Para
apoiarem a candidatura da governadora Roseana Sarney, petistas estão
recebendo ofertas de pacotes de dinheiro que chegam a 40 000 reais. Nos
últimos dias, treze companheiros mudaram de lado. Por que será?
A camiseta do PT caiu bem em Roseana
Sofia Krause
Diz-se
nas ruas d terra do interior do Maranhão que a família Sarney é dona do
estado. O clã tem sociedade em tudo. Se algo está no Maranhão, pertence
aos Sarney. Eles detêm participações em TVs, rádios, jornais, fazendas,
mansões, ilhas, ONGs, fundações, holdings...
Nos últimos meses,
na esperança de conquistar a única mercadoria que talvez ainda lhe
escape, a família expandiu agressivamente os negócios. Passou a
investir em petistas. Petistas? Sim, petistas – e no varejo. No mercado
eleitoral do Maranhão, petistas aparentemente têm um preço.
Os
mais caros podem custar 40 000 reais. Na promoção, alguns saem pela
metade desse valor: 20 000 reais. Esta, ao menos, é a cotação
estabelecida pelos Sarney. Nas últimas semanas, operadores da família
procuraram integrantes da direção do PT maranhense para fechar negócio.
O
produto a ser comerciado, no caso, é apoio político. A governadora
Roseana Sarney, do PMDB, candidata à eleição, precisa desesperadamente
assegurar a aliança com o PT, que chegou a declarar apoio ao candidato
concorrente, do PCdoB.
As negociações começaram em razão do
resultado da convenção estadual do PT, ocorrida em março, que deveria
ratificar o apoio do partido à candidatura de Roseana Sarney. A lógica
política dessa decisão deriva da aliança nacional entre os petistas e o
PMDB, na qual o presidente da Câmara, deputado Michel Temer, deverá ser
o vice na chapa de Dilma Rousseff.
Pela natureza desse acordo, PT
e PMDB obrigam-se a resolver diferenças que venham a surgir na formação
dos palanques estaduais. E já surgiram muitas, como demonstra o notório
salseiro armado em Minas Gerais. No Maranhão, porém, as dificuldades de
união entre os dois partidos extrapolam quaisquer conveniências
eleitorais. Ali, ambos são inimigos há décadas, desde que Sarney é
Sarney e PT é PT – bem, ou eram, nos tempos em que havia distinções
mais nítidas no mundo político.
Na convenção petista de março,
delineou-se alguma. Pela magra vantagem de 87 votos contra 85, os
delegados do PT maranhense ignoraram as determinações da direção
nacional do partido e resolveram apoiar formalmente a candidatura ao
governo do deputado comunista Flávio Dino.
As compras começaram
assim que se encerrou a convenção. Para reverter a derrota, o clã
articulou um ardil político destinado a forçar a candidatura Roseana de
cima para baixo. Petistas amigos prontificaram-se a montar um
abaixo-assinado contrário à decisão tomada na convenção estadual e
remetê-lo ao diretório nacional do partido.
Com a medida,
pretendia-se anular o apoio ao comunista e, ato contínuo, selar a
aliança com o grupo de Sarney. Para elaborarem o abaixo-assinado,
operadores de Roseana saíram à cata de petistas. VEJA localizou quatro
que admitiram ter recebido a proposta de suborno para mudar de lado –
e, portanto, subscrever o tal documento.
Segundo esses
depoimentos, o pagamento variava de 20 000 a 40 000 reais. Todos
negaram ter aceitado a oferta. Um deles, entretanto, admitiu ter
assinado a lista, mesmo depois de votar contra a aliança com o PMDB, o
que não faz o menor sentido político.
As propostas se deram em
ambientes propícios a esse tipo de negociata. O delegado petista
Francivaldo Coelho conta que recebeu a oferta no estacionamento de um
shopping em São Luís, capital do estado. Segundo Coelho, o
intermediário chama-se Rodrigo Comerciário, um leal aliado da família
Sarney. O encontro ocorreu no dia 14 deste mês, uma sexta-feira. Durou
apenas dez minutos.
Narra o petista: "Ele nem desceu do carro,
estava tremendo de medo. Disse que ficariam 40 000 para mim e 40 000
para um delegado amigo meu. O dinheiro já estava com ele". Coelho
assegura que declinou da proposta. O tal amigo delegado, Arnaldo
Colaço, também não topou. E confirma o negócio: "Eles me ofereceram
40.000 reais para apoiar a Roseana".
O petista Marcelo Belfort,
do município de Ribamar Fiquene, ganhou até passagem de ônibus para ir
a São Luís negociar o passe num hotel. Diz ele: "A proposta inicial era
20 000 reais. Eles estão fazendo isso com vários delegados. Mas eu não
quis". A petista Maria de Lurdes Moreira, que votou contra o apoio a
Roseana e depois mudou de lado, confirma que também recebeu uma
proposta de 20 000 reais, porém antes da convenção. Houve outro
intermediário nesse caso. Segundo ela, José Antônio Heluy, secretário
de Trabalho do governo do Maranhão. "Estive realmente lá, mas não houve
esse tipo de conversa", diz o secretário.
A notícia dos subornos
correu a língua dos petistas. O deputado federal Domingos Dutra, um dos
principais adversários dos Sarney no estado, descobriu o rolo: "Eles
estão tentando comprar os nossos delegados". Completa o deputado Flávio
Dino, o candidato que está prestes a perder o apoio do PT: "É um
absurdo o que se está fazendo na região".
A artimanha de Roseana
corre tranquilamente. Na semana passada, remeteu-se o caríssimo
abaixo-assinado à direção nacional do PT. Nele, há 98 nomes. Treze
petistas, portanto, cederam aos encantos da candidatura Sarney – não se
sabe por quais razões.
Haveria um encontro do PT maranhense no
último fim de semana para ratificar o apoio à candidatura comunista,
mas a direção nacional da sigla cancelou o evento. Diz o
secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo: "Estamos acompanhando a
situação do Maranhão e tomaremos as medidas cabíveis diante dos fatos
de que tivermos conhecimento". A governadora Roseana Sarney não quis
comentar o caso.
Fonte: Veja.com
Comentários
Postar um comentário