
O Brasil, à exceção do período ditatorial, sempre adotou uma postura não apenas claramente contrária à proliferação das armas nucleares, como a favor da desnuclearização e do desarmamento e da solução pacífica e negociada das controvérsias e conflitos internacionais, como obriga a Constituição.
Além disso, repudiamos o terrorismo e o racismo e proclamamos a
prevalência dos direitos humanos.
A ditadura teocrática iraniana - que tem usado a prisão,
a tortura e o assassinato de opositores como prática comum -
desenvolve, desde algum tempo, uma declarada política
armamentista.
Não só nega a existência do Holocausto como
proclama objetivos belicistas e o desejo de destruir o Estado de
Israel.
Nesse quadro é que vem acelerando esforços para
enriquecer urânio, indispensável à
construção de armas nucleares, sob suspeitas da comunidade
internacional, até porque se recusa a aceitar
inspeções da AIEA.
Não é sem motivos que o Conselho de Segurança da
ONU, a pedido dos EUA, pressiona seus dirigentes a abrirem suas
instalações nucleares ao escrutínio da AIEA.
Por este acordo, chancelado pelo Brasil, fica estabelecido que o
Irã enviará 1,2 tonelada de urânio com baixo grau de
enriquecimento (3,5%) para a Turquia em troca de 120 kg de
combustível enriquecido a 20%.
Ato contínuo, entretanto, o atual governo persa já
anunciou que irá continuar o processo de enriquecimento de seu
urânio.
Como se sabe, a tecnologia de enriquecimento de urânio para ser
usado como combustível na produção de energia nuclear
também pode ser usada no enriquecimento de urânio ao
nível mais alto, necessário para a confecção de
armas nucleares.
É esse o ponto que toda a comunidade internacional vê com
preocupação, graças aos atos de
dissimulação do próprio Irã.
Estamos assistindo a um perigoso jogo eleitoreiro de nossa diplomacia,
que poderá ter conseqüências danosas para a imagem do
país.
Por trás desse movimento, teme-se que o país esteja no
mesmo caminho do Irã, buscando criar embaraços para que AIEA
faça seu trabalho de acompanhamento de nossa própria
política nuclear, que recentemente tem adquirido uma preocupante
vertente militarista, com a construção de submarinos movidos
a energia atômica.
Política internacional não é o lugar apropriado
para blefes e espertezas. Cedo ou tarde, qualquer país que adentre
esta seara terá que fazer valer seu poder específico na
defesa de suas propostas.
Temos efetivamente tal poder? E no campo interno, estaremos assistindo
a mais uma patriotada de nossa diplomacia ou o retorno do "Brasil, ame-o ou
deixe-o" entoado pelo Brasil potência dos tempos da ditadura?
Roberto Freire é presidente do PPS - Partido Popular Socialista
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