O Vento da Mudança - Artigo de Eduardo Odloak




A grande Montadora da Ford foi demolida e a Continental também deixou a Mooca. O terreno da antiga Esso continua desocupado, em fase de “descontaminação” até novo uso. Grandes galpões ainda resistem na região do parque industrial da Mooca, mas até quando?
 
 Diferente de outras grandes cidades do mundo que se desenvolveram às margens de mares ou rios, No início do Século passado a Indústria de São Paulo se consolidou com a estrada de ferro, mas hoje, os ventos mudaram e as indústrias migram para outras cidades e estados deixando a orla ferroviária, que se estende desde o Brás até as cidades do ABC Paulista, uma sucessão de quadras urbanas ocupadas por galpões e armazéns industriais, muitos deles obsoletos. Por outro lado, na Mooca, há grande valorização dos imóveis decorrente da especulação imobiliária, surgindo grandes empreendimentos de serviços e de uso residencial.
 
Mas o que pode acontecer no entorno da Av. Henry Ford? Onde permanecem as antigas construções e a promessa de grandes transformações! É ali que podemos pensar num grande projeto para nossa cidade. Ao dar encaminhamento à Operação Urbana, a prefeitura sinaliza com a possibilidade de uma mudança de uso planejada. Isso é muito importante para impedir a degradação da região e abrir ao debate para a construção da cidade que queremos.
 
Gostaria aqui de destacar apenas a área entre a divisa com a linha férrea, desde a rua Sarapuí, até o viaduto Cap. Pacheco Chaves sendo o eixo desta idéia a avenida Henry Ford. Quando subprefeito, propus no Plano Diretor Regional que o terreno da Esso fosse transformado em Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPAM) para que possa abrigar uma área verde. No terreno da antiga Ford há projeto para a construção de um grande Shopping Center, o que deve acelerar o processo de transformação dessa região.
 
A cidade possui uma enorme carência de lugares adequados para abrigar casas de espetáculos, restaurantes, bares e eventos culturais. São Paulo recebe mais de 11 milhões de turistas por ano e não possui um ambiente específico que não choque com a necessária tranqüilidade para áreas com residências. Estamos falando de uma área com mais de 1 milhão de metros quadrados sem uso residencial.
  
Pensar numa área isolada do uso residencial para abrigar um projeto como esse faz sentido em São Paulo, pois a legislação que trata da lei do silêncio, fiscalizada pelo PSIU e a lei da 1 horas que obriga bares que não possuem tratamento acústico, segurança e estacionamento a encerrarem suas atividades a 1 hora da madrugada é desrespeitada por quase todo o setor. Isso ocorre por que a demanda de clientes exige, mas criam enormes problemas à fiscalização que é obrigada a penalizar e até lacrar o estabelecimento quando reincidente. Uma situação de conflito permanente, de um lado, moradores que querem transitar e dormir e do outro, empresários da noite e freqüentadores. Ou seja, atividades que fazem parte do nosso hábito de consumo como moradores de uma das maiores cidades do mundo e possui demanda para ampliar, ainda mais, essas atividades merece um local para isso. Essa idéia não é novidade, pois diversas cidades do mundo adotaram algum projeto dessa natureza como instrumento de revitalização de regiões degradadas.
 
No ano passado, foi votado a Lei da Concessão Urbanística e isso pode facilitar essa idéia. Há empresas internacionais estudando a região e já há projetos. Porém, o que se discute, permite o uso misto da área, possibilitando prédios residenciais. Neste ponto é que eu discordo. Durante a experiência que tive na subprefeitura com a legislação municipal, principalmente nessa área, acredito que seja fundamental a separação do uso residencial com o novo projeto, pois o conflito entre ambos pode ser um grande obstáculo ao sucesso. É hora de aproveitar os novos ventos e planejar a mudança. O mundo pode ganhar uma nova Broadway, planejada e criativa, como a cidade merece.
 
Eduardo Odloak
Foi subprefeito da Mooca durante a gestão José Serra

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