O 'Estado' percorreu 12.980 km, em todo o Brasil, para ouvir os eleitores sobre o que ocorreu nos últimos anos em suas vidas, sobre sua visão do governo e do País e como tudo isso repercute na construção de seu voto para presidente
Como
se forma o voto na mente do eleitor brasileiro? Quais suas motivações?
O que é decisivo para ele? Para responder a essas perguntas, o Estado
percorreu, nos últimos meses, 12.980 km, de avião e de carro, em busca
de grupos de pessoas que, juntos, representam o mosaico da
extraordinária diversidade de tipos humanos e condições socioeconômicas
do Brasil.
Num país tão heterogêneo, social e geograficamente, sintetizar as
motivações dos eleitores numa fórmula única é tarefa impossível. Até
mesmo no indivíduo, a construção do voto segue muitos meandros e se
compõe de muitos elementos, tanto objetivos quanto subjetivos:
simpatias e identificações pessoais, resultados palpáveis no bolso,
grau de satisfação com os serviços públicos, casualidades da vida,
enfim, experiências pessoais que têm muito ou pouco a ver com o
governo.
Mas, se há uma coisa que define o sentimento dos brasileiros, que
permeia todas as classes sociais e regiões do País, que atravessa as
fronteiras do urbano e do rural, do nível de instrução e da idade, é
essa: os brasileiros têm os olhos voltados para o futuro.
Independentemente de suas preferências e posições sociais, eles
concordam que a vida melhorou nos últimos anos, e veem continuidade
naquilo que mais importa nesses 16 anos de governo de Fernando Henrique
Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva: as políticas econômica e
social.
As coisas têm melhorado, e o que eles querem saber agora é em quem
devem votar para que elas continuem melhorando. Por razões muito
concretas, esse estado de ânimo perpassa eleitores em situações
socioeconômicas e com sensibilidades e compreensões da realidade tão
díspares: a melhoria do poder de compra dos trabalhadores, o acesso ao
crédito, a expansão dos programas sociais, a geração de empregos
formais, o crescimento com inflação baixa.
Os brasileiros estão mais contentes do que antes. Isso não significa
que estejam satisfeitos: eles querem mais. Como não há um embate entre
os candidatos sobre modelos de políticas econômicas e sociais, é
natural que não haja um “herdeiro” óbvio do que é percebido como
conquistas, nem um oponente claro daquilo que ainda perturba os
brasileiros. E há muito o que os perturba: as ineficiências do Estado,
a precariedade da saúde, a violência, a corrupção, os impostos altos,
enfim, os velhos problemas de sempre.
As narrativas que seguem não pretendem ter consistência estatística.
Não são pesquisas, nem sequer qualitativas: são reportagens. Mas o
leitor não deixará de notar uma correlação entre os resultados das
pesquisas de aprovação do governo e de intenção de voto e as opiniões
expressas pelos entrevistados. Muitos dos estereótipos se confirmam
aqui: o espírito crítico dos mais instruídos e urbanos, a gratidão dos
mais pobres para com os programas sociais, a identificação especial dos
nordestinos com o presidente Lula, as habituais queixas e inquietudes
dos produtores rurais e dos empresários.
Mas mesmo o previsível ganha a vivacidade que só histórias reais podem proporcionar. É o Brasil em movimento.
Fonte: Lourival Sant´Anna - O Estado de S.Paulo
Comentários
Postar um comentário