Ex-presidente do TSE afirma que Lula usa a máquina pública a favor de Dilma



O ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Mário Velloso, afirmou nesta segunda-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está usando o governo federal para promover a ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT a presidente. Para Velloso, o fato de o presidente ser constantemente multado pela Justiça Eleitoral por propaganda eleitoral antecipada - Lula já recebeu quatro multas do TSE - é um indicativo claro de infração, principalmente com uso da imagem institucional da Presidência, para promover a petista. 

- A gente evita nomes. Mas, sem dúvida, nós temos assistido à máquina administrativa a favor de uma candidatura. Isso não está correto, é contra a lei. O fato de terem sido impostas multas mostra que se tem a máquina trabalhando em favor de uma candidatura - declarou Velloso, que participou do debate "Legislação Eleitoral e Eleições 2010" promovido pela Assembleia Legislativa de Minas. 

Já a atual vice-presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia Rocha, afirmou que a Justiça está atenta e vai punir qualquer abuso constatado durante o pleito. Ela não quis falar com a imprensa mas, em discurso, ressaltou, inclusive, que a Justiça Eleitoral, ao contrário dos demais ramos do Judiciário, é rápida para analisar possíveis infrações. 

- Ninguém imagina que vai se ter alguma facilidade com qualquer tipo de vício, de mácula. A celeridade da Justiça Eleitoral é maior do que as outras. Muito mais do que qualquer processo que se faça, e que se imagine que a Justiça Eleitoral vai de alguma maneira fazer de conta que não viu, não vai. A Justiça é cega, mas os juízes estão cada vez mais afiados, até porque a oftalmologia tem ajudado muito - ironizou. 

Carlos Velloso, que atualmente é filiado ao PSDB, ressaltando que já não se referia a nenhum caso específico, defendeu rigor na punição ao uso da máquina pública a favor de candidatos e afirmou que acredita, inclusive, na possibilidade de cassação de um presidente eleito com uso de tal recurso. 

- Quando se põe a máquina administrativa a favor de uma candidatura, isso deve ser punido com severidade porque cria, sem dúvida nenhuma, desequilíbrio, abuso de poder político, abuso de autoridade. Isto não é forma democrática de encarar a questão. Nós estamos cada vez mais adquirindo maioridade política. Vinte anos atrás seria uma calamidade falar uma coisa dessas (cassação de um presidente por abuso de poder), mas hoje não -disse. 

O ex-ministro evitou entrar na questão do valor das multas impostas até o momento pelo Judiciário. Mas, no mesmo evento, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mineiro, desembargador Antônio Baía Borges, afirmou que, apesar das penalidades aplicadas pela Justiça Eleitoral serem indicativo de que há conduta ilegal por parte de candidatos, os valores são insuficientes para coibir as infrações. 

- Se a multa continuar neste patamar, estaria valendo a pena infringir a lei e pagar a multa, que seria quase uma bagatela pelo gasto da campanha eleitoral. As multas, que estão dentro da lei, seriam um pouco irrisórias. Espero mais que o político ponha um pouco a mão na consciência e não infrinja tanto as leis. Mas é um sinal, ainda que a multa seja baixa, de que a Justiça Eleitoral está atenta e de que ela não vê com bons olhos a infração. Seria o caso de mudar a legislação ou subir a tabela das multas. Isso compete ao legislador fazer - declarou. 

Responsável pela primeira multa - de R$ 5 mil - aplicada a Lula por propaganda eleitoral antecipada, em março, o ministro substituto do TSE, Joelson Costa Dias, também defendeu a atuação do Judiciário, mas evitou falar em eficácia das penalidades impostas até o momento.
Segundo Dias, qualquer "aperfeiçoamento" da legislação eleitoral fica a cargo dos parlamentares e da população. 

- Não cabe à Justiça Eleitoral se pronunciar sobre isso. É uma questão que pode partir da sociedade. Muitos já sustentam, já ponderam essa possibilidade (aumento do valor das multas). Cabe à sociedade, juntamente com o Congresso, definir se a legislação que hoje se apresenta é satisfatória ou se há algum ponto a ser aperfeiçoado - concluiu. 

Fonte: Marcelo Portela - O Globo

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