A grande Montadora da Ford foi demolida e a Continental também deixou a
Mooca. O terreno da antiga Esso continua desocupado, em fase de
“descontaminação” até novo uso. Grandes galpões ainda resistem na
região do parque industrial da Mooca, mas até quando?
Diferente
de outras grandes cidades do mundo que se desenvolveram às margens de
mares ou rios, No início do Século passado a Indústria de São Paulo se
consolidou com a estrada de ferro, mas hoje, os ventos mudaram e as
indústrias migram para outras cidades e estados deixando a orla
ferroviária, que se estende desde o Brás até as cidades do ABC
Paulista, uma sucessão de quadras urbanas ocupadas por galpões e
armazéns industriais, muitos deles obsoletos. Por outro lado, na Mooca,
há grande valorização dos imóveis decorrente da especulação
imobiliária, surgindo grandes empreendimentos de serviços e de uso
residencial.
Mas o que pode acontecer no entorno da Av. Henry Ford? Onde permanecem
as antigas construções e a promessa de grandes transformações! É ali
que podemos pensar num grande projeto para nossa cidade. Ao dar
encaminhamento à Operação
Urbana, a prefeitura sinaliza com a possibilidade de uma mudança de uso
planejada. Isso é muito importante para impedir a degradação da região
e abrir ao debate para a construção da cidade que queremos.
Gostaria aqui de destacar apenas a área entre a divisa
com a linha férrea, desde a rua Sarapuí, até o viaduto Cap. Pacheco
Chaves sendo o eixo desta idéia a avenida Henry Ford. Quando
subprefeito, propus no Plano Diretor Regional que o terreno da Esso
fosse transformado em Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPAM) para
que possa abrigar uma área verde. No
terreno da antiga Ford há projeto para a construção de um grande
Shopping Center, o que deve acelerar o processo de transformação dessa
região.
A
cidade possui uma enorme carência de lugares adequados para abrigar
casas de espetáculos, restaurantes, bares e eventos culturais. São
Paulo recebe mais de 11 milhões de turistas por ano e não possui um
ambiente específico que não choque com a necessária tranqüilidade para
áreas com residências. Estamos falando de uma área com mais de 1 milhão
de metros quadrados sem uso residencial.
Pensar
numa área isolada do uso residencial para abrigar um projeto como esse
faz sentido em São Paulo, pois a legislação que trata da lei do
silêncio, fiscalizada pelo PSIU e a lei da 1 horas que obriga bares que
não possuem tratamento acústico, segurança e estacionamento a
encerrarem suas atividades a 1 hora da madrugada é desrespeitada por
quase todo o setor. Isso ocorre por que a demanda de clientes exige,
mas criam enormes problemas à fiscalização que é obrigada a penalizar e
até lacrar o estabelecimento quando reincidente. Uma situação de
conflito permanente, de um lado, moradores que querem transitar e
dormir e do outro, empresários da noite e freqüentadores. Ou seja,
atividades que fazem parte do nosso hábito de consumo como moradores de
uma das maiores cidades do mundo e possui demanda para ampliar, ainda
mais, essas atividades merece um local para isso. Essa idéia não é
novidade, pois diversas cidades do mundo adotaram algum projeto dessa
natureza como instrumento de revitalização de regiões degradadas.
No
ano passado, foi votado a Lei da Concessão Urbanística e isso pode
facilitar essa idéia. Há empresas internacionais estudando a região e
já há projetos. Porém, o que se discute, permite o uso misto da área,
possibilitando prédios residenciais. Neste ponto é que eu discordo.
Durante a experiência que tive na subprefeitura com a legislação
municipal, principalmente nessa área, acredito que seja fundamental a
separação do uso residencial com o novo projeto, pois o conflito entre
ambos pode ser um grande obstáculo ao sucesso. É hora de aproveitar os
novos ventos e planejar a mudança. O mundo pode ganhar uma nova
Broadway, planejada e criativa, como a cidade merece.
Eduardo Odloak
Foi subprefeito da Mooca durante a gestão José Serra
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