"A gente aprende com os erros", diz Alckmin sobre suas derrotas



Depois de duas derrotas consecutivas, em 2006 e em 2008, e de ter enfrentado forte resistência de seu partido, o PSDB, para disputar o governo do Estado, Geraldo Alckmin evita polêmicas, elogia José Serra e Gilberto Kassab e diz que é necessário "aprender com os erros" de eleições passadas.
Líder nas pesquisas, diz que o PSDB estabeleceu um "novo paradigma'' no Estado, o que explica os 16 anos no poder, e promete avanços na educação, na segurança e na saúde, áreas consideradas problemáticas. Defende o modelo de concessão de rodovias e descarta revisão imediata dos pedágios. Leia, a seguir, entrevista concedida na última quinta-feira à Folha, na sede do jornal.
 
FOLHA - Por que o sr. quer ser novamente governador do Estado?
GERALDO ALCKMIN - Eu me sinto mais preparado, mais experiente para planejar, enfrentar, equacionar e resolver um conjunto de questões do Estado. Nós temos tido, ao longo dos governos do PSDB, avanços progressivos. O resultado desse bom trabalho é a capacidade de investimento do Estado ano passado, perto de R$ 20 bilhões. Antes do PSDB, a capacidade de investimento era negativa. Estabelecemos em São Paulo um novo paradigma, precursor, inclusive, da Lei de Responsabilidade Fiscal.
 
FOLHA - Se o sr. for eleito, serão 20 anos no poder. Alternância de poder não é pressuposto da democracia?
ALCKMIN - O PSDB, esses anos todos, foi eleito pela população. Quer dizer, a população de São Paulo confia no trabalho do PSDB. Essa confiança foi conquistada. Governo não se herda, governo se conquista. O PSDB conquistou a confiança da população, com ética, seriedade, trabalho e eficiência.
 
FOLHA - Aloizio Mercadante adota uma variante do discurso de José Serra, de que é possível fazer mais em São Paulo. PT e PSDB vão apenas trocar de lado nas duas disputas?
ALCKMIN - Não, temos diferenças importantes. O PSDB em São Paulo inovou, trouxe um novo paradigma de administração pública. O governo do PT em Brasília deu sequência ao trabalho do presidente Fernando Henrique. Quem fez as grandes mudanças de paradigma, estruturais do Brasil foi o PSDB, com o Plano Real, quando Fernando Henrique era ministro do Itamar Franco, a reforma do Estado, a rede de proteção social, as agências reguladoras, a inserção do Brasil no cenário internacional. O governo do PT se beneficia hoje do que foi plantado lá atrás.
 
FOLHA - Em 2008, o PSDB propôs que o sr. não disputasse a prefeitura para esperar o governo, e o sr. não quis. Por que mudou de ideia?
ALCKMIN - O ideal de servir é o mesmo. O mesmo ideal de servir que eu tinha em 2008 para ser prefeito de São Paulo, eu tenho hoje. Durante a campanha eu fui sentindo que a população me via muito mais como governador do que como prefeito. Vou fazer uma grande parceria com o prefeito Gilberto Kassab.
 
FOLHA - Como foi feita essa recomposição com Kassab?
ALCKMIN - As minhas críticas na campanha nunca foram pessoais, elas foram políticas. Eu sempre disse: "Se eu não for para o 2º turno, eu vou apoiá-lo". Foi o que eu fiz. Minha relação com o DEM sempre foi boa. Nosso vice será do DEM.
 
FOLHA - O sr. acha que foi um erro a disputa da prefeitura?
ALCKMIN - Não. O meu ideal sempre foi o de servir, de trabalhar pela população. Agora, a população é quem decide. A gente nunca perde quando disputa, quando coloca o nome à disposição da sociedade.
 
FOLHA - Em 2006, o sr. foi candidato a presidente contra Lula e bateu muito na questão ética. Agora Serra evita falar como opositor de Lula. Qual a melhor estratégia?
ALCKMIN - Eu vejo o Serra como o franco favorito. Esta eleição é diferente de 2006. Primeiro porque o Lula não é candidato. Você tem um mito da política, é inegável a capacidade dele de comunicação com a população. Além disso, os palanques estaduais do PSDB e da oposição estão mais estruturados. A eleição não será fácil. Mas eu diria que o Serra, nesta eleição, diferentemente de 2006, é favorito. E o discurso está correto, mostrando que é possível avançar mais. Estamos discutindo o futuro, quem pode fazer mais nos próximos quatro anos. Experiência não se pega por osmose.
 
FOLHA - E a que o sr. atribui o fato de ter tido menos votos no segundo turno em 2006 do que no primeiro?
ALCKMIN - Várias razões. Uma delas, a dificuldade de palanques. O peso do governo é inegável. Alguns dos nossos candidatos perderam no primeiro turno, então o peso do governo tem resultado. Mas quando a gente perde só tem uma explicação: tive menos votos.
Acho que a gente aprende com os erros, com as eleições passadas, amadurece. Eleição se perde e se ganha. O importante é ter princípios.
 
FOLHA - Desde as primeiras pesquisas o sr. sempre aparece na frente. Por que, então, houve tanta resistência do PSDB ao seu nome?
ALCKMIN - Um partido grande, como o PSDB, tem vários bons quadros. É natural que você tenha várias e boas opções. Você vai caminhando com essas opções e buscando uma convergência. Em nível nacional, tinhamos o Serra e o Aécio, e fomos convergindo para o nome do Serra. Aqui em São Paulo tínhamos o meu nome, o Goldman e o Aloysio, e fomos convergindo para o meu nome. Estamos unidos. Quem apostar na divisão do PSDB vai perder.
 
FOLHA - Mas essa divisão é histórica no PSDB paulista. Como se deu sua aproximação com Serra?
ALCKMIN - Não há divisão. O que há são várias lideranças. Isso é natural, é bom e é saudável. É natural que em alguns momentos haja divergências. Não são divergências programáticas nem éticas. Divergências fazem parte do processo político.
Em relação à secretaria, eu fiquei muito honrado com o convite do Serra, e adorei ser secretário durante 14 meses. E ainda encontrei na secretaria uma joia da Coroa, que é o sistema Paula Souza. As ETECs e Fatecs fazem um trabalho primoroso. Aliás, pretendo avançar muito fazendo esse casamento entre educação e emprego.
Nós praticamente dobramos o número de ETECs e Fatecs, aumentamos em quase 100 mil o número de alunos em ETECs. Tanto que no último Enem, de 2008, das 50 melhores escolas públicas do Brasil, aparecem 38 ETECs de São Paulo.
 
FOLHA - Em outras provas os estudantes de São Paulo têm baixo desempenho. Esse é um dos pontos fracos dos governos tucanos?
ALCKMIN - Não, não é ponto fraco, mas tem de avançar, e nós vamos avançar muito. Vamos priorizar investimentos na qualidade. São Paulo está acima das metas estabelecidas pelo Idesp, melhorou também no Saresp, e vamos avançar mais no programa do bônus por merecimento, da meritocracia. Sou favorável, vou manter.
 
FOLHA - O seu secretário da área foi o Gabriel Chalita, que teve a gestão muito criticada, e hoje é candidato ao Senado pelo PSB. Foi um erro colocá-lo como secretário?
ALCKMIN - Não, o Chalita fez um bom trabalho. Avançamos na municipalização da educação. Criamos um programa premiado, que foi o Escola da Família, avançamos no número de horas-aula, criamos 500 novas escolas em tempo integral, fizemos a capacitação permanente de professores, com a Rede do Saber. O fato de ele ter mudado de partido eu lamentei muito. Tentei evitar, fiz o possível para que ele não saísse do PSDB, mas ele resolveu ter um voo solo. Acho que foi um erro.
 
FOLHA - Na segurança, os índices voltaram a piorar. É outro calcanhar de aquiles?
ALCKMIN - Em segurança pública há um case que é estudado internacionalmente, que é a queda de homicídios em São Paulo. Tínhamos 35,7 homicídios por 100 mil habitantes e isso foi caindo até chegar a 10,69 em 2008. O Estado de São Paulo era, em 1997, o 5º com mais homicídios dolosos. Em 2007, éramos o 25º. Evidente que não estamos satisfeitos. Isso é uma guerra que você tem de vencer batalha todos os dias. A proposta do Serra, de criar o Ministério da Segurança, está corretíssima. Qual é o grande problema de segurança que você tem hoje? É droga, é tráfico. Isso é polícia de fronteira. As fronteiras brasileiras são o paraíso para o traficante de droga e de arma. Nesse primeiro trimestre houve um aumento no número de homicídios, mas é um trimestre, não indica uma tendência.
 
FOLHA - O PT tem citado que a margem de lucro das concessionárias de rodovias da União é de 8%, e em São Paulo seria próxima de 20%.
ALCKMIN - A taxa de retorno é igual, estadual e federal. Nas novas concessões estaduais em São Paulo a taxa de retorno é de 8%, não tem nada de 20%. Na década de 90, a taxa de retorno tanto na área federal (nas concessões elétricas) quanto estadual era mais alta. O modelo de concessão era diferente. As concessões do Estado geraram, nos últimos anos, R$ 5,5 bilhões. O trecho sul do Rodoanel, que foi inaugurado agora, foi pago praticamente com a concessão do trecho oeste. O nosso modelo exige pagamento pela concessão, que o governo federal não tem, e exige grandes investimentos. É só comparar. A Imigrantes foi feita em 32 meses, sem um centavo de dinheiro público. Foi pago por quem usa a estrada. Nas concessões federais, a Régis Bittencourt, a rodovia da morte, não começou sequer a duplicar a serra dos Cafezais. E a Fernão Dias está caída desde fevereiro.
 
FOLHA - Então reduzir pedágio não é algo que esteja no horizonte?
ALCKMIN - Nós vamos analisar caso a caso.

Fonte: Vera Magalhães e Breno Costa - Folha Online


Comentários