Candidatos à presidência invadem a internet atrás do eleitor




A 44 dias do início da campanha eleitoral, os principais pré-candidatos à Presidência até aceitam esperar sentados para convencer os eleitores de que possuem as melhores propostas para o Brasil. Sentados, sim, desde que conectados à rede mundial de computadores, ganhando espaço ¿ e seguidores ¿ nos sites de relacionamento que cada vez mais viram febre no país. E em meio a um sem-fim de programas como Orkut, Facebook e Formspring.me, há um eleito: o Twitter ¿ microblog que permite aos usuários trocarem mensagens instantâneas de até 140 caracteres.
Dilma Rousseff (PT) (@dilmabr), José Serra (PSDB) (@joseserra_), Marina Silva (PV) (@silva_marina), José Maria Eymael (PSDC) (@eymael), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) (@pliniodearruda), Levy Fidélix (PRTB)(@levyfidelix), Zé maria (PSTU) (@zemaria_pstu) ... todos estão lá, "twittando" freneticamente. Para dimensionar a importância que as redes sociais alcançam neste pleito, todos os pré-candidatos contrataram profissionaispara impulsionar seus relacionamentos virtuais.
"A nossa estratégia é inovar na forma de fazer comunicação na internet utilizando a experiência do que é bem sucedido nas redes sociais", diz Marcelo Branco, que coordena este trabalho na campanha de Dilma Rousseff.
 
QG virtual
Por "experiências bem sucedidas" cabe destacar que a pré-candidata petista contratou a equipe que atuou na campanha do democrata Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos.
"Fechamos com a Blue State Digital, comandada por Ben Self, e a Revolution Messaging, de Scott Goodstein. Eles não farão as estratégias de marketing, vão nos ajudar com as ferramentas que nos permitam saber o perfil do internauta da Dilma e as melhores maneiras para interagir com eles", assegura Branco, que se afastou da coordenação da Associação de Software Livre no Brasil para navegar na política.
Embora tenha sido um dos primeiros políticos a aderir ao Twitter, José Serra foi um dos últimos a montar uma estratégia para levar a pré-campanha às redes sociais. O jornalista Márcio Aith, que assumiu a área de comunicação da candidatura tucana fechou com o publicitário Sérgio Caruso, que tem a missão de engrenar o processo.
"Traçamos duas prioridades: no site da campanha ofereceremos conteúdo, propostas e trabalho. Será lançado no prazo da legislação eleitoral. A outra frente é o Mobiliza PSDB (mobilizapsdb.org.br), que já está no ar, e reúne diferentes redes sociais montadas em diversas plataformas, como Facebook e Twitter. Por enquanto, essa é a parte mais visível do projeto".
De acordo com Caruso, o carro-chefe até o momento nos relacionamentos virtuais na campanha tem sido o Twitter de José Serra.
"O Serra já incorporou a cultura da internet, do diálogo com os internautas. Isso é muito importante e acaba refletindo nos sites feitos por nós, da equipe, e por voluntários. Ele já tem mais de 236 mil seguidores", ressalta.
Todos os coordenadores das redes sociais dos pré-candidatos admitem que, a exemplo do que aconteceu com a campanha de Barack Obama, a internet também será um espaço para fomentar a arrecadação de recursos para os candidatos.
"Sim, (faremos isso) como em qualquer campanha", informa o sócio-diretor da MVL Comunicação, Nilson Oliveira, um dos líderes das atividades da pré-campanha de Marina Silva.
 
Virei um twittador
Aos 79 anos, o socialista Plínio de Arruda Sampaio não abre mão da plataforma virtual. Diz que conheceu o Twitter por meio do neto. Hoje, arregimenta mais de 4.680 seguidores. Depois de dominar o programa, dedica todas as terças-feiras, das 10h às 13h, para interagir com os internautas.
"Eu virei um twittador. Gosto da imediatalidade das respostas e de mandar mensagens para todo mundo que estiver na jogada. Ele tem sido a salvação da lavoura. Já recebi uma porção de ideias que eu não tinha pensado, mas que vejo como assuntos importantes para acrescentar no meu programa de governo", diz.
Responsável pelas redes sociais da campanha de Plínio, a jornalista Luciana Araújo conta com uma equipe de quatro pessoas para cuidar do site da candidatura e três para a rede de relacionamentos.
"O site e o Twitter são vertentes diferentes, que se equilibram. Um é mais informativo, o outro é interativo. E a interação nos permite avaliar os ânimos da população em relação a todos os candidatos no processo".
Apesar do indefectível jingle que o acompanha há 25 anos, José Maria Eymael ¿ na "4ª posição na pesquisa CNT/Sensus", como informa um dos seus posts no Twitter ¿ também montou uma equipe para cuidar da pré-campanha virtual.
"Não é ele que publica todos os comentários, mas ele acompanha tudo pessoalmente. Estamos investindo muito nesse trabalho na internet, que vai fazer a diferença nessas eleições", diz o jornalista Rubens Pavão, coordenador de comunicação do democrata cristão.
De todos os profissionais entrevistados, Pavão é o único que não acredita que o Twitter (Eymael tem cerca de 990 seguidores) fará diferença neste pleito. A campanha, informa, também não pedirá contribuições financeiras aos internautas.
"Não acreditamos nisso, pelo menos, até o momento. Nos concentramos em aquecer o debate sobre as propostas do Eyamel".
 
