Na avaliação de especialistas, números mostram que eleitorado cativo de Lula não necessariamente vota na petista Dilma Rousseff
O
tucano José Serra é o presidenciável preferido de um terço dos
beneficiários de programas sociais do governo - grupo comumente
apontado como eleitorado cativo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e de sua candidata, Dilma Rousseff (PT).
Segundo a última pesquisa CNT/Sensus, dos entrevistados que dizem
participar de programas como o Bolsa-Família e o Primeiro Emprego, 46%
pretendem votar em Dilma e 33%, em Serra.
O fato de não haver alinhamento automático entre esse eleitorado -
que chega a 17% do total - e a candidata oficial enseja duas leituras:
ou Dilma tem potencial para crescer, ou está dando certo a estratégia
de Serra de prometer "manter e aprofundar" o Bolsa-Família.
"Os atendidos por programas sociais formam um eleitorado cativo do
presidente Lula, mas não necessariamente da candidata do PT", disse o
cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB).
"A questão é quanto desses votos Lula conseguirá transferir. E isso
ninguém sabe."
O cientista político Amaury de Souza, da empresa MCM Consultores,
também identifica o grupo atendido por programas sociais como lulista,
mas não necessariamente petista. "Há uma diferença abismal entre voto
em Lula e voto no PT." Para Souza, os números mostram que Serra acerta
"ao se recusar a desempenhar o papel de opositor", fugindo do roteiro
do "nós contra eles" preconizado pelo presidente.
Como parte da estratégia de dar caráter plebiscitário às eleições e
de transferir votos à sua candidata, Lula tem associado Dilma a
programas que alimentam a popularidade do governo. Entre o eleitorado
que aprova o desempenho do presidente, 43% se inclinam a votar pela
petista, e 35% optam pelo tucano. Segundo o Sensus, 84% aprovam Lula.
Dilma não esgotou seu potencial de crescimento em outro possível
"filão": o grupo que diz que o candidato indicado pelo presidente é o
único em que votará. Nesse segmento, que abrange pouco mais de um
quarto do eleitorado, a petista tem o voto de 71%. Por provável
desinformação, porém, Serra é apontado como opção por 19%, e Marina
Silva (PV), por 4%.
Confusão. Ricardo Guedes, diretor do instituto Sensus, afirma que é
comum encontrar aparentes paradoxos nas escolhas dos eleitores. "Há
sempre um grau de confusão e de incongruência. Mas também é verdade que
uma parcela da população não descobriu que Dilma é candidata."
Uma mostra de que o eleitorado tem dificuldade de diferenciar os
dois candidatos aparece em outro dado da pesquisa: 42% dos
simpatizantes de Dilma admitem que poderiam votar em Serra, e 44% dos
potenciais eleitores do tucano dizem que poderiam optar pela petista.
"O certo é que esta não é uma eleição definida", diz Ricardo Guedes.
"Há tendência de continuidade, mas isso não significa que o caminho da
candidata governista será fácil." Ele chama atenção para o fato de que
30% afirmam que os debates entre os candidatos serão importantes na
definição do voto. O Sensus ouviu 2.000 pessoas entre 10 e 14 de maio.
Fonte: Daniel Bramatti - O Estado de S.Paulo
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