombardeio de e-mails de militantes não é eficaz
para definir o voto do eleitor.
Abrangência. O baixo grau de politização do brasileiro, aliado às
limitações sócio-econômicas que reduzem a abrangência da internet,
explica, segundo especialistas, a predominância da guerrilha virtual.
Levantamento da comScore, empresa que mede audiência da internet em
mais de 40 países, mostra que no Brasil só 2% dos internautas acessam
páginas com o conteúdo político. Nos EUA, são 9,8%.
Dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da
Comunicação (Cetic.br) mostram que só 24% dos domicílios brasileiros
têm acesso à internet - cerca de 13,5 milhões de casas no final de
2009. Esse porcentual é ainda menor no Nordeste e no Norte (13%).
Por outro lado, é nas classes populares que o acesso à internet mais
cresce. "O Nordeste é o local onde há o maior porcentual de internautas
integrando redes sociais", afirma Alexandre Barbosa, gerente do
Cetic.br. As informações apontam, por exemplo, que o acesso à internet
em domicílios de famílias com renda de 1 a 2 salários mínimos cresce a
uma média anual de 69%.
"As classes de renda mais baixa estão mais conectadas do que estavam
na eleição de 2006", diz Sérgio Amadeu, pesquisador de cibercultura e
professor da Universidade Federal do ABC.
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