Especialista diz que rádio e TV são mídias principais
Embora classifique o pleito deste ano como o "primeiro multimídia dentro de uma sociedade da informação e do conhecimento", o cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acredita que todos os coordenadores de comunicação e marketing vão continuar apostando todas as fichas nas mídias que, segundo avalia, continuam sendo as principais da campanha: o rádio e a TV.
"A internet se popularizou no Brasil. Hoje é acessada por diferentes classes sociais, da chamada classe A até a E. Entretanto, eu acredito que todas as campanhas não estão descuidando do principal, que é a TV e o rádio. Quanto aos sites e aos programas de relacionamento, acho que eles têm importância, sim, mas não os vejo como consolidadores de opinião".
Ao apontar a influência da campanha americana do democrata Barack Obama nas iniciativas dos pré-candidatos brasileiros, Baía diz identificar alguns equívocos nas apostas das equipes de comunicação: "As pessoas falam na estratégia do Obama, mas é um equívoco. Nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório. O mérito da campanha do presidente americano foi ampliar os colégios eleitorais, ou seja, convencer os eleitores a votar".
Seguidor de todos os pré-candidatos no Twitter e nas demais redes de relacionamentos, além dos sites de cada concorrente, Paulo Baía está convencido de que a internet já impôs mudanças no relacionamento dos pré-candidatos com os eleitores, contudo, ele avalia que ainda é difícil apontar a influência que ela terá sobre o internauta.
"Nesta eleição, os três candidatos mais bem apontados nas pesquisas (Dilma, Serra e Marina) não apresentam focos oposicionistas. É a campanha do pós-Lula, os três dizem que vão continuar o que o Lula fez e aprofundar as ações, principalmente na área econômica e social. A internet está representando um avanço na democracia brasileira, porque permite o que o rádio e a TV não permite: a interação. Mas não sei como ela vai marcar a diferença".
Discurso comum
Os coordenadores das redes de relacionamento das três candidaturas mais bem colocadas nas pesquisas eleitorais têm estilos diferentes, mas um discurso em comum: a meta é fazer com que a internet divulgue o conteúdo das propostas dos candidatos, fomente debates, e ajude a levar informações sobre o desdobramento da campanha para o maior número possível de pessoas. Apesar do consenso, as iniciativas carregam estilos diferentes.
Cabeludo, hiperativamente falante, e compulsivamente "twittador", Marcelo Branco, coordenador das redes de relacionamento da pré-campanha de Dilma Rousseff, não se afasta da internet. Se apresenta como um ativista autodidata no universo www, e faz questão de ressaltar que seu trabalho junto à petista é apresentar as mais diferentes possibilidades que a rede mundial de computadores oferece:
"Quando a Dilma se desincompatibilizou do cargo de ministra-chefe da Casa Civil, ela me chamou na casa dela para me mostrar a conta que tinha aberto no Twitter. Eu a adicionei e soltei, no meu Twitter, que ela estava na rede. Em meia hora, ela já tinha 1.700 seguidores; em uma hora, 3 mil. Um mês depois, mais de 60 mil. Nada disso foi lançado por meio de release, coletiva de imprensa, nada. A repercussão foi tanta que bateu os tópicos dos assuntos mais comentados no microblog", orgulha-se.
Branco assegura que não intervém no conteúdo das mensagens postadas por Dilma, nem no que integra os sites oficiais da pré-campanha. O que faz, garante, é traçar as ações de estratégia. "A equipe conta com profissionais de marketing e comunicação para tratar dos conteúdos", diz.
"Sou um ativista digital, não carrego nenhum manual do marketing na rede, sou anti-convencional. Quando me escolheram, sabiam que não poderiam esperar de mim o marketing convencional. Mas o que a gente produziu no Brasil mostra a forma inovadora de fazer divulgação, e que o marketing de propostas políticas tem que ser feito da forma como a gente está fazendo".
Convencido do sucesso de Dilma na internet, Branco faz troça com a atuação do principal adversário da petista na rede: "Qual a presença (da pré-campanha) do Serra na internet? É zero! Além do Twitter do Serra, que já existia (antes da pré-campanha), não tem mais nada. A não ser domínios como o site Gente que mente e outras coisas para depreciar a campanha da Dilma. Mas até agora, a presença do nosso principal adversário não existe. E eu acredito que, por termos ousado, conseguimos ajudar no crescimento da nossa pré-candidata".
"Quase careca", com diz, de fala pausada, autor de singelos quatro posts em sua página no Twitter (que não tem foto) e convencido de que o "mais importante na estratégia de campanha é ter um bom candidato", Sérgio Caruso, coordenador da área de relacionamentos sociais da pré-campanha de José Serra, faz questão de marcar as diferenças que os separam do seu adversário profissional:
"Eu twitto muito pouco, na verdade, o meu Twitter não tem importância nenhuma. Não sou personagem da campanha, não tenho cabelo comprido, sou quase careca. Essa campanha é do Serra. (...) Não acho que a internet seja uma máquina eleitoral, acredito que ela tem o papel de ajudar as conversas, a formar opinião, a divulgar conteúdo. Mas ela não leva 5 milhões de votos. Ajuda na exposição do candidato, e o Serra está indo bem".
Enquanto isso, Nilson de Oliveira, à frente das redes sociais de Marina Silva, apresenta, em estilo sucinto, a estratégia da pré-campanha verde:
"As redes sociais terão o papel que têm na própria internet, de locais de discussão e de conhecimento da futura candidata. (...) O critério (de escolha das redes) será o de audiência e relevância" sintetiza, em quatro linhas de e-mail.

Fonte: JB Online

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