Tema foi consenso em debate com participação com participação de representantes de 10 partidos que defenderam o financiamento público de campanha
O projeto Ficha Limpa deve ser parte de uma reforma política mais
ampla que inclua o financiamento público de campanhas. Este foi o
principal consenso entre os representantes de dez partidos políticos
paulistas com assento na Câmara que participaram de debate no Estado na
sexta-feira, 21.
O encontro discutiu o Ficha Limpa e sua aplicação prática já para as
eleições de outubro. O projeto – aprovado na semana passada pelo Senado
– foi enviado para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
que deve ocorrer nos próximos dias.
Outro tema que dominou o debate foi a possibilidade de haver um
compromisso dos pré-candidatos à Presidência em fazer uma reforma
política logo no início do governo. "Vamos levar este compromisso ao
nosso pré-candidato José Serra (PSDB)", afirmou o presidente do PPS,
Roberto Freire. O deputado Carlos Sampaio, do PSDB, disse não ter
dúvidas de que o tucano levará adiante a proposta.
O presidente do PT estadual, Edinho Silva, afirmou que a reforma
política também é uma prioridade da pré-candidata Dilma Rousseff (PT),
assim como a tributária. "É necessário, entretanto, que a sociedade
seja mobilizada nesse sentido", ponderou.
A secretária executiva do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral
(MCCE), Jovita José Rosa, já havia dito ao Estado em entrevista há 15
dias que a reforma política será a nova luta das 44 entidades – entre
as quais a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB) – que fizeram o Ficha Limpa .
"Caso o Congresso não faça a reforma, esse será o próximo tema de
uma lei de iniciativa popular", assegurou. O MCCE já aprovou, além do
Ficha Limpa, a Lei 9.840, que pune venda de votos e foi responsável
pela cassação de 600 políticos desde 2002.
Dúvidas. Embora a reforma política seja vista como
um tema fundamental para debate no Congresso, os discursos demonstraram
que não há consenso sobre como ela deve ser.
O financiamento público de campanhas com a criminalização do
financiamento privado parece ser a única questão consensual.
Praticamente todos os representantes dos partidos disseram considerar
que o financiamento privado das campanhas é a maior fonte de corrupção
do Legislativo brasileiro.
"A empresa que financiou o candidato, depois vai colocar argolas e
dizer o que o parlamentar deve fazer. O financiamento público garante
autonomia ao deputado", defendeu Ivan Valente, do PSOL. O ex-senador
Roberto Freire concordou com o deputado. "Até por uma questão numérica
o financiamento público é melhor. Hoje são milhares de candidatos para
a Justiça fiscalizar. Com financiamento público, serão apenas 30
partidos", afirmou. "Claro que pode haver caixa 2, mas o controle é
maior."
Dúvidas. De resto, há dúvidas sobre votação em
lista ou distrital e até mesmo sobre a forma de se fazer a reforma
política, se com o Congresso atual ou por meio de Constituinte
exclusiva.
"Não há consenso nem nas legendas sobre o tema. O deputado do nosso
partido, Ronaldo Caiado, um ardoroso defensor do financiamento público,
apresentou a proposta, que não seguiu adiante. Mas nem ele próprio ou
suas ideias são consenso no partido. Afinal, qual reforma queremos?",
questionou o deputado paulista Guilherme Campos, do DEM.
Representante do PMDB, o advogado Ricardo Vita Porto resumiu
discordâncias sobre o assunto. "Voto em lista tira a liberdade de
escolha do eleitor. O financiamento público, por sua vez, não impede o
privado. O ideal é o voto distrital", argumentou.
Constituinte. Pedro Bigardi, do PC do B, disse que
o tema é controverso: "Há enorme conjunto de polêmicas." Marco Antonio
Mroz, representante do PV, defendeu uma Constituinte exclusiva para
tratar da reforma. "Com esse grau de contaminação que o atual Congresso
tem, não dá para se discutir a reforma", disse.
O tucano Carlos Sampaio também apontou questões polêmicas no
financiamento público. "Há uma visão dúbia sobre o assunto. A sociedade
pode ficar indignada porque pode considerar que pagará (as campanhas),
mas continuará existindo o (financiamento) privado, como imaginam
alguns mais céticos."
Fórum. Edinho Silva, do PT, sugeriu que o Estado
organize um fórum permanente dos partidos para discutir a reforma
política. "O Estado, que demonstrou liderança em todo o processo do
Ficha Limpa, assim como a Rádio Eldorado, poderia usar sua força para
levar adiante essa proposta".
Fonte: Moacir Assunção e Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo
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