À CPI, ele disse que emetia notas e recebia '10 vezes mais': diferença teria ido para campanhas
O
empresário Andi Roberto Gurczynska, que trabalhou como segurança para a
cúpula da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), declarou
ontem na Assembleia Legislativa de São Paulo que emitia notas de
serviço para a entidade e, em contrapartida, recebia em sua conta
depósitos de valor "dez vezes superior". A diferença, contou, era
resgatada depois e levada ao então presidente da Bancoop, Luís
Malheiro, e a outros diretores.
"Era voz corrente que (o dinheiro) ia para o PT", disse Andi, em
depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga
supostas fraudes e desvios na cooperativa fundada por um núcleo ligado
ao Partido dos Trabalhadores.
Segundo Andi, ele próprio escoltava Malheiro até o Sindicato dos
Bancários, na ocasião dirigido por João Vaccari Neto, hoje secretário
de Finanças e Planejamento do PT. Nessas visitas ao sindicato, Malheiro
levava envelopes, supostamente os mesmos que haviam sido retirados da
agência bancária.
Entre 2005 e início de 2010, Vaccari presidiu a Bancoop – ele
sucedeu a Malheiro que, em 2004, morreu em acidente de carro. Vaccari é
o alvo principal de investigação do Ministério Público Estadual que a
ele atribui envolvimento em desvios que podem chegar a R$ 100 milhões.
Parte desse montante, segundo a promotoria, teria sido destinado a
campanhas eleitorais do PT.
Andi relatou que "por três ou quatro vezes emitiu notas" no valor de
R$ 3.800 cada uma. A Bancoop depositava R$ 38 mil em sua conta bancária
por nota lançada. Ele abriu seu sigilo bancário e fiscal para provar
que os valores foram depositados a seu favor, mas sacados em seguida.
O empresário disse não ter como informar com precisão as datas em
que as transações bancárias foram efetuadas. "Minha intenção era
trabalho, eu fazia segurança, não ficava preocupado com datas. Posso
dizer que foi entre 2002 e 2004. Eu era segurança pessoal, chefe da
segurança da direção da Bancoop e fazia a escolta dele (Malheiro)",
disse. "Eu era mais ligado diretamente a ele do que a qualquer outra
pessoa lá dentro."
Apartidário. Na sessão de ontem da CPI, Andi
demonstrou indignação quando parlamentares do PT o acusaram de estar a
serviço do PSDB. Deputados informaram que, a partir de dezembro de
2009, ele fechou cinco contratos com administrações tucanas.
"Querem me desqualificar. Sou um profissional da área de segurança.
Minha empresa também tem contratos com gestões do PT. Participo de
licitações absolutamente transparentes. Quiseram me achincalhar. Sou
apartidário, não sou filiado a nenhum partido. Sou empresário."
"A CPI havia tomado depoimentos de cooperados que denunciaram
lesões, mas agora começamos a verificar para onde foi o dinheiro",
declarou o deputado Bruno Covas (PSDB), relator da CPI. "Se pagaram e
não receberam em serviços, alguma coisa foi feita com esses recursos.
Ninguém retira dinheiro em volumes elevados para pagar conta de água ou
pagar funcionário. Ninguém precisa de segurança para levar envelope
para outro lugar, a menos que haja dinheiro nesse envelope."
Para Covas, as operações narradas por Andi caracterizam
contabilidade paralela. "Ele disse que recebia valor X e dava uma nota
correspondente a 10% desse montante porque precisavam repassar em
dinheiro para diretores. Chama a atenção que ele recebia a mais sobre a
nota. Não é caixa 1, é caixa 2."
Sobre a acusação de que Andi teria ligações com o PSDB, Bruno Covas
foi taxativo ao comparar o episódio ao do caseiro Francenildo Costa
que, em março de 2006, denunciou o ex-ministro Antonio Palocci
(Fazenda) como frequentador da "casa do lobby", em Brasília.
"O PT quer fazer com uma testemunha importante o que tentou fazer
com o Francenildo quando descobriram um depósito na conta dele. Mais
tarde ficou comprovado que era dinheiro do pai do caseiro. A alegação
de que Andi está a serviço do governo do PSDB é absurda."
O deputado Vicente Cândido (PT), que integra a CPI, considera a
versão de Andi um caso inusitado. "Normalmente, nesses casos de desvio
de verbas ou corrupção, a nota é maior que o recebimento efetivo. Ele
(Andi) não provou nada." Vaccari Neto não retornou contato feito pela
reportagem.
Fonte: Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo
